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Mocambos e Quilombos: uma hitória do campesinato negro no Brasil

Hoje, presentes por todo o Brasil, vemos surgir comunidades negras rurais e remanescentes de quilombos. Elas são a continuidade de um processo mais longo da história da escravidão e das primeiras décadas da pós-emancipação. Não se trata de um passado imóvel, como aquilo que sobrou de um passado remoto. As comunidades de fugitivos da escravidão produziram histórias complexas de ocupação agrária, criação de territórios, cultura material e imaterial próprias baseadas no parentesco e no uso e manejo coletivo da terra. O desenvolvimento das comunidades negras contemporâneas é bastante complexo, com seus processos de identidade e luta por cidadania. A história dos quilombos ? e seus desdobramentos ? do passado e do presente é o tema deste livro.

Em várias partes das Américas, libertos, escravos e principalmente fugitivos desenvolveram micro-sociedades camponesas, com roças e extrativismo, em diversas estruturas. Nesta espécie de campesinato negro, sempre houve articulação entre os quilombos e os setores sociais envolventes, o que incluiu a miscigenação com grupos indígenas. Em função do não-isolamento e ao mesmo tempo da estratégia de migração, muitos quilombos sequer foram identificados e reprimidos por fazendeiros e autoridades durante a escravidão. 

Outros foram reconhecidos como vilas de roceiros negros, efetuando trocas mercantis e interagindo com a economia local. Destaca-se ainda a formação de comunidades de senzalas — com cativos e libertos de um mesmo proprietário, ou de um conjunto de proprietários, organizadas por grupos de trabalho, famílias, compadrio e base religiosa. Em comum, estas inúmeras comunidades compartilhavam a identidade étnica e as noções de territórios na sua base econômica agrária.

Essas diferentes tipologias são necessárias para entender a complexidade das formações quilombolas em várias épocas e contextos. Os quilombos que procuravam constituir micro-sociedades camponesas integradas à economia local coexistiram com aqueles caracterizados pelo protesto reivindicatório, com ocupação de terras e invasões de fazendas, e com pequenos grupos de quilombolas em migração permanente.

Aqueles mais estáveis – como Palmares no século XVII, os quilombos de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso no século XVIII, e vários outros na Bahia, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Maranhão e Pará no século XIX — apesar das expedições reescravizadoras tinham se reproduzido ao longo do tempo, possuindo uma economia estável. Já os pequenos grupos de quilombolas itinerantes não tinham acampamentos fixos e suas economias se carecterizavam, de maneira geral, por um caráter extrativo e predatório. Desapareciam e reapareciam de forma contínua.

Também surgiriam – principalmente no último quarto do século XIX — aquilombamentos constituídos por escravos de uma mesma fazenda, refugiados no interior das terras do próprio senhor. Em protestos – que podiam durar alguns meses ou mesmo anos – reivindicavam mais autonomia e não raras vezes aceitavam voltar à situação de cativos, com a condição de verem suas exigências atendidas. Existiam também lavradores espertalhões, que se aproveitavam da mão-de-obra de cativos refugiados. 

O que está em xeque é a polarização entre os conceitos de quilombo, idealizado como local de rebeldia, e senzala, suposto espaço de irremediável acomodação. Um episódio ocorrido em 1882, no município de Paraíba do Sul, no Vale do Paraíba Fluminense, ajuda a questionar tal oposição. Os escravos da fazenda Três Barras estavam trabalhando “tranqüilamente” na lavoura, quando reagiram contra uma diligência que retornava de um ataque a um quilombo próximo, libertando o “chefe do quilombo” que ia preso e tentando justiçar um “preto capataz”, responsabilizando-o pela denúncia e prisão de alguns quilombolas.

Cada vez mais evidente, a diversidade na formação desses grupos negros torna imprescindível uma ampliação da definição de quilombo. É o que vêm fazendo pesquisadores que investigam experiências de quilombos e mocambos nos séculos XVII, XVIII e XIX, e realizam etnografias, laudos e levantamentos antropológicos. Graças a esta revisão, faz-se enfim possível o reconhecimento da origem histórica e identitária de comunidades, povoados e bairros negros rurais (alguns limítrofes a áreas urbanas), como remanescentes de quilombos. Um processo que ainda tem muito o que avançar.

O autor Flávio  Gomes é professor de história da UFRJ e autor também dos livros HISTORIAS DE QUILOMBOLAS: MOCAMBOS E COMUNIDADES DE SENZALAS NO RIO DE JANEIRO, SECULO XIX

Flavio dos Santos Gomes e ZUMBI DOS PALMARES: HISTORIAS, SIMBOLOS E MEMORIA SOCIAL

MOCAMBOS E QUILOMBOS: UMA HISTORIA DO CAMPESINATO NEGRO NO BRASIL

autor: Flavio dos Santos Gomes
editora: Claro Enigma
encadernação: Brochura
páginas: 232
coleção: AGENDA BRASILEIRA
ano de edição: 2015
edição: 1ª

Onde encontrar:
Livraria Nova Aliança
Rua Olavo Bilac, 1258 - Centro, Teresina - PI,
(86) 3221-6793 
livrarianovaalianca@hotmail.com

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