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O caminho para viver mais

Maria José de Paoli é uma malhadora convicta. Vai no mínimo três vezes por semana a uma academia perto de sua casa, e passa, em média, duas horas entre a sala de musculação, a piscina e a bicicleta ergométrica. Nem todo o tempo, ela confessa, é gasto em exercícios. Há os momentos de bate-papo com os amigos. “Venho não só para me exercitar, mas também para me distrair. Academia não tem gente triste, só gente bonita e feliz. Isso alegra a minha vida”, diz Maria José, de 89 anos, que há duas décadas mantém uma rotina de exercícios. A veterana de malhação, assim como outros adeptos desse tipo de rotina, já sabe o “porquê” – praticar atividade física regularmente serve para tornar a vida mais longa e agradável. Agora, dois estudos coordenados por pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos dimensionaram “quanto”. Eles revelam em que medida exercícios podem aumentar a expectativa de vida e nos tornar mais saudáveis.

Os efeitos ocorrem mesmo com práticas em doses mínimas, como 15 minutos diários de caminhada em ritmo leve. Durante 14 anos, a prática de atividades físicas de 630 mil homens e mulheres com mais de 40 anos foi acompanhada por especialistas. Aqueles que se exercitavam, mesmo se abaixo do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), aumentavam sua expectativa de vida em 1,8 ano na comparação com os totalmente sedentários. Os mais dedicados, que conseguiam praticar pouco mais de uma hora de atividades físicas diariamente, ganharam mais 4,5 anos em suas vidas. Para aqueles com mais de 65 anos, segundo a OMS, a prática constante de atividades físicas traz um adicional: a redução do declínio das faculdades mentais.

A OMS aconselha que se gastem no mínimo 150 minutos em atividades físicas de intensidade moderada ou 75 minutos de atividade intensa a cada semana – nada que exija muito esforço, mesmo dos mais preguiçosos. “O resultado pode convencer pessoas inativas que até atividades físicas modestas trazem benefícios à saúde, mesmo que não resultem em perda de peso”, afirmam os pesquisadores da Divisão de Epidemiologia e Genética do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, responsáveis pelo trabalho.

Apesar dos benefícios, o exercício não faz parte da vida da maioria dos brasileiros idosos, uma população que, na estimativa do IBGE, dobrará nos próximos 20 anos, saltando de 24 milhões (12% da população) para 47 milhões (21%). Apenas 22% dos brasileiros com mais de 65 anos praticam a quantidade ideal de exercícios por semana, de acordo com uma pesquisa do Ministério da Saúde.

A ciência explica os benefícios que pessoas colhem na prática. Exercícios ajudam a aumentar a expectativa de vida porque, entre outros efeitos, protegem contra doenças cardíacas. Já a inatividade aumenta o risco de morte por doenças crônicas não transmissíveis, como as cardiovasculares, o câncer, os transtornos respiratórios e o diabetes.

A OMS estima que 38 milhões de pessoas morram anualmente de problemas crônicos, 42% delas antes dos 70 anos. A relação entre a prática insuficiente de atividade física e o surgimento de doenças crônicas graves tem levado profissionais de saúde a pensar o exercício como uma espécie de remédio. “Se bem dosadas, atividades físicas não trazem nenhum efeito colateral, só benefício”, afirma o educador físico Luiz Fernando Kruel, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A dosagem deve ser calculada de acordo com o histórico de saúde e de prática de atividade física de cada pessoa. “Mesmo quem já tem algum tipo de enfermidade como diabetes, problemas cardíacos e dislipidemia (colesterol ou triglicerídeos elevados) pode e deve praticar exercícios como parte do tratamento”, diz.

A compreensão do exercício como meio para melhorar a vida de qualquer indivíduo, mesmo doente ou idoso, é relativamente recente. Patrícia Brum, especialista em fisiologia do exercício da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, diz que até o início dos anos 1980 afirmava-se que portadores de problemas cardíacos não deveriam fazer atividade física, para evitar a sobrecarga do coração. “Hoje, sabemos que a prática de exercícios físicos fortalece o músculo cardíaco e diminui a quantidade de substâncias tóxicas despejadas no organismo pelo bombeamento exagerado, típico de quem tem essa condição.”

A introdução de exercícios na rotina pode ser feita com a mudança de hábitos do dia a dia. Subir escadas em vez de pegar o elevador, evitar usar o carro em trajetos curtos, caminhar até o ponto para pegar o transporte público, passar mais tempo livre em parques e praças são iniciativas que fazem diferença. A meta inicial deve ser alcançar, por semana, os 150 minutos de exercícios moderados, como caminhadas. O aumento de duração e intensidade deve ser feito de maneira espaçada e com acompanhamento do médico e do profissional de educação física.

Para que a prática de exercícios seja também fonte de prazer, não só uma obrigação, recomenda-se levar em conta critérios de afinidade. “Precisamos mostrar que a atividade física pode ser prazerosa”, diz Sebastião Gobbi, professor da Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de São Paulo em Rio Claro e coordenador por mais de 20 anos do Núcleo de Atividade Física para a Terceira Idade da universidade. O contato social ajuda a fazer da prática um hábito. “A pessoa até chega (ao exercício) por indicação médica, mas fica mesmo em função dos amigos que faz nas aulas”, afirma Gobbi. Como diz Maria José, exercícios não servem só para prolongar a vida. Servem também para alegrar. 

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Matéria completa em http://epoca.globo.com/vida/noticia/2015/09/o-caminho-para-viver-mais.html

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