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Entenda por que nem todo magro é saudável e nem todo gordo está doente

Assim como ser magro não é sinônimo de saúde, estar acima do peso também não expõe automaticamente a pessoa a doenças. Magros que não se alimentam corretamente, não realizam atividades físicas e mantêm hábitos não saudáveis (como fumar e beber) estão mais expostos a problemas de saúde do que os gordinhos — gordinhos mesmo, não obesos — que se cuidam, praticam esportes, não fumam e ingerem alimentos e bebidas saudáveis.

Embora a base da constituição física comece na genética — ou seja, não pode ser modificada —, a maior parte dos fatores que levam um indivíduo a ter ou não uma boa saúde está ligada aos hábitos adotados durante a vida. Dito isso, a conclusão é quase óbvia: você pode ser magro e ainda assim ter doenças que seriam de pessoas acima do peso. Na prática, um "falso magro". Ou o contrário: pode ser gordo e não ter doenças. Clinicamente, um "falso gordo".

— Depende do que é o magro: se ele é atleta, se tem músculos ou se está magro de doente. Tudo está muito vinculado ao seu modo de vida. O fato de ter pouco peso por questão genética, mas se alimentar mal, ser sedentário e fumar faz com que a pessoa não seja saudável — afirma o médico Paulo Henkin, nutrólogo da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran). — Sobre o gordo, é preciso verificar se ele tem sobrepeso ou é obeso. Às vezes, o indivíduo tem peso aumentado porque malha muito. E isto não é problema — exemplifica Henkin.

Se manter uma rotina de exercícios e alimentação balanceada pode ser a "salvação" do organismo de um gordo ou um magro, essa regra não vale para os obesos. Para eles, os cuidados, a dieta e as atividades físicas devem ser maiores e, mesmo assim, apenas reduzem os riscos, mas não garantem uma saúde plena.

— A incidência de problemas depende de o quanto se está acima do peso. Mas o obeso nunca será saudável — sentencia Beatriz Pellin Moser, nutricionista clínica e oncológica, integrante do Conselho Regional de Nutricionistas do Estado (CRN-RS). — Outra questão é sabermos que tipo de gordura existe e onde ela se localiza. Também é adequado investigar o quanto de peso muscular e ósseo tem o indivíduo. O índice de massa corporal (IMC) não deve ser considerado sozinho — prossegue Beatriz.

Fisiculturista x obeso

De forma isolada, o IMC diz pouco sobre a saúde de uma pessoa. Exemplo: um homem com 1m72cm e 67 quilos tem 22,31 de IMC, taxa considerada normal para a combinação entre o seu peso e a sua altura. Mas se ele é magro e tem gordura acumulada no abdômen (a chamada "barriguinha de cerveja"), torna-se mais suscetível à síndrome metabólica. Conjunto de doenças que pode evoluir para problemas cardiovasculares, a síndrome resulta em uma taxa de mortalidade geral duas vezes maior do que na população normal. O risco de morte por problema cardiovascular é três vezes maior. Ou seja, no exemplo em questão, estamos falando de um falso magro, ou um magro com perfil de gordo.

— Um homem pode ter peso maior do que a média, mas, se tem genética boa e não tem colesterol alto ou aterosclerose, pode estar muito bem de saúde, melhor do que um magro com síndrome metabólica. Aquele barrigão pode levar a distúrbios importantes, principalmente cardíacos, renais e hepáticos — afirma o médico Giuseppe Repetto, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

O médico Marcio Nutels, pós-graduado em Nutrologia pela Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), explica que a gordura corporal excessiva gera um quadro inflamatório que possibilita o surgimento de várias doenças, como infarto, derrames, aumento da pressão, diabetes e até mesmo câncer. Por considerar apenas o peso e altura, prossegue Nutels, o IMC não é um bom parâmetro para análise da composição corporal.

— Duas pessoas com mesmo peso e altura sempre terão o mesmo IMC, mas podem apresentar composições corporais bem diferentes. Para entender melhor isso, basta fazer um comparativo entre um fisiculturista e um obeso. Se ambos tiverem o mesmo peso e altura, o IMC será o mesmo, porém, um apresenta muita gordura corporal, enquanto o outro tem muita massa muscular. Lembremos que massa muscular é sempre bem-vinda. Já a gordura corporal, não — sentencia.

