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Experimental, cirurgia bariátrica feita por Faustão vai bem em teste

Uma técnica experimental de cirurgia bariátrica, à qual o apresentador Faustão se submeteu, em 2009, se mostrou mais eficaz no controle do diabetes do que a cirurgia clássica em um estudo feito no Hospital Sírio-Libanês. O objetivo do teste era ver se a cirurgia - que foi desenvolvida para tratar a doença mas não é aprovada pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) - era válida. Para isso pesquisadores a compararam com outro dois tipos de tratamento: a cirurgia clássica (chamada bypass gástrico) e o tratamento clínico, com medicamentos.

Os pacientes foram divididos aleatoriamente entre os três grupos. A ideia é acompanhá-los por dois anos, mas resultados preliminares de um ano de tratamento, que acabam de ser apresentados no encontro anual da Sociedade Americana de Endocrinologia, em Boston (EUA), já mostram que a técnica experimental se saiu melhor. Todos os voluntários tinham diabetes de difícil controle e IMC (índice de massa corporal) entre 30 e 35. No Brasil, a cirurgia bariátrica só é aprovada para quem tem IMC acima de 35.

"A cirurgia sempre foi focada no emagrecimento de pessoas obesas mórbidas, mas estamos discutindo a cirurgia metabólica para controle de glicemia e de colesterol, entre outros", diz Ana Priscila Soares Soggia, endocrinologista do núcleo de obesidade e transtornos alimentares do hospital e pesquisadora do Instituto Sírio-Libanês de Ensino e Pesquisa.

Segundo Claudia Cozer Kalil, endocrinologista e coordenadora do Núcleo de Obesidade e Transtornos Alimentares do mesmo hospital, nos EUA pacientes com IMC acima de 30 podem fazer cirurgia bariátrica. "A gente queria ver se essa população respondia melhor ou igual ao tratamento cirúrgico para tratamento de diabetes." E, afirma, a cirurgia se mostrou eficaz e segura, pelo menos durante esse tempo de seguimento.

Segundo os resultados parciais, todos os pacientes submetidos à técnica experimental, chamada gastrectomia com transposição ileal, alcançaram um controle glicêmico adequado um ano após a operação, contra 46% do grupo da cirurgia clássica.

Além disso, 75% dos pacientes do grupo da cirurgia experimental tiveram remissão total da doença, contra 30% no caso do bypass. Não é possível falar em cura da doença, mas a remissão significa quase isso. Ela é atestada por meio da hemoglobina glicada (HbA1C), que reflete os níveis médios de glicemia dos últimos dois a quatro meses. Antes do estudo, a média do índice em todos os grupos de participantes era de 9. No caso da remissão, ela tem que ficar abaixo de 6,5.

O advogado Luiz Edson Falleiros, 57, foi um dos participantes do estudo sorteado para o grupo da cirurgia experimental. A operação ocorreu em junho de 2014, e hoje ele já não precisa de medicamentos para controlar o diabetes. "Os remédios foram sendo retirados gradativamente e agora não tomo mais nenhum. Meu pai é diabético, sei como é duro sofrer com a doença numa idade mais avançada", conta.

Ele também perdeu 25 kg. Em média, os pacientes do grupo do bypass perderam 21,8kg em 12 meses, enquanto que os da cirurgia experimental emagreceram, em média, 17,7 kg.

RESSALVAS

Ricardo Cohen, coordenador do Centro de Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, afirma que o estudo tem uma vantagem por ser o primeiro a avaliar essa técnica experimental comparando-a com outras consagradas, mas diz que um ano é pouco para avaliar os efeitos da cirurgia. "Os benefícios podem ter aparecido mais por conta da restrição calórica do que pela mudança hormonal que a cirurgia pode trazer. É no longo prazo que vem a mágica da cirurgia metabólica. É um superpontapé inicial, mas acho pouco provável que ela seja melhor que a técnica clássica."

O endocrinologista Bruno Geloneze, do laboratório de investigação em metabolismo e diabetes da Unicamp, também questiona os benefícios da cirurgia experimental. Segundo ele, ela é mais cara que a técnica clássica e o número pequeno de pacientes do estudo (39) não permite nenhuma conclusão sobre sua segurança.

Além disso, ele aponta que hoje há drogas mais eficazes para o tratamento de diabetes, como a liraglutida (Victoza), do que na época em que o estudo começou a ser feito. "A redução do IMC parecia razoável com as cirurgias, mas, com os avanços atuais e futuros dos medicamentos, acredito que as propostas cirúrgicas deverão ser restritas a poucos casos que tenham problemas com tratamentos clínicos", diz. "O trabalho tem um desenho ultrapassado sobre uma cirurgia com custos elevados e segurança desconhecida", afirma ele. 

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Critérios

Entre 25 e 65 anos
Diabetes tratado com hipoglicemiantes 
Obesidade leve há 2 anos (IMC entre 30 e 35) 
Fracasso no controle glicêmico –hemoglobina glicada entre 7% e 9,5%

TRATAMENTOS COMPARADOS

1 Cirurgia bypass gástrico 

Grampeamento de parte do estômago e desvio do intestino, que promove aumento de hormônios da saciedade e melhoram o diabetes. É a técnica mais utilizada e considerada como primeira escolha

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2 Cirurgia gastrectomia vertical com transposição ileal no duodeno 

Desenvolvida para tratar diabetes porque envolve a recolocação do íleo (fim do intestino delgado) entre o duodeno e o jejuno. Em contato com o alimento, o íleo começa a produzir GLP1 (que estimula a produção de insulina). Ainda não aprovada no Brasil 

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3 Clínico

Acompanhamento do paciente sem intervenção cirúrgica e com medicamentos, como moderadores de apetite e insulina

RESULTADOS APÓS 1 ANO

Controle glicêmico

Transposição ileal trouxe 100% de controle glicêmico; 46%, no caso do bypass; e 8% no tratamento medicamentoso

Remissão da doença

75% dos pacientes da transposição ileal tiveram remissão total da doença, dispensando medicação

30% no caso do bypass

Fonte: Folha
Enviada por JC

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