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China, o lugar onde há apps para resolver quase todos os problemas

É perto da hora do almoço em Xangai e Li Huanhuan está com fome. Mas em vez de sair de seu escritório e caminhar à praça de alimentação mais próxima, ela, que trabalha em uma agência de publicidade, pega seu smartphone e usa o aplicativo Ele.me, que faz entregas de comida. Em vários outros países do mundo, pedidos on-line —especialmente para comida— são cada vez mais comuns. E contam com uma oferta aparentemente ilimitada de apps, com finalidades variando da carona ao compartilhamento de quartos. Mas na China o conceito atingiu outro patamar.

Se Li está atrasada para um compromisso e precisa de um táxi, ela chama um utilizando o Didi Chuxing, a versão chinesa do Uber. Mas e se precisar de massagista, de um cozinheiro em sua casa, ou mesmo de uma babá? Assim como muitos chineses, ela recorre ao smartphone. A demanda por apps na China é muito maior do que no Ocidente graças a uma crescente classe média tecnófila e a uma política de preços baixos do comércio.

Sem falar que o número de pessoas que pode baixar um app é crescente: os números oficiais dão conta de que, em junho 2015, o país registrava 688 milhões de usuários de internet, quase 20 milhões a mais do que em dezembro 2014. E quase 90% deles usam os celulares para acessar a rede.

Esses usuários, conhecidos na China como "O2O" (on-line para offline), compram produtos e serviços sem parcimônia. Segundo a empresa de pesquisas iResearch, o mercado para O2O para serviços tipo "lifestyle" movimentará US$ 240 milhões (R$ 785 milhões) em 2018, praticamente dobrando o tamanho de 2015.

"O sucesso dessa indústria é sua habilidade para oferecer eficiência e conveniência ao consumidor", diz Mark Zhang, fundador do Ele.me, um dos maiores aplicativos de entrega de comida da China. O negócio teve início há oito anos para suprir as necessidades de estudantes da Universidade de Xangai, mas cresceu ao ponto de hoje contar com 70 milhões de usuários e atender 5 milhões de pedidos por dia.

A título de comparação, a companhia americana Grubhub, dona dos apps Grubhub e Seamless, tem 7,4 milhões de usuários ativos e lida com uma média diária de "apenas" 217 mil pedidos. Subsídios pesados, proliferação de smartphones e pagamentos online simples e seguros ajudaram o crescimento da indústria das apps de entrega na China.

Somado a isso, o país tem custos de trabalho e logísticos mais baixos do que em muitos mercados desenvolvidos, o que derruba o preço dos serviços, como explica Wan Yuche, analista de mercado da empresa China Market Research Group. O custo básico de entregas, por exemplo, é de US$ 1 (R$ 3,27).

Nos primeiros anos de desenvolvimento do mercado chinês do O2O, empresas de entrega de comida, varejo e transporte lideraram a "corrida do ouro", assim como no mercado americano e europeu. Agora, porém, mais e mais chineses querem serviços como estética, entretenimento, viagens e mesmo a organização de casamentos on-line.

"Esses serviços são uma necessidade na China e a demanda é inelástica", diz Wan Yong, CEO da Ayibang, app que ajuda a encontrar domésticas, babás e removedores de mudança.

"O ritmo de vida nas grandes cidades só vai aumentar e os consumidores chineses não terão tempo para buscar esses serviços sem a ajuda de apps", completa. Wan diz que o setor está apenas começando a amadurecer e deve crescer imensamente nos próximos dois anos. Isso porque, na medida em que os chineses enriquecem, as empresas vão ter de refinar produtos e serviços, avalia ele.

O app Ayibang, que iniciou os trabalhos em agosto de 2013, hoje está presente em 30 cidades da China, oferecendo acesso a babás e mesmo reparos a móveis e imóveis. E não apenas consumidores se beneficiam disso. Microempresários e autônomos também ganharam acesso mais amplo a potenciais clientes.

Ye Xiaorong, uma empregada doméstica de 43 anos de Pequim, diz que a demanda por seus serviços cresceu imensamente desde que se filiou ao Ayibang, em março. "Antes, não tinha emprego ou salário fixo", conta Ye, que ganhava a vida fazendo bicos como mototáxi pirata na saída de estações do metrô, oferecendo corridas partindo de US$ 0,75 (R$ 2,45).

Agora, todas as manhãs, ela recebe uma mensagem com as escalas de trabalho e trabalha por pelo menos sete horas diárias. "Isso me dá um senso de responsabilidade e um salário regular", explica a doméstica. Já Li Huanhuan acredita que os aplicativos mudaram a maneira com que sua geração faz compras.

"Se minha mãe tivesse fome ou precisasse de roupas, ela tinha que caminhar até as lojas. Eu? Faço tudo do meu telefone", ressalta. 

Fonte: Folha de S. Paulo
Enviada por JC

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