DE OLHO NELES

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PERCENTUAL DE GORDURA CORPORAL

Uma das práticas básicas para a verificação de possíveis riscos do sobrepeso ou da obesidade à saúde é a medição do percentual de gordura corporal (quantidade de gordura de um indivíduo em relação à sua massa magra). Geralmente realizado por médicos ou nutricionistas por meio de um medidor de dobras cutâneas, o exame – que, entre outras variáveis, inclui o IMC – também pode ser calculado em algumas academias.

DISTRIBUIÇÃO DO PESO

Conforme o médico Marcio Nutels, na análise da composição corporal, é preciso avaliar como se encontra a distribuição do peso, a quantidade de massa muscular, a densidade óssea e a quantidade de líquidos intra e extracelular.

HISTÓRICO FAMILIAR

O endocrinologista Giuseppe Repetto afirma que um dos primeiros indicadores a serem verificados pelos médicos é a história familiar do paciente. Segundo ele, os profissionais da saúde têm de conhecer o indivíduo por fora, pelo histórico e também por dentro, pela bioquímica do sangue – metade pela dieta, metade pela genética. Por isso, são essenciais exames periódicos de colesterol, triglicerídeos, glicose e resistência a insulina.

– Um homem obeso, cujo pai morreu de infarto e a mãe sofreu um AVC, é uma pessoa de risco. Se, além disso, ele tiver glicose alta ou colesterol ruim elevado, temos mais um fator de risco. Há gordos que foram adquirindo fatores de risco durante a vida. Se for um gordo fumante, é muito pior do que um gordo não fumante. Se bebe e é sedentário, também – explica Repetto.

CIRCUNFERÊNCIA ABDOMINAL

O nutrólogo Leandro Minozzo diz que a circunferência abdominal é um indicador simples e que mostra informações importantes acerca da saúde de uma pessoa. Segundo ele, exames de composição corporal, como bioimpedância ou dexa (densitometria por dupla emissão de raios-X) podem ser úteis na avaliação da perda de peso ou mesmo no ganho de massa magra. O dexa, por exemplo, consegue dimensionar os principais componentes corporais, como massa óssea, massa muscular, água e massa gordurosa.

Obesidade exige outros cuidados

Pesquisas recentes sobre a relação entre obesos e a realização de atividades físicas não são unânimes sobre os impactos dos exercícios sobre a saúde. Em 2015, um estudo publicado na revista científica International Journal of Epidemiology apontou que a prática regular de atividades físicas por quem estava quilos acima do peso ideal não reduz o risco de morte prematura.

Realizada por cientistas suecos, a pesquisa acompanhou mais de 1,3 milhão de homens, a partir dos 18 anos, durante um período de 29 anos. Os resultados mostraram que os magros e sedentários tinham 30% menos risco de morrer de doenças como câncer e problemas cardíacos do que os que estavam acima do peso, mas realizavam atividades físicas. Entre os obesos, não se observou nenhum benefício dos exercícios.

Já um estudo publicado no mesmo ano pela Federação Mundial de Cardiologia indicou que quem não pratica exercícios regularmente, incluindo os magros, tem o dobro de risco de sofrer de problemas cardiovasculares, diabetes e hipertensão. Outra pesquisa, realizada pela Revista Europeia do Coração, mostrou que o risco de morte por doenças cardíacas e câncer cai de 30% a 50% quando o indivíduo obeso realiza algum tipo de atividade física.

Apesar de os estudos não serem conclusivos, especialistas são taxativos quanto à importância de as pessoas procurarem manter-se dentro do peso e do percentual de gordura ideais para a sua estrutura física.

— Em geral, estar acima do peso é mais perigoso: o excesso de peso pode ser o start para o desenvolvimento de doenças crônicas, como hipertensão arterial, doenças cardiovasculares e diabetes, entre muitas outras — adianta a nutricionista Jacqueline Schaurich dos Santos.

Na opinião do nutrólogo Leandro Minozzo, a obesidade é uma questão a ser combatida em âmbito governamental:

— Não podemos estimular a crença no mito do obeso saudável. Isso pode ser prejudicial em termos de saúde pública. Hoje, temos uma em cada quatro mulheres brasileiras obesas e um crescimento alarmante de obesidade infantil e na adolescência.

Fonte: Zero Hora

 

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