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11 de Outubro - Dia Nacional de Prevenção da Obesidade

A maioria das crianças da região metropolitana de São Paulo está acima do peso, quase não pratica atividade física e tem péssimos hábitos alimentares, com alto consumo de sódio e gordura e baixa ingestão de nutrientes essenciais para o desenvolvimento, como cálcio, vitaminas A, C, D, E e ferro. Os resultados da pesquisa The Infant and Kids Study (IKS), realizado pelo Ibope a pedido da Nestlé, confirmam a tendência apontada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) de que até 2025  a obesidade e o sobrepeso infantil deverão atingir aproximadamente 75 milhões de crianças no mundo e preocupa especialistas. 

“O que é mais trágico e preocupante é o fato de que crianças estão obesas porque há um grande risco disso se perpetuar na vida adulta. A obesidade é uma das poucas doenças que existem que tem o efeito ‘tracking’ ou seja, o risco de uma doença que acontece na infância e/ou na adolescência se perpetuar para o resto da vida. E esse risco é de aproximadamente 50%. Ou seja, a obesidade é atualmente o principal problema de saúde pública não só do Brasil, mas do mundo inteiro.”, afirma Raphael Liberatore, pediatra e endocrinologista da USP de Ribeirão Preto.


Hábitos alimentares e comportamentais ruins

O levantamento, realizado com 1.000 crianças com idade entre 0 e 12 anos, de todas as classes sociais na região metropolitana de São Paulo, mostrou que uma em cada duas crianças está acima do peso. Dessas, 13% estão com sobrepeso e 33% obesas. Um dos possíveis motivos para isso são os péssimos hábitos alimentares associado a uma alta taxa de sedentarismo.

Outros dados do estudo mostram que 33% das crianças acima de quatro anos consomem mais gordura e 70% mais sódio do que a recomendação diária nas refeições. Além disso, metade das crianças é sedentária, especialmente antes dos 5 anos de idade, onde o índice pode chegar aos 90%. O tempo gasto em frente à TV pode explicar esse fato, já que 54% das crianças passam mais de quatro horas por dia em frente à telinha – TV, computador ou videogame -, mais que o dobro das duas horas recomendadas. Esse índice atinge  75% das crianças com idade entre sete e doze anos.

A hora das refeições também é impactada por este comportamento: cerca de 30% das crianças de 1 a 4 anos comem assistindo televisão, lendo, estudando ou jogando videogame no mínimo 4 vezes por semana. Este número dobra a partir dos 4 anos, chegando a 65% nas crianças de 9 a 12 anos.

“A questão é muito familiar. O comportamento infantil é um reflexo do que as crianças observam em casa com os pais, que dedicam cada vez mais tempo à televisão, celular e computador. Não podemos responsabilizar apenas a tecnologia, mas devemos ter atenção, uma vez que ela pode influenciar no desenvolvimento físico, social e comportamental de crianças e adolescentes”, afirma a psicóloga e pedagoga Elizabeth Monteiro.


Falta de nutrientes

Ainda segundo a pesquisa, o consumo de nutrientes importantes para o desenvolvimento infantil está abaixo do recomendado. Embora 65% das crianças com idade entre 9 e 12 anos bebam leite, em cerca de 84% delas o consumo de cálcio está abaixo do recomendado. Isso porque, elas bebem, em média, apenas a um copo por dia, sendo que a indicação é de três copos diariamente. A ingestão de outros nutrientes, como as vitaminas A, C, D e E também está abaixo do recomendado.

“Isso é problemático porque a infância é justamente a fase de construção de massa óssea e o cálcio e a vitamina D são essenciais para isso. Se essa formação não acontece da maneira correta nessa fase, isso pode trazer muitas complicações para o futuro”, explica Liberatore. 


Sedentarismo

Os dados relacionados à prática de atividade física levantados pelo estudo também são preocupantes. Mais da metade das crianças entre 1 e 12 anos está sedentária, ou seja, praticam menos de 300 minutos (5 horas ou pouco mais de 40 minutos todos os dias) de atividade física por semana. Embora seja maior entre meninas, atingindo 56% deste universo, a taxa também é alta entre os meninos: 49%.

Para Elizabeth, a atividade física é mais importante do que a alimentação. “O movimento, o ato motor, ajuda a desenvolver a inteligência e a cognição. Além disso, a falta de exercícios tem deixado nossas crianças doentes fisicamente e mentalmente. Cada vez mais eu tenho atendido crianças com depressão, transtorno obsessivo compulsivo (TOC), esquizofrenia e, depois de muito pesquisar, percebi que nossas crianças perderam a infância. Elas não brincam mais… na rua, com amigos, na natureza.”, afirma.

O ex-atleta e medalhista olímpico de judô Flavio Canto, que está à frente do Instituo Reação, acredita que o esporte e a prática de atividades físicas são um importante ativo para a promoção da saúde e da auto-estima de crianças.

“Quando você fala de uma criança obesa os problemas são muito mais amplos, tem a questão da auto-estima, a questão escolar, a preguiça, diminuição da flexibilidade, velocidade… tudo isso faz com que o esporte seja mais difícil para ela o que a afasta disso. Mas é uma questão de criatividade e de saber trabalhar o esporte adequado. O judô, as lutas em geral, é um esporte muito democrático porque tem várias categorias de peso por faixa etária então uma criança obesa pode se sentir mais à vontade nesse esporte e aos poucos isso vai trabalhando a auto-estima e ela vai se encontrando, vai melhorando na escola, o relacionamento com os amigos e aos poucos se introduz valores do esporte e da alimentação.”, diz.


Problemas físicos e mentais

Raphael Liberatore ressalta que combater a obesidade infantil, além de evitar vários problemas de saúde ,como o desenvolvimento de doenças crônicas, como o diabetes tipo 2, hipertensão arterial e aumento dos níveis de colesterol ruim (LDL), contribui para a melhora de sua saúde psicológica.

“A auto-estima de uma criança obesa também um problema que vai acompanhá-la para o resto da vida. Uma criança que entra na puberdade obesa tem um risco muito grande de permanecer obesa, não só por questões biológicas mas também por conta da auto-estima e isso pode ser uma tragédia para a sua vida. Por exemplo, uma pesquisa mostrou que meninas e meninos obesos têm problemas sexuais devido à baixa auto-estima relacionada ao excesso de peso. Isso leva à depressão e aumenta a compulsão por comida, o que contribui para um ciclo vicioso e para a perpetuação da obesidade”, alerta o médico.

O pediatra lembra também que essa mudança no comportamento das crianças vai muito além da prática de atividade física regular e de uma alimentação equilibrada. “É preciso envolver outros aspectos mais amplos, que passem pelas frentes econômicas, sociais e políticas”, afirma Liberatore.

Fonte: Veja

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