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Homicídios crescem no interior e no Nordeste; país é campeão mundial

O Brasil é o país com maior número de homicídios no mundo e a violência tem crescido nas cidades do interior e no Nordeste - locais em que a economia vinha apresentando ganhos mais significativos antes da crise. O diagnóstico foi feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) na pesquisa Atlas da Violência, divulgada ontem em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O país registrou o recorde de 59.627 homicídios em 2014, com taxa de 29,1 mortes por 100 mil habitantes, uma das maiores do mundo. Em 2013, foram 57.396 homicídios e taxa de 28,3 por 100 mil. Para Daniel Cerqueira, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea, o resultado se deve à expressiva população jovem do país aliada ao crescimento do tráfico de drogas e a falhas na política de segurança pública.

O Ipea usou dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde; das polícias e do Banco Mundial. Os assassinatos de 2014 no país representam 10% do total mundial e colocam o Brasil como país com maior número absoluto desse tipo de crime. Já a taxa de 29,1 por cem mil habitantes significa o 12º lugar entre 154 países, segundo o Banco Mundial, com dados até ao menos 2012. Segundo Cerqueira, estatísticas mostram que o jovem é mais suscetível a se envolver com o crime. Pesquisas mostram que a criminalidade atinge o auge na faixa entre 19 e 20 anos de idade.

Segundo ele, os números também são influenciados pela expansão do uso e tráfico de drogas entre 2004 e 2014. Embora o Ipea não tenha dados específicos sobre o assunto, o pesquisador notou que, historicamente, países que apresentaram aumento de renda expressivo, caso do Brasil no período, apuraram maior presença desse tipo de crime. A violência, afirma, é gerada pela disputa de mercado entre traficantes.

O pesquisador ressaltou que a preferência pelo uso de força em ações de segurança pública é um dos fatores que mais contribuem para o aumento na taxa. Ele defende estratégias de inteligência policial como mais eficazes para frear o avanço dos homicídios. Esse modelo deu certo, diz Cerqueira, em Pernambuco, onde a taxa de homicídios caiu de 49,2 para 35,7 por 100 mil entre 2004 e 2014, recuo de 27,3%. Foi o único estado do Nordeste a reduzir a taxa no período. No Espírito Santo houve queda de 48 para 41,4, retração de 13,8% no período. Os dois Estados adotaram estratégias de segurança com foco na prevenção da violência, diz o pesquisador. "A polícia mata muito", afirmou. "Este modelo tem que ser reformado, para introduzir uma polícia mais inteligente."

Apenas 8 das 28 unidades da federação reduziram as taxas entre 2004 e 2014. Elas dispararam no Rio Grande do Norte e no Maranhão: 308,1% e 209,4%, respectivamente. No Maranhão a taxa subiu de 11,3 para 35,1 por 100 mil. No Rio Grande do Norte, de 11,3 para 46,2.

Rio de Janeiro e São Paulo apresentaram o maior recuo das taxas. No Rio, caiu de 48,1 para 32,1 entre 2004 e 2014 (- 33,3%). Em São Paulo, de 28,2 para 13,4 (-52,4%). O aumento foi maior nas cidades menores. Senhor do Bonfim (BA), com 81 mil habitantes, viu a taxa subir 1.136,9% no período e chegar a 18 assassinatos por 100 mil. Já São Luiz (MA) teve a taxa mais alta: 84,9 por 100 mil.

Houve crescimento da taxa de homicídios entre negros, mulheres e jovens entre 2004 e 2014. Somente entre afrodescendentes cresceu 18,2%, de 31,7 para 37,5 por cem mil habitantes. Entre as mulheres, subiu 11,6%, de 4,2 para 4,6.

A taxa para cada grupo de 100 mil jovens entre 15 e 29 anos subiu de 52,7 para 61 no período - aumento de 15,6%. Com a expansão, a taxa da população mais jovem é o dobro da média nacional. "Temos hoje a maior geração de jovens do país, em torno de 51 milhões, e não estamos oferecendo oportunidades adequadas. É uma geração perdida."

Fonte: Valor
Enviada por JC

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