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Por que é tão difícil parar de comer e emagrecer?

Chega uma hora em que a pessoa gorda, desiludida, desiste. "Terrivelmente reincidente", nas palavras da psicóloga especialista em transtornos alimentares Elisabeth Wajnryt, ela já nem encontra mais lugar nos consultórios. "Já sabe tudo que vai ser dito e sabe que nada terá um resultado efetivo." A pergunta é esta: por que gente instruída, muitas vezes bem-sucedida no trabalho ou na vida social, não consegue justamente o que mais quer: parar de comer e emagrecer? A resposta, defende a especialista em um novo livro, passa pela dificuldade de evitar a autossabotagem.

É constrangedor não conseguir vencer as próprias vontades, e tendemos a olhar para essas pessoas e ver falta de vontade ou mesmo vergonha na cara, escreve Elisabeth em "E foram magros e felizes para sempre?" (editora Matrix).

Mas o autoengano é poderoso. Tanto que não atrai a atenção só de especialistas em alimentação, mas de economistas, como Eduardo Giannetti, que escreveu um livro sobre o tema, ou biólogos, como o americano Robert Trivers, para quem humanos evoluíram para acreditar em mentiras que façam com que se sintam melhor e justifiquem suas atitudes.

"O compulsivo come 'roubando', justificando-se com um intrincado sistema de compensações", diz a autora. Você conhece a história: "já que é o meu último pedaço", "já que hoje já saí da dieta", "já que o dia foi cansativo", "já que estou de TPM"...

O curioso é que tudo serve como compensação. Posso comer tanto porque hoje fui na academia, então estou com crédito, quanto porque não fui, então já perdi a chance mesmo e que se dane.

Ou pior: posso comer jogando a conta para o futuro. "Depois compenso correndo", "depois como menos no jantar".

O argumento da psicanalista é que se deve comer só por fome. O caminho mais rápido para engordar é comer por tédio, raiva, depressão, ansiedade. É o que a autora chama de "pensamentos gordos".

O guloso se parece com o fumante: já que não há nada para fazer, ou já que estou ansioso, preciso comer/fumar.

A autora tenta apontar modos de efetuar algumas mudanças de comportamento.

SACIEDADE, E NADA MAIS

Primeiro, esqueça dietas, especialmente as milagrosas –da proteína, da sopa, da Dilma, o que for. "Em geral, só acabam engordando no longo prazo", diz Elisabeth –é o efeito sanfona. Sem lidar com o autoengano, a vida será uma grande alternância de privação e abuso de comida.

Um conselho parte da ideia de só comer se tiver fome. Não fique refém da família, filhos, colegas. Não é porque todos estão comendo que você também vai. Tome seu tempo –"e não tenha medo de acabar comendo sozinho".

É preciso se policiar contra a sabotagem. Comer um mamãozinho porque, afinal, é bom para o intestino? "Se o organismo não está pedindo comida, nada no mundo justifica comer", diz Elisabeth. Uma vez decidido a se alimentar, o truque é criar um mecanismo mental que estabeleça o tamanho da fome. Pode ser uma escala de zero a dez –e não vale roubar, dez é coisa de quem está fugindo de guerra civil. Se a fome é três, não pegue mais comida do que isso.

Comer rápido é um convite a ir além da saciedade, já que o organismo demora um pouco para indicar que a comida ingerida já é suficiente.

Elisabeth sabe que o ritmo com que comemos é um hábito –não é fácil mudar. Uma possibilidade é se policiar para sempre largar o garfo após colocar a comida na boca, tentando desacelerar a refeição.

Sabendo de tudo isso, escreve Elisabeth, não deixe para amanhã. Você vai acabar "comendo por despedida". Mudança com vacatio legis, ou seja, prazo para entrar em vigor, é mudança que já começa com sabotagem.

E FORAM MAGROS E FELIZES PARA SEMPRE?
AUTORA Elisabeth Wajnryt
EDITORA Matrix
PREÇO R$ 39,90 (222 págs.) 

Matéria completa em Folha

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