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Os orgânicos são mais ricos?

Você certamente faria a alegria do seu nutricionista, do seu médico e da sua própria saúde se acrescentasse duas porções extras de frutas, verduras ou legumes ao dia a dia. Pois, segundo pesquisadores da Universidade de Newcastle, na Inglaterra, a gente ganharia o equivalente a isso se simplesmente trocasse os alimentos convencionais por sua versão orgânica. Pelo menos em termos de antioxidantes, moléculas famosas por proteger nossas células dos pés à cabeça. Os especialistas descobriram que esses ingredientes apareciam numa quantidade de 19 a 69% maior nas safras produzidas sem pesticidas. E olha que suaram para chegar a esses números: nada menos que 343 estudos foram vasculhados.

“Além de abrangente, essa revisão é mais criteriosa do que pesquisas anteriores”, contextualiza a química Sônia Stertz, doutora em tecnologia de alimentos da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Para ela, os achados fazem total sentido e são consequência justamente da ausência de agrotóxicos e fertilizantes nitrogenados no cultivo orgânico. “Nessa situação, as plantas ativam seu próprio mecanismo de defesa o tempo todo”, esclarece. É aí que a produção de antioxidantes dispara. Afinal, na falta dos defensivos agrícolas, são eles os elementos recrutados pelo vegetal para afastar pragas, insetos e outros agressores.

“Como essas substâncias são fabricadas com o intuito de proteger a planta, costumam se concentrar na casca”, conta a nutricionista Ana Luísa Kremer Faller, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela diz isso com conhecimento de causa. Há alguns anos, a professora investigou os teores de compostos fenólicos, classe expressiva de antioxidantes, em 12 alimentos, tanto na versão convencional como na orgânica. “As frutas e hortaliças livres de agrotóxicos eram, em 80% dos casos, mais ricas nessas substâncias”, revela.

Ana Luísa pondera que é difícil cravar quão mais rico um orgânico é em relação a um produto cultivado com pesticidas. “É que uma série de fatores influencia nesse aspecto.” Ela se refere a forma de cultivo, temperatura, tipo e qualidade do solo. “Mas, no geral, os orgânicos tendem, sim, a apresentar teores mais elevados de antioxidantes“, diz. E essa é uma vantagem que o nosso organismo sabiamente comemora. “Esses componentes naturais combatem os radicais livres e, por isso, seu consumo está associado a um risco reduzido de doenças cardiovasculares e degenerativas, além de algumas formas de câncer”, ensina Sônia.

Se no campo dos antioxidantes as evidências de superioridade dos orgânicos parecem inquestionáveis, a história permanece nebulosa no quesito vitaminas e minerais. “Alguns dados não mostram diferença, outros indicam que os orgânicos são melhores. Mas o importante é que nenhum estudo até agora apontou que eles têm menos nutrientes”, diz a agrônoma Ronessa Bartolomeu de Souza, da área de Solos e Nutrição de Plantas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa. De novo, as condições de plantio e clima pesam muito nessa conta.

Pelo menos em um trabalho conduzido pela química Sônia, da UFPR, os orgânicos saíram vitoriosos. Para ter ideia, o morango isento de pesticidas tinha quantidades extras de ferro (342% a mais), fósforo (63%), magnésio (183%), potássio (80%) e fibras (26%). A batata, outro destaque no mesmo trabalho, apresentou maiores doses de selênio (33%), ferro (54%), fósforo (36%), cálcio (17%) e fibras (21%). O agrião, a cenoura e a couve-flor também fizeram bonito.

Para ninguém botar defeito

Os especialistas são unânimes ao afirmar que as pessoas deveriam priorizar os orgânicos pelo simples motivo de não carregarem agrotóxicos. “Esses produtos utilizados no Brasil são superagressivos. Muitos estão até proibidos em outros países”, alerta a nutricionista Danielle Fontes, mestre pela Universidade de São Paulo. E tem um complicador aí: o mau uso. Ana Luísa, da UFRJ, lembra que vira e mexe a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) analisa algumas culturas e detecta quantidades exorbitantes de pesticidas. Fora que, não raro, um agroquímico indicado somente para determinado alimento é encontrado em outro. “No final das contas, tomamos uma sopinha de substâncias químicas”, resume a professora.

Como ingerimos um pouco todos os dias, é quase impossível mensurar o real impacto dessa mistureba no surgimento de doenças. Mas as perspectivas assustam. Sônia conta que, em trabalhadores que lidam diretamente com esses produtos, há relatos de lesões na pele, danos ao fígado e aos rins, complicações respiratórias, problemas neurológicos e reprodutivos, desregulação hormonal e até câncer. “A dose diária aceitável de agrotóxicos deveria ser zero”, afirma Ronessa.

Pena que o preço da comida sem defensivos afaste muitas vezes o consumidor. Para encontrar valores mais amigáveis, Ana Luísa sugere fugir de redes de supermercados. “Prefira ir às feiras”, diz. Caso não dê para comprar os alimentos da família inteira na versão orgânica, a nutricionista pede para privilegiar as crianças. “Estudos revelam que os efeitos dos agrotóxicos nelas são até dez vezes mais intensos do que em adultos”, concorda Sônia. Outro conselho: procure os relatórios da Anvisa para checar as variedades mais carregadas de pesticidas – e, com a lista em mente, priorize os orgânicos para a despensa. Mora em condomínio? Uma alternativa legal é incentivar as hortas comunitárias, até porque algumas espécies são fáceis de manipular. O que não dá é para continuar envenenando o próprio corpo.

Orgânico não é só vegetal

Produtos de origem animal, como carne, leite e ovos, também podem receber o selo de orgânico. “O bovino, por exemplo, não recebe antibióticos, hormônios, quimioterápicos e ureia”, ensina Cecília Mendes, engenheira de alimentos da empresa Korin. Além disso, a ração dos animais é livre de agrotóxicos e eles não vivem em confinamento. Ou seja, seu bem-estar é levado em conta. “O resultado é que os orgânicos são minimamente processados, sem ingredientes artificiais, conservantes ou irradiação, o que mantém sua integridade e qualidade”, defende Cecília.

Onde os orgânicos arrasam

Os antioxidantes encontrados em maior número em comparação com alimentos convencionais

 

Ácidos fenólicos

Quanto a mais: 19%
Onde achar: café, frutas cítricas, maçã, brócolis e pera

 

Flavanonas

Quanto a mais: 69%
Onde achar: frutas cítricas, salsinha, cebola e alho

 

Estilbenos

Quanto a mais: 28%
Onde achar: uva, vinho e outros alimentos roxos

 Flavonas

Quanto a mais: 26%
Onde achar: salsinha, cebola e orégano

 

Flavonóis

Quanto a mais: 50%
Onde achar: chás, cacau e café

 

Antocianinas

Quanto a mais: 51%
Onde achar: berinjela, morango, uva, cebola roxa e mirtilo

Fonte: Saúde

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