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Intuição é capaz de atuar em fração de segundo

No início dos anos 90, a psicóloga social Nalini Ambady, então na Universidade Harvard, e o psicólogo Robert Rosenthal, da Universidade da Califórnia, mostraram que a todo instante formamos impressões positivas ou negativas sobre pessoas. Eles realizaram experimentos nos quais os participantes assistiam a três videoclipes, com duração de dois segundos cada um, que mostravam professores ensinando. A avaliação dada a esses docentes foi muito parecida com a avaliação do final do semestre, em que os alunos atribuem notas ao desempenho dos professores. Assim, os psicólogos concluíram que, para ter uma impressão do entusiasmo e empenho de alguém, seis segundos de observação são suficientes. 

Mesmo intervalos de tempo menores podem fazer a diferença, descobriu Bargh, numa série de estudos. Ele observou que as pessoas faziam julgamentos com base em imagens de rostos ou objetos exibidos por apenas dois décimos de segundo. “Estamos descobrindo que tudo é avaliado como bom ou ruim no espaço de um quarto de segundo”, disse Bargh, em 1998. Graças aos caminhos que vão dos olhos aos centros de controle emocional de resposta rápida – contornando a parte racional do cérebro, o córtex –, frequentemente nós sentimos antes de pensar.

Muitas vezes, parece haver uma sabedoria biológica por trás desses sentimentos instantâneos. Quando nossos ancestrais confrontavam estranhos, os que identificavam de maneira mais rápida e precisa raiva, tristeza, medo ou felicidade na expressão do outro tinham mais chances de sobreviver e deixar descendentes. E deve haver um pouco de verdade na suposição de que as mulheres são, em média, melhores que os homens na leitura das emoções alheias, segundo a psicóloga Judith Hall, da Universidade Northeastern. Em um de seus estudos os voluntários assistiram a um vídeo de dois segundos e sem áudio que mostrava uma mulher transtornada. Os resultados revelaram que, entre os espectadores, elas intuíram com mais precisão que a personagem estava discutindo seu divórcio, em vez de estar simplesmente criticando o marido. Outros estudos comprovaram que as mulheres de fato são mais hábeis para descobrir mentiras e discernir se um homem e uma mulher têm de fato uma relação amorosa ou estão apenas blefando. 

Se a experiência é a base da intuição, então conforme aprendemos a associar pistas a sentimentos específicos, muitos julgamentos se tornam automáticos. Inicialmente, dirigir um carro exige concentração, mas com a prática se torna uma tarefa automática; as mãos e os pés do motorista parecem saber o que fazer de forma intuitiva, enquanto a mente consciente se ocupa com outros assuntos. 

A absoluta maioria das pessoas é capaz de aprendizados não conscientes. Estudos recentes feitos pelo psicólogo Tilmann Betsch, da Universidade de Heidelberg, “bombardearam” os participantes com informações sobre o desempenho de várias ações na Bolsa de Valores de Frankfurt durante alguns dias. Embora eles fossem incapazes de lembrar o desempenho dos ativos e a distribuição dos dividendos, as operações que realizaram revelaram um grau de sensibilidade impressionante.

Os poderes surpreendentes do pensamento que escapa à consciência também foram confirmados pelo psicólogo Ap Dijksterhuis, da Universidade de Amsterdã. Em experimentos recentes ele mostrou aos participantes informações complexas sobre anúncios de venda de apartamentos. Esses tinham de indicar sua preferência imediatamente após a leitura de mais de uma dezena de textos. Um segundo grupo teve vários minutos para ler os mesmos anúncios e analisar as informações de forma consciente, e foram os que, em geral, tomaram as decisões mais adequadas. As melhores escolhas ocorreram, porém, num terceiro grupo, cuja atenção foi distraída por alguns instantes, o que permitiu que suas mentes processassem os dados de forma inconsciente, resultando em julgamentos mais organizados e resultados mais satisfatórios. Ao defrontar decisões complexas que envolvem múltiplos fatores, o melhor talvez seja aguardar os resultados da ação intuitiva.

Em princípio, qualquer um pode adquirir conhecimentos intuitivos que permitam realizar sem esforço julgamentos e ações rápidas. Ainda assim, a psicologia está repleta de exemplos de pessoas inteligentes que cometem erros intuitivos previsíveis e algumas vezes custosos. Eles ocorrem quando nossa experiência nos expõe a uma amostra atípica ou quando pistas rápidas e fáceis nos tiram do caminho certo. 

Fonte: Mente e Cérebro

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