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Meditação para aquietar a mente e aumentar o foco

O homem medita há mais de 4 mil anos e, em seus primórdios, a prática, que começou na Índia e na China, funcionava como uma espécie de ponte para entrar em contato com o mistério da existência e para despertar o “deus” interior. No Ocidente, a meditação ficou mais conhecida nos anos 1960, com o surgimento da cultura hippie e outros movimentos que provocaram uma revolução comportamental. Enquanto os Beatles conquistavam o mundo misturando a cítara e a filosofia hindu com suas letras românticas, o cardiologista norte-americano Herbert Benson criava um grupo de estudos na Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, para tornar a meditação um assunto científico. No livro “The Relaxation Response” (“Um Caminho para o Relaxamento”, em tradução livre), de 1975, Benson afirma que 60% das doenças podem ser curadas por meio da mente. Desde então, as maravilhas da prática se espalharam pelo mundo todo. arado, estático. Postura correta. Inspire, expire. Pronto, concentração: não pense em nada. Mas, espere aí: pensar em não pensar já não é pensar? Tente de novo até conseguir silenciar esse insistente monólogo interior. Haja disciplina e, para muitos, haja doses cavalares de paciência também. Antes de qualquer coisa, considere que, talvez, silenciar não seja o verbo mais adequado para descrever o que deveria acontecer durante a meditação. Melhor observar, sem interferir – como se seus pensamentos fossem nuvens no céu.

SAÚDE PÚBLICA

“Podemos pensar na meditação como uma técnica ou um estado”, explica  o obstetra Roberto Cardoso, coordenador do Núcleo de Medicina e Práticas Integrativas (Numepi) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Conseguir manter a atenção plena em um tema ou  um objeto – as chamadas “âncoras” – pode, segundo o médico, salvar vidas. “São muitos os benefícios, tanto em termos emocionais, quanto fisiológicos”, aponta Cardoso, autor de Medicina e Meditação (Editora MG). Segundo ele, os resultados são ótimos quando se trata de combater estresse, ansiedade e raiva, para controlar a dor e até tratar depressão ou síndrome de pânico. A prática pode ser benéfica em alguns casos de câncer, de acordo com estudos do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, instituição de excelência de estudos sobre a doença em Nova York.

No Brasil, a meditação já é utilizada em diversas instituições de saúde.  Desde setembro de 2003, médicos, enfermeiros e outros profissionais do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, têm aulas duas vezes por semana para aprender a meditar. A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, implementada em 2006 pelo Ministério da Saúde, permitiu ao Sistema Único de Saúde (SUS) oferecer meditação em algumas unidades de atendimento. “Por experiência própria e científica, posso dizer que quando a mente está bem, o resto acompanha”, diz Cardoso, adepto da técnica há mais de 30 anos.

MUITO MAIS FOCO

Celular, mensagens, e-mails, redes sociais. Trabalho, casa, exercícios, trânsito. E tudo de novo, todo dia. O excesso de informações e de tarefas podem deixar qualquer um fora do eixo. “Como a meditação acalma a mente, é capaz também de aumentar a produtividade e a criatividade”, garante Cardoso. Por isso, não faltam exemplos de profissionais que usam a prática para melhorar o desempenho na carreira. O criador da Apple, Steve Jobs, era um praticante assíduo. Além dele, Oprah Winfrey, William Ford (CEO da Ford), Richard Gere e Gisele Bündchen são alguns dos nomes conhecidos por adotar a meditação como forma de melhorar a vida pessoal e profissional.  

Diretor de filmes como “A Estrada Perdida” e “Cidade dos Sonhos”, David Lynch atribui sua criatividade  – considerada fora do comum no meio cinematográfico – à meditação transcendental que o faz acessar as ideias mais profundas de sua mente. Aos 70 anos, ele medita há cerca de 40 e criou, em 2005, uma fundação que oferece apoio financeiro para pessoas interessadas em aprender a meditar. Sempre que pode, o cineasta dá um jeito de divulgar o método. “A humanidade tem de entender que a felicidade vem de dentro”, disse, em uma palestra na Espanha. “Ao praticá-la (a meditação transcendental), a negatividade desaparece, e  também a ansiedade, a tristeza, o ódio, a raiva, o medo e o desespero diminuem cada vez mais.”

