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Zika pode causar acúmulo de líquido no corpo, diz estudo

A mãe, de 20 anos, não teve sintomas de zika ou de qualquer outra infecção durante a gravidez. Tudo parecia bem até a 18º semana de gestação, quando o feto começou a perder peso. Perto da 30º semana, exames de ultrassom mostraram que o bebê tinha microcefalia e hidranencefalia, condição em que os hemisférios cerebrais desaparecem, e o local é preenchido por líquido. Também apresentava hidropsia, que se caracteriza por acúmulo de líquido e inchaço sob a pele e as membranas que envolvem o abdome, o pulmão e o coração.  O bebê nasceu morto na 32º semana de gestação. A autópsia revelou o vírus da zika no cérebro, na medula espinhal e no líquido amniótico.

O caso, que reforça a ligação da zika à outras alterações fora do sistema nervoso central, foi relatado em artigo publicado nesta quinta (25) no periódico científico "PLOS Neglected Tropical Diseases". O trabalho foi feito por pesquisadores brasileiros e americanos.

"Esse caso alerta para um problema que ainda não tinha sido relacionado ao zika, a hidropsia. Falamos agora em síndrome da zika congênita, não só microcefalia", diz o obstetra Manoel Sarno, especialista em medicina fetal e um dos autores do trabalho. 

Albert Ko, professor de saúde pública da Universidade de Yale e líder do estudo, pondera que mais pesquisas são necessárias para entender se a hidropsia foi um achado isolado ou se o vírus da zika pode mesmo causar essa condição. Ao menos três estudos brasileiros publicados nas últimas semanas já apontaram que, além da microcefalia, o vírus também está associado à artrogripose, má-formação das articulações, e a graves problemas oculares. 

O caso descrito no novo estudo foi acompanhado no Hospital Geral Roberto Santos, de Salvador, onde mais de cem crianças com microcefalia são monitoradas desde outubro. Segundo o médico Antonio Raimundo de Almeida, também autor do artigo, outro ponto que chamou atenção foi a ausência de sintomas da mãe.

"Ela não teve `rash' [manchas avermelhadas pelo corpo], não teve febre, ou seja, teve uma gravidez normal até a 14º semana, sem nenhuma alteração. Quando a gestação fica mais avançada, surgiram essas alterações cerebrais muito graves, que levaram ao aborto." Durante o pré-natal, a gestante já havia feito exames para hepatite, HIV, toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus –todos negativos.

Para Almeida, o caso reforça a importância de se rastrear com mais cuidado todas as gestantes que moram em regiões epidêmicas para zika independentemente se tiveram ou não sintomas da infecção durante a gravidez. O médico afirma que a microcefalia hoje é só "a ponta do iceberg" quando se trata dos efeitos da infecção por zika.

Matéria completa em Folha de S. Paulo

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