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A maior escassez do Brasil será a de talentos

Há cerca de um mês, como regularmente faz a cada ano a imprensa cobria o resultado doGlobal Competitiveness Index, reconhecido como o melhor índice para se identificar o quanto um país desenvolve um ambiente de alta produtividade, que gera prosperidade para os seus indivíduos. Obviamente, o foco da imprensa nacional foi mais uma vez o rebaixamento do Brasil no ranking, que é também referência para investidores e influenciadores de políticas públicas. No início do ano um outro índice passou desapercebido pela imprensa, apesar de sua relevância em explicar a essência do que permite uma nação ser mais próspera e produtiva: seu povo. Ou como falamos nas organizações, os talentos disponíveis em uma nação.

O Global Talent Competitiveness Index (GTCI) foi desenvolvido pelo Insead, renomada escola de gestão europeia, com o intuito de ranquear economias pela sua habilidade de desenvolver, atrair e reter talentos e pela capacidade desses talentos de gerar prosperidade para uma nação.

Obviamente o Brasil tem uma posição bastante modesta nesse ranking (67º lugar entre 109 países), ocupando uma posição razoavelmente melhor na primeira parte to índice (57º), que mede os esforços para se estimular um ambiente que nutra talentos, e uma posição não tão razoável na segunda parte do índice (79º), que mede a qualidade e os resultados dos talentos como consequência desses esforços.

Alguns subíndices chamam ainda mais atenção para esse último ponto, como a produtividade do trabalhador (92º) e o impacto dos talentos (79º) — que mede quais resultados de fato os talentos entregam. Ou seja, somos um pouco melhor em desenvolver e nutrir talentos do que em gerar resultados por meio deles.

Apesar de nada estimulante, o ranking traz elementos importantes para entendermos aspectos do desafio em relação aos nossos talentos. Em toda sua riqueza de detalhes (são dezenas de subíndices), ele dá claras orientações de como nossas decisões internas impactam a qualidade e a quantidade de talentos. Há uma intuição geral de que, apesar da crise, não somos a Venezuela, e que em um momento próximo o crescimento virá. A partir daí, a qualidade dos talentos fará a diferença no tipo de prosperidade que teremos.

Tão importante para as nações, o GTCI deveria servir também para as empresas que operam em nosso país. Se bem analisado, ele dá claras indicações do que as empresas encontrarão em um momento político mais estável e economicamente promissor. A baixa capacidade de gerar impacto e a óbvia escassez de pessoas capacitadas são fatores que limitam a criação de diferenciais competitivos sustentáveis para as organizações.

Para as empresas nacionais que pretendem ser competitivas no exterior (seja pelo comércio ou por expansão), ainda existe outro desafio. Em um dos subíndices, o Global Knowledge Skills, que mensura a qualidade das competências específicas requeridas para ser competitivo em um mundo em rápida transformação (ou que sugere se uma nação tem a nata dos talentos no mundo), o Brasil também ocupa uma posição não tão razoável (74ª).

Nesse caso, é preocupante. A tendência é o país ficar mais distante das nações em desenvolvimento, já que a inovação tecnológica está pressionando as empresas a repensarem e a reinventarem seus modelos de negócio. Nesse processo, está sendo requerida uma atenção especial aos talentos que podem realizar essa reinvenção.

Nunca se falou tanto em talento nas empresas, e pesquisas mostram que a gestão dos talentos (aqueles com Global Knowledge Skills) pela primeira vez está na lista de prioridades dos CEOs e dos conselhos de administração. Enquanto isso, nossas empresas estão tentando sobreviver à crise.

Quando os recursos são escassos a oportunidade reside na gestão desses recursos. Diante da expectativa de uma retomada da economia em nosso país, as empresas têm a oportunidade de aprender com a crise a serem mais eficientes em sua gestão e, consequentemente, mais produtivas. Em nosso caso, uma atenção especial deveria ser orientada à gestão daquilo que é bem escasso em nosso contexto como nação: talentos. 

Eles irão fazer falta quando quisermos prosperar.


Texto de Claudio Garcia ~ vice-presidente executivo de estratégia e desenvolvimento corporativo da consultoria LHH, baseado em Nova York

Fonte: Valor Econômico
Enviada por JC

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