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Suplementos alimentares: será que você precisa?

Em potes de tamanhos variados e coloridos, os suplementos alimentares trazem promessas que atraem legiões crescentes de usuários: esculpir corpos e músculos em tempo recorde, acelerar a queima de gorduras e melhorar o desempenho na prática de esportes e atividades físicas. Mas o fato é que esses produtos têm grandes doses de marketing, poucas evidências científicas sobre os benefícios e podem, inclusive, oferecer riscos à saúde. Pouco controlados, parte deles sequer informa claramente a composição. Um estudo encomendado pelo Food and Drug Administration (FDA), órgão responsável pelo controle de alimentos e remédios nos Estados Unidos, mostrou que 31% dos suplementos voltados para a performance esportiva estavam contaminados com substâncias proibidas ou consideradas doping.

Em vez dos ganhos prometidos, a pessoa que utiliza esses produtos pode colher efeitos indesejáveis. “Há uma série de intercorrências que pode advir do uso dessas substâncias”, alerta o Dr. Marcelino de Souza Durão Junior, clínico geral e nefrologista. Até ingredientes que, para o leigo, podem parecer inofensivos oferecem riscos. “Alguns suplementos, por exemplo, têm vitamina D, que, em excesso, pode provocar hipercalcemia e insuficiência renal. Já a creatina, outro item popular nas academias, pode levar a quadros inflamatórios e lesões renais. E as bebidas energéticas, que têm estimulantes, podem, quando consumidas em excesso, desencadear taquicardia e quadros de pânico, entre outros”, exemplifica o médico.

Os hormônios anabolizantes – presentes em alguns suplementos e também usados diretamente na forma injetável (há gente que utiliza até produtos veterinários) – são outra fonte de riscos, entre eles lesões nos rins e fígado, problemas tromboembolíticos e redução do HDL, o colesterol bom.

“Além disso, anabolizantes podem estancar o processo de crescimento nos jovens; nas mulheres, podem favorecer a virilização, com aumento de pelos e alteração na voz; e nos homens, o desenvolvimento das mamas, entre outros problemas”, diz o Dr. Benno Ejnisman, médico do esporte e ortopedista. “Por causa do aumento da massa muscular, o uso de anabolizantes pode, ainda, provocar lesões em tendões como os do ombro, bíceps e peitorais. Um estudo realizado na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) apontou que 80% dos casos de lesões desse tipo estavam associadas ao uso de anabolizantes”, acrescenta. Ele lembra que os anabolizantes são substâncias lícitas, administradas sob prescrição médica em casos específicos de pacientes com grande perda de massa muscular. Mas, utilizado com o objetivo de melhorar a performance atlética é considerado doping.

Outros produtos usados para estimular o metabolismo e acelerar a perda de peso são os termogênicos – que contêm estimulantes como anfetamina, febrina ou cafeína em doses muito altas, entre outros. De novo, é risco à vista. “Essas substâncias fazem aumentar a temperatura do corpo (hipertemia), podendo provocar uma lesão muscular chamada rabdomiólise e insuficiência renal aguda”, afirma o Dr. Marcelino. O hormônio do crescimento (GH) também se inclui no rol de promessas.

“Ao aumentar a massa muscular magra, ele contribuiria para melhorar o desempenho atlético, o que não tem qualquer tipo de comprovação. O que está demonstrado, sim, é que o consumo de GH sem que a pessoa tenha algum problema de saúde que o justifique pode desencadear males como diabetes e hipertensão”, destaca o nefrologista. O GH é considerado doping, assim como outro hormônio usado por atletas, a eritropoetina, que aumenta a quantidade de glóbulos vermelhos, favorecendo o transporte de oxigênio e, em consequência, a performance. Mas, ao elevar a concentração de hemoglobina no sangue, elevam-se também os riscos de infarto e derrame, entre outros.

“Às vezes, a pessoa parece acreditar que o corpo é uma máquina e que ela pode monitorar todas as alterações. Acha que pode tomar um suplemento ou hormônio para ganhar massa muscular ou melhorar o desempenho e controlar eventuais efeitos colaterais usando, por exemplo, um diurético para minimizar uma possível sobrecarga no rim”, pondera o Dr. Benno. “Nosso corpo não funciona assim. Esse não é um conceito de promoção da saúde. Mais do que benefícios, isso pode gerar problemas sérios.”, 

Segundo os médicos, apenas atletas profissionais e de alto rendimento, como triatletas e maratonistas, podem necessitar de algum tipo de suplementação, pois nem sempre conseguem repor apenas com alimentação os gastos do organismo em atividades que consomem até mais de 8 mil calorias. Ainda assim, a suplementação deve ser feita sob orientação profissional.

A maioria das pessoas que pratica atividades físicas e os atletas recreacionais não precisam desses produtos. A receita é bem mais equilibrada: alimentação balanceada, fracionada ao longo do dia, e boa hidratação são suficientes para assegurar as necessidades do organismo. Com bom senso e orientação multidisciplinar – médico, educador físico, nutricionista – para é possível explorar só o lado positivo da prática de esportes e atividades físicas, sem abusar dos limites do organismo e sem correr riscos desnecessários.????????

Fonte: Valor Econômico
Enviada por JC

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