Por aqui, o presidente do conselho da Óticas Carol, Sergio Chaia, que jáesteve no comando de empresas como Nextel e Symantec, medita há mais de 15 anos.  “Sinto que ganhei mais consciência dos meus pensamentos e emoções”, diz ele, que tem 51 anos e também atua como palestrante e coaching de CEOs.  “Sempre recomendo a meditação para os meus clientes. Ajuda a mente a lidar com as adversidades”, afirma. Ele conta que reserva pelo menos meia hora por dia e pega o “mala”, espécie de terço budista, enquanto repete um mantra. “Faço de forma não religiosa, mas é incrível como esse tipo de prática existe em várias religiões”, comenta. O economista do Banco Original Felipe Leon, de 32 anos, também reserva alguns minutos por dia para si. “Nesses tempos complicados, a meditação tem me ajudado muito a manter o foco nas coisas que realmente importam”. Leon trabalha com tabelas e análises econômicas – se não ficar atento, acaba se perdendo no meio de tantos números.“Tinha muita dificuldade para me concentrar. Ganhei mais foco e nunca parei porque me ajuda também na vida pessoal, me sinto mais calmo e consigo lidar com o estresse de uma forma mais madura.”

PAÍS DAS MARAVILHAS

Em 2004, Dan Harris, âncora do “Good Morning America”, da ABC News, ficou famoso por ter um ataque de pânico ao vivo diante de 5 milhões de telespectadores. O constrangimento em rede nacional – que também viralizou mundo afora – levou Harris a procurar ajuda médica. Entre remédios e a recomendação de praticar exercícios físicos regularmente, ele foi convencido a tentar a meditação. “Há um sério problema de marketing na meditação, em grande parte porque seus expoentes falam como se estivessem o tempo todo acompanhados por uma flauta”, escreveu Harris.  “Se você ignorar isso, vai descobrir que é simplesmente um exercício para o cérebro.”  Em 2014, o jornalista escreveu 10% Mais Feliz (Ed. Sextante), livro que se tornou best-seller mundial. “A meditação é a cafeína do século 21”, acredita ele.

Para quem quiser mergulhar no tema, há centenas de livros e de aplicativos (caso do Headspace e Deep Relax). Ultimamente, vêm surgindo também gurus virtuais – caso da psicóloga paulista Flavia Melissa, de 37 anos.  “A mente é uma máquina de resolver problemas. Quando resolve um, vai procurar outro e segue sem descanso”, diz Flavia, recomendando aos novatos que deem uma chance para a meditação. Depois de uma temporada de estudos sobre medicina oriental na China, ela compartilha seus conhecimentos desde 2014 no YouTube em vídeos que já alcançaram mais de 500 mil acessos. Flavia também ministra cursos, workshops, palestras e cuida do Portal Despertar. “A depressão é a mente no passado. A ansiedade, no futuro. A meditação leva você a ter atenção plena no momento presente”, pontua.

SANTO REMÉDIO

Estresse, depressão, insônia e até para retardar os efeitos do envelhecimento, a meditação serve para praticamente tudo. É o que mostram vários estudos realizados em universidades renomadas mundo afora — Harvard, Stanford e Johns Hopkins, entre elas. Veja alguns efeitos:

* Quem medita dorme melhor, pois alcança níveis de sono REM com mais facilidade. Para algumas pessoas, isso pode representar cerca de duas horas a mais de descanso por noite.

* Tem efeito direto sobre a imunidade, pois estimula a produção de anticorpos.

* Diminui os níveis de adrenalina e de cortisol, os hormônios do estresse, e faz aumentar a liberação de endorfina, neurotransmissor ligado à sensação de felicidade e de bem-estar.

* Ajuda a desacelerar o processo de envelhecimento do corpo. Adeptos da meditação podem apresentar diferença de até 12 anos entre a idade cronológica e a fisiológica.  O dado é de um estudo publicado no International Journal of Neuroscience.

COMECE PELO COMEÇO

Existem várias técnicas de meditação. Aqui, as mais conhecidas

MEDITAÇÃO TRANSCENDENTAL – Criada em 1958 pelo guru indiano Mahesh Prasad Varma utiliza como âncora a pronúncia de um som, chamado “mantra”.

ZAZEN  - Base da prática zen-budista japonesa, vem sendo utilizada desde o século 12. Utiliza várias âncoras:  a posição do corpo, a das mãos e a atenção ao momento presente, entre outras.

VIPASSANA – Em sua forma clássica, o foco dessa técnica de quase 2.500 anos era a respiração, mas algumas variações contemporâneas ampliaram para aspectos corporais e/ou emocionais.

ATENÇÃO PLENA (OU MINDFULNESS) – Inspirada na Theravada, técnica milenar budista, foi adaptada no Ocidente como forma de terapia pelo médico Jon Kabat-Zinn, da Universidade de Massachusetts, nos EUA. Consiste em focar no momento presente e prestar atenção em tudo o que acontece fora e dentro de você.

Fonte: glamurama.uol.com.br

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