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``Erros bons´´ aumentam a probabilidade de acertos

O inglês Tim Harford, 42, esteve no Brasil pela primeira vez este ano. Veio para falar de um assunto que nem todos aceitam bem: cometer erros. Formado em economia e em jornalismo, Harford começou sua carreira em uma consultoria, mas logo viu que não se encaixava ali. Aceitar aquele emprego foi um dos erros de sua carreira. Percalço que foi corrigido rapidamente, já que ficou apenas três meses no cargo.

Famoso pelo livro de 2007, "O Economista Clandestino" (Editora Record), traduzido em quase 30 idiomas, Harford esteve no país para dar uma palestra no CIAB Febraban. Ele falou sobre "A Arte de Cometer Bons Erros", tema central de um outro livro seu: "Adapte-se: por que todo sucesso começa com um fracasso" (Editora Record), lançado em 2011. 

Em seu livro o senhor afirma que todo sucesso começa com um fracasso. O que o leva a acreditar nisso?

Tim Harford : O mundo é cheio de problemas complexos e quando nós tentamos resolver um deles, quando tentamos fazer algo novo, inevitavelmente erramos. Sempre há algo que não consideramos, seja um elemento humano ou interações involuntárias. Você vê isso na engenharia, na economia, na política, na medicina. Então, o que eu argumento no livro é: vamos ser melhores identificando os erros rapidamente e consertando-os de forma mais barata. Se, ao invés disso, você disser que não vai falhar, acabará causando mais problemas e cometendo erros ainda maiores.

O que o senhor considera um "bom erro"?

Harford: Há todos os tipos de erro. No livro eu falo sobre o desenvolvimento de projetos que não funcionam porque a empresa oferece ajuda externa às pessoas e essa ajuda não é útil, falo sobre erros militares, erros de regulamentações financeiras, todos os tipos de erro. O desafio que proponho é falar deles como parte da experiência de aprendizagem, é por isso que eu chamo de "bons erros". Se o erro é menor, mais barato e nos ensina alguma lição ele é um bom erro. Se ele é grande, caro e não nos ensina nada é um erro ruim.

Cometer erros é algo que assusta muita gente. Deveria ser tão amedrontador assim?

Harford: Nós nos assustamos e tudo bem. Mas eu acho que nós também nos assustamos ao tentar algo diferente, algo novo e não acho que isso deveria nos amedrontar. Não deveríamos nos assustar por fazer experimentos. O tempo todo cientistas experimentam coisas que funcionam ou não, e eles não chamam isso de erro, pois vão aprender algo com aquilo. Mas se um político diz que vai ver se uma política funciona ou não ele é criticado. Por que não funciona da mesma forma? Por que um político não pode experimentar?

Por quê?

Harford: Eu acho que um dos problemas é que nós não diferenciamos os grandes dos pequenos erros. Nós somos passionais a respeito dos nossos erros. Mesmo um erro pequeno parece grande, nos sentimos envergonhados pois ele fere o orgulho. A economia comportamental estuda isso. Então, se cometemos erros pequenos, vemos como uma grande perda e tomamos decisões ruins por causa disso.

Essa é a razão por que é tão difícil admitir a própria capacidade de falhar?

Harford: Algumas vezes esta é a razão. Outras vezes, acho que a razão é social, não querer admitir um erro para as outras pessoas, colegas ou amigos.

De forma prática, como podemos nos beneficiar dos erros?

Harford: De muitas formas. A mais direta é o exemplo de Thomas Edison. Ele disse: 'eu não falhei, apenas tentei 10 mil coisas que não funcionaram, então aprendi 10 mil lições', e depois ele descobriu os filamentos necessários para a lâmpada funcionar. Eu acho que falhar pode nos levar a descobrir ideias por acaso. Outra forma de aprender é ganhar resiliência. Quando cometemos erros que não nos matam, saímos mais fortes e aprendemos a nos recuperar e a tomar decisões melhores no futuro.

Você acha que o ambiente corporativo está preparado para lidar com os erros da mesma forma que os cientistas?

Harford: De algum modo já se faz isso. Algumas companhias tentam ideias, algumas são bem-sucedidas, outras não. Mas em muitas culturas corporativas nem sempre existe essa atitude. Algumas companhias que reconhecem isso como um problema premiam funcionários que cometem alguns tipos de erro. Você não pode premiar alguém que foi desonesto, rude com um cliente ou que fez uma aposta estúpida com o dinheiro da empresa. Também não pode premiar quem comete o mesmo erro várias vezes. Mas o caso de alguém que compra algo interessante, que poderia ter funcionado mas não funcionou, é diferente. Esse é um erro bom, um experimento. É o comportamento que você gostaria de recompensar.

Encorajar os funcionários a falhar não pode causar danos sérios às empresas? Como evitar tais danos?

Harford: É preciso ser claro sobre quais experimentos podem ser feitos. Se você pensar sobre as usinas nucleares, você não pode incentivar os funcionários a irem além dos limites e considerar o que aconteceria se mexessem nos sistemas de segurança. Isso seria uma catástrofe. Mas até mesmo lá, o que eles fazem, em todo o mundo, é compartilhar o conhecimento sobre os erros. Eles são honestos, porque todo mundo precisa saber e aprender. Eles têm essa cultura.

Você pode dar exemplos de empresas que premiam os erros?

Harford: O conglomerado indiano Tata acabou de instituir uma premiação não financeira. É um certificado ou uma cerimônia de reconhecimento para algo que não funcionou, mas que mostra que o funcionário tentou. Esse é um exemplo. Outro, um pouco diferente, é o do Banco Mundial. Ele começou a organizar conferências de falhas. Então imagine uma conferência onde você tem profissionais do mundo inteiro trabalhando juntos no tema 'sistema de saúde'. Há pessoas do Brasil, Peru, Uganda, Vietnã, Tailândia, de toda parte. Só que, ao invés de alguém dizer 'é isso o que estamos fazendo na Bolívia', a pessoa diz 'isso é algo que nós tentamos fazer na Bolívia, mas não funcionou e aqui está o porquê'. É quando você percebe como pode ser útil compartilhar experiências malsucedidas.

Já que você é um autor de sucesso, qual foi seu erro para chegar aqui?

Harford: Um grande erro que cometi foi ter aceito um trabalho como consultor de gestão. Eu era terrível nisso. Era alérgico ao meu próprio terno, não queria fazer o que meus colegas faziam, chorava no escritório, foi um tempo horrível. O interessante foi como parei com esse erro. Quando falei com alguns amigos, eles me recomendaram manter o emprego por pelo menos dois anos. Eles eram todos mais ou menos da minha idade - eu tinha 22 - e estavam em cargos parecidos. Então eu conversei com outro amigo mais velho, perto dos 40, e que tinha uma carreira completamente diferente como designer de games. Ele via tudo sob outra perspectiva e me disse: 'isso é loucura, você está ganhando experiência em algo que você não quer fazer e tendo contato com pessoas que você não quer ver de novo'. Pedi demissão no dia seguinte e nunca me arrependi. Se eu tivesse esperado mais uns anos, isso teria causado mais danos à minha carreira. Então, tudo bem cometer um erro, mas você precisa corrigi-lo rapidamente.

Fonte: Valor
Enviada por JC

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