A expectativa se confirmou e a Grécia não pagou a dívida de € 1,6 bilhão com o Fundo Monetário Internacional (FMI) vencida nesta terça-feira (30), transformando-se no primeiro país desenvolvido a dar um calote no fundo, passando a fazer parte do grupo de Estados falidos — que inclui Sudão, Somália e Zimbábue.. Um plebiscito marcado para o domingo —depois do fim do prazo para pagar o FMI— decidirá se a Grécia concorda com as condições dos credores para que a verba que permitiria o pagamento seja liberada.
A Grécia enviou carta aos credores afirmando que o país aceita a proposta da Comissão Europeia feita no fim de semana se várias condições forem modificadas, incluindo a manutenção do imposto 30% menor em ilhas gregas e o adiamento de algumas reformas do sistema previdenciário por alguns meses e cortes de gastos militares.
O documento, assinado por Alexis Tsipras, premier grego, oferece o acordo em troca de uma extensão do programa de resgate do país e novos empréstimos de resgate. Atenas quer € 29 bilhões para cobrir todas as parcelas de dívida a pagar nos próximos dois anos. O premier pediu aos credores que as reformas de previdência e do mercado de trabalho sejam graduais, bem como a adoção de corte menor aos gastos militares neste ano, entre outras mudanças.
A chanceler alemã, Angela Merkel, porém, reiterou nesta quarta-feira que a porta está aberta a negociações, mas que não há possibilidade de conversações antes do referendo.
Leia abaixo oito pontos para entender a crise:
1 - Qual a razão da atual crise?
A Grécia precisaria pagar € 1,6 bilhão para FMI até o dia 30 de junho (1h de quarta-feira, no horário de Brasília), mas deu calote na instituição.
Agora, o país continua tentando desbloquear € 7,2 bilhões, última parcela do empréstimo dado por € 240 bilhões de FMI e Banco Central Europeu (BCE).
Os gregos também terão que pagar € 6,7 bilhões ao BCE em julho e agosto.
2 - Por que os credores não liberam a verba?
Porque antes querem que o governo grego se comprometa a:
- Cortar em gastos com Previdência.
- Aumentar impostos, como na eletricidade.
- Garantir economia nas contas públicas (superavit) de 1% do PIB em 2015, 2% em 2016 e 3,5% até 2018.
3 - Qual o tamanho do endividamento grego?
Atualmente, a Grécia tem uma dívida de 177% do PIB —a dívida pública da zona do euro chega, no total, a 91,9% do PIB.
4 - Qual o tamanho da crise?
A taxa de desemprego chega hoje na Grécia a 25%.
A economia apresenta alguma reação à crise, com crescimento de 0,8% em 2014. Mesmo assim, a demanda é tão fraca que a queda nos preços no país foi de 1,4% em 12 meses terminados em maio deste ano.
5 - Qual o impacto até agora da perspectiva de calote?
Com o aumento do temor de uma corrida aos bancos que secaria as reservas monetárias do país, o governo fechou os bancos até o dia 6 de julho.
Saques em caixas automáticos continuam funcionando, mas com restrições para o saque de até € 60 por dia.
Os bancos serão abertos nesta quarta-feira (1) para os aposentados — muitos deles não têm acesso a caixas automáticos.
6 - O que acontece se não houver acordo?
O país pode sair da zona do euro, reduzindo a confiança na união monetária do continente.
O BCE limitaria o acesso dos gregos ao programa de socorro aos bancos, que ainda garante alguma liquidez (disponibilidade de dinheiro) ao sistema.
Sem um acordo, e sob risco de uma corrida aos bancos, o sistema financeiro grego poderia começar a entrar em colapso.
O governo pode ter dificuldades para pagar salários de servidores e benefícios previdenciários e poderia ser obrigado a abandonar o euro, criando uma nova moeda mais desvalorizada em relação à atual.
7 - Criar uma nova moeda resolveria a crise econômica da Grécia?
Em tese, sim, mas há o risco de um aumento desenfreado de preços, desabastecimento, incentivo ao mercado negro e empobrecimento do país.
O país seria forçado a sair do bloco econômico —e, segundo alguns analistas, até mesmo da União Europeia.
8 - O que fica para trás caso a Grécia deixe a zona do euro?
Fica para trás o bloco monetário construído ao redor do euro como moeda comum, criado em 1999.
Ele é controlado pelo Banco Central Europeu, e conta com 19 países membros, com 337 milhões de habitantes —11 milhões deles, gregos.
Fonte: Folha de S. Paulo