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Saiba como usar os aplicativos de saúde com segurança

Eles já valiam mais de US$ 2,4 bilhões em 2013 e podem alcançar a cifra de US$ 26 bilhões até o final de 2017, segundo estudo da consultoria para mercado mobileResearch 2 Guidance. De acordo com a mesma fonte, eles somam mais de 100 mil opções para sistemas iOS e Android. Os aplicativos focados em saúde e bem-estar são um sucesso de público. Pudera: essas ferramentas oferecem desde aulas de ginástica para todos os gostos até dietas que prometem perda de peso ou mesmo ganho de massa muscular, tudo a um clique. De acordo com as estatísticas do Google Play, o segmento foi o que teve o crescimento mais rápido ao longo de 2014. O dado também é uma realidade para usuários do sistema operacional iOS: levantamento realizado pela Flurry Analytics, empresa de anúncios mobile e métricas do Yahoo!, indica que o segmento cresceu 62% no primeiro semestre de 2014 — as outras categorias de apps subiram 33%.

Ainda segundo a Flurry Analytics, três hipóteses podem explicar esse crescimento: as ferramentas oferecidas podem substituir uma série de dispositivos de monitoramento e rastreamento, a integração dos apps com as redes sociais — que facilita o compartilhamento de atividades, metas e até promoção de competições entre amigos —, e o aumento de pessoas que se enquadram no perfil chamado "fitness fanatics", os "fanáticos por boa forma", em tradução livre.

Apesar do sucesso, o uso dos aplicativos é visto com cautela por especialistas. A tecnologia nunca deve substituir um profissional qualificado — o que nem sempre é levado em conta pelos usuários. Entre os 10 apps gratuitos mais baixados no sistema operacional Android, há três que prescrevem treinos ou dietas. Na App Store, o ranking dos 10 aplicativos mais procurados tem quatro com essa proposta.

Que eles vieram para ficar, isso ninguém discute. O debate, no entanto, vai muito além do aumento na oferta de aplicativos para mexer o corpo ou emagrecer. O que está em jogo é a segurança do conteúdo que eles oferecem. Para disponibilizar um aplicativo no Google Play, por exemplo, é preciso respeitar as políticas da empresa (como não ter conteúdo pornográfico ou violento) e obedecer a critérios de faixa etária e de qualidade. Mas a responsabilidade do conteúdo é exclusiva do desenvolvedor. Ou seja, não há um monitoramento que verifique se o que está sendo oferecido pode causar prejuízos à saúde.

É preciso, portanto, cuidado redobrado na hora de utilizar um app e não esperar dele muito mais do que um complemento ao trabalho do especialista.

— Somos favoráveis à tecnologia, desde que usada com bom senso. Como acessório para calcular queima de calorias ou mapear percursos, por exemplo, é muito bem-vindo. O que eles não podem é substituir os profissionais. Não há receita de bolo para condicionamento físico, existe, sim, individualidade biológica — argumenta a presidente do Conselho Regional de Educação Física do Rio Grande do Sul, Carmen Masson. Para ela, o mau uso dessas ferramentas sinalizam, inclusive, um problema de saúde pública.


Mais motivação para correr

Um dos formatos mais populares de aplicativos para atividades físicas é o de corrida. Eles capturam rotas, distâncias, ritmo e oferecem gráficos para análise de evolução, auxiliando no treinamento. Entretanto, há diversos apps destinados a colocar os usuários a correr efetivamente, que devem ser evitados.

— O treinamento deve ser montado por um profissional que avaliou o aluno previamente e sabe das suas limitações e metas. Quando a ferramenta começa a prescrever treinos pré-prontos, o perigo de lesões e o risco de não alcançar seu objetivo crescem muito, principalmente entre os iniciantes — alerta o profissional de Educação Física Márcio de Avila Palermo.

A servidora pública Lizziê Padilha, 26 anos, utiliza um aplicativo de corrida para melhorar seu desempenho desde 2014. Com a ferramenta, ela pode avaliar o rendimento dos treinamentos passados pelo técnico. Por meio de um comando de voz, o app indica a distância percorrida, o tempo e o ritmo realizados — tanto na rua quanto na esteira. Além disso, o app tem um aspecto motivacional importante, estimulando o usuário a não abandonar a prática. — Uma das coisas que eu mais gosto é o ranking do aplicativo. Todo mês, posso competir com meus amigos para ver quem corre mais e isso me motiva a deixar a preguiça de lado.

Calorias na tela

Os aplicativos direcionados para dietas e controle da alimentação também estão entre os queridinhos dos usuários. Muitos deles têm recursos para registrar os alimentos ingeridos em cada refeição, realizar contagem de calorias e até oferecer dicas nutricionais. O que preocupa os profissionais da área são aqueles que indicam dietas.

— Existem aqueles que dão alerta da hora para tomar água, que registram a alimentação ou dão dicas genéricas. Estes são bem-vindos. Nossa preocupação é quando ganham algum cunho prescritivo, dizendo a quantidade e o tipo de alimento a ser ingerido. Isso pode ser perigoso, pois o aplicativo não avalia para quem está dizendo isso — diz a vice-presidente do Conselho Regional de Nutricionistas, Carmem Franco.

Assim como nos apps de atividades físicas, o que gera o debate é a questão das individualidades, que não são respeitadas por essas ferramentas. — Cada um tem seu perfil. Se não houver o lado humano, com os conhecimentos dos profissionais, não há como ter sucesso a longo prazo — ressalta o presidente da Associação Brasileira de Nutrologia, Durval Ribas Filho.

Para o endocrinologista Fernando Gerchman, a falta de clareza quanto à origem dos cálculos que muitos desses aplicativos oferecem é fator de alerta. — Existe a dúvida do grau de seriedade e de como se baseiam para fazer sugestões — avalia Gerchman, relembrando que algumas dessas ferramentas não têm embasamento científico.

Receitar uma dieta sem saber quem está do outro lado da tela, além de perigoso, colabora para que objetivos específicos como perda de gordura, definição muscular ou aumento de massa magra não sejam atingidos. É de olho em cada um desses detalhes que a nutricionista Danielle Milhão utiliza alguns aplicativos no trabalho com seus pacientes. Segundo elas, as indicações são bem-vindas para quem segue uma dieta baseada na contagem de macronutrientes — carboidratos, proteínas e gorduras.

— A maioria das dietas que prescrevo é por meio da metodologia tradicional, com opções de alimentos e suas respectivas quantidades. Mas, em alguns casos, os aplicativos que contabilizam o que é ingerido podem ajudar no planejamento. Eles servem como uma calculadora — explica Danielle.


NÃO CAIA EM CILADAS

- O mais importante é que a ferramenta não substitua o profissional
- Evite apps que oferecem dietas ou treinos prontos
- Prefira usar aqueles que contem calorias, registrem a alimentação e ajudem a monitorar exercícios como a corrida, por exemplo
- Converse com o professor de educação física, nutricionista ou médico para ver qual app você pode usar
- Peça instruções aos profissionais de como fazer melhor uso das ferramentas

Notícia completa em Zero Hora

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