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México fracassa em conter consumo de refrigerante com mais imposto

As vendas de refrigerantes estão subindo dois anos depois de o México ter criado um imposto de 10% sobre bebidas açucaradas — um resultado positivo para uma indústria que temia enfrentar os mesmos problemas que os fabricantes de cigarros. O imposto mexicano foi uma tentativa de conter as alarmantes taxas de obesidade e diabetes num país com o maior consumo per capita de refrigerantes do mundo. Ele foi lançado na época em que o então prefeito de Nova York, o bilionário Michael Bloomberg, estava tentando limitar a venda de refrigerantes na cidade. Agora, mais países estão cogitando um imposto semelhante. As vendas de refrigerantes, entretanto, estão subindo no México depois de uma queda inicial, tornando o país novamente um mercado essencial para as gigantes dos refrigerantes Coca-Cola Co. e PepsiCo Inc. O imposto de 1 peso mexicano (quase US$ 0,06) por litro arrecadou mais de US$ 2 bilhões desde janeiro de 2014, cerca de 35% a mais do que o governo esperava.

“A Coca é como o cigarro — ela deixa você viciado”, diz Luis de León, que tem 24 anos e é manobrista num estacionamento da Cidade do México, em pé ao lado de uma garrafa de três litros que dividiu com dois colegas de trabalho. Ele diz que parou de beber refrigerante por um mês após ver uma campanha publicitária financiada pela Bloomberg Philanthropies, organização filantrópica financiada por Bloomberg, que vinculava a diabete às bebidas açucaradas. A campanha perguntava se eles comeriam 12 colheres cheias de açúcar, quase a quantidade que a popular garrafa de 600 ml da Coca contém.

Embora a campanha de saúde pública tenha acabado há muito tempo, os fabricantes de refrigerantes continuam a anunciar seus produtos pesadamente e afirmam que não é justo discriminar algo que representa menos de 10% da ingestão diária de calorias.

A Coca-Cola Femsa SAB, maior engarrafadora de Coca-Cola do país, informou na semana passada que suas vendas de refrigerantes por volume no México cresceram 5,5% no primeiro trimestre ante o mesmo período de 2015. A Arca Continental SAB, a segunda maior engarrafadora, divulgou uma alta de 11% no volume.

A recuperação começou no ano passado, quando os volumes da indústria mexicana de refrigerantes subiram 0,5%, depois de terem recuado 1,9% em 2014, segundo o serviço de dados Canadean. Os consumidores também não estão migrando para bebidas com zero caloria e isentas de impostos. A participação de mercado das calóricas Coca-Cola e Pepsi-Cola aumentou no ano passado para 48% e 11%, respectivamente, segundo a firma de dados Euromonitor.

As organizações contrárias aos refrigerantes ainda não estão dispostas a reconhecer que o imposto foi um fracasso e afirmam que as vendas foram beneficiadas por temperaturas anormalmente altas. O Instituto Nacional de Saúde Pública do México estima que o consumo per capita de bebidas açucaradas foi 8% menor em 2015 do que no período anterior ao imposto, entre 2007 e 2013, depois de fazer ajustes para o crescimento da população e da atividade econômica.

Em janeiro, uma comissão da Organização Mundial de Saúde recomendou aos governos taxar bebidas que adicionam açúcar para reduzir a obesidade infantil, citando um estudo conjunto das autoridades de saúde do México e da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos. A pesquisa, que foi avaliada por outros especialistas, estimou que as compras de bebidas açucaradas caíram 6% em 2014, comparado com a média dos dois anos anteriores. O estudo concluiu ainda que a queda foi acentuada para 12% em dezembro de 2014, ante os dois dezembros anteriores.

Vários países estão cogitando impostos especiais sobre refrigerantes, como Índia, África do Sul e Filipinas. No Brasil, há um projeto sendo discutido no Congresso há anos para proibir a venda de refrigerantes nas escolas. Nos EUA, o prefeito de Filadélfia sugeriu um imposto de US$ 1 por litro em bebidas adoçadas.

A Associação Americana de Bebidas está lutando contra essa proposta e planeja apresentar um novo estudo que mostra que a indústria de bebidas do México perdeu cerca de 3 mil empregos no primeiro trimestre de 2014 devido ao imposto. A pesquisa, conduzida pela Beverage Marketing Corp., consultoria americana do setor de bebidas, estima que o consumo de refrigerantes no México voltou para os níveis anteriores ao imposto em meados de 2015.

Mesmo a queda inicial no consumo apenas reduziu a ingestão calórica diária dos mexicanos de seis a sete calorias, ou 0,2%, segundo o estudo. “Sabemos que esses impostos não funcionam”, disse o diretor-presidente da Coca-Cola, Muhtar Kent, durante a assembleia anual de acionistas realizada na semana passada, apontando o México.

Os governos também devem investir dinheiro para tornar as pessoas mais informadas sobre a ingestão de açúcar, exigir rótulos nutricionais esclarecedores e incentivar os exercícios físicos, entre outras medidas, dizem especialistas em saúde.

“O imposto do açúcar é uma parte importante, mas não é a única”, diz Kelly Henning, que dirige o programa de saúde pública da Bloomberg Philanthropies. Quando era prefeito de Nova York, Bloomberg também tentou limitar o tamanho dos copos de refrigerantes, mas não teve sucesso.

Defensores dos impostos sobre bebidas adoçadas afirmam que o tributo mexicano devia ser mais alto para ter um impacto maior. O senador Armando Ríos Piter quer dobrar o imposto para compensar o custo dos órgãos de saúde pública para tratar pessoas com diabetes, uma doença que afeta desproporcionalmente os mexicanos pobres, que compram a maioria das bebidas açucaradas.

Wilebaldo Ramírez, um engraxate de 45 anos da Cidade do México, diz que usa cerca de 6% de seus ganhos diários para beber refrigerante, embora sua esposa esteja insistindo para que ele beba água engarrafada. “Se a água fosse mais barata que o refrigerante, talvez eu mudasse. Mas, enquanto isso, eu quero algum sabor”, diz Ramirez, depois de beber uma garrafa de 600 ml de Jarritos, um refrigerante local com sabor de frutas. A garrafa é vendida por 6,50 pesos numa loja perto de onde ele engraxa sapatos, comparado com o preço de pelo menos 8 pesos de uma garrafa de água do mesmo tamanho.

Fonte: WSJ

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