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Superbactérias podem se tornar a principal causa de morte no mundo

O cenário é sombrio. Se nada for feito nas próximas décadas, infecções causadas por bactérias resistentes a antibióticos serão a principal causa de morte no mundo a partir de 2050, com cerca de 10 milhões de vítimas por ano. O prognóstico alarmante foi dado por Carmem Lúcia Pessoa da Silva, 58, brasileira que coordena a área de resistência aos antimicrobianos da OMS (Organização Mundial da Saúde), durante o 20º Congresso Brasileiro de Infectologia, realizado no Rio. Além do custo humano –hoje na casa das 700 mil vítimas anuais–, essa ameaça à saúde global poderá ter enorme impacto econômico. "Mantido o quadro atual, estudos estimam que as perdas financeiras a partir de 2050 serão da ordem de US$ 100 trilhões por ano", disse Silva à Folha.

Tal cálculo leva em conta a perda de mão de obra decorrente de mortes precoces, os custos dos tratamentos de saúde, entre outras variáveis. O surgimento de micro-organismos resistentes é um processo natural e inevitável. O uso de antibióticos, com o tempo, seleciona bactérias resistentes às drogas utilizadas. O uso incorreto ou abusivo de antibióticos, porém, acelera o processo. "Usá-los de forma desnecessária, num tempo menor do que o prescrito ou o tipo inadequado favorece o aparecimento de superbactérias", disse Silva.

Outro motor importante desse processo é o uso dessas drogas na pecuária e na agricultura. "Quando se considera o volume total de antibióticos utilizado no mundo, a maior parte é para uso em animais". Nos Estados Unidos, um dos maiores exportadores de carne no mundo, estima-se que 80% de todos os antibióticos sejam utilizados na agropecuária. No Brasil, essa taxa gira em torno de 70%.

Após serem eliminados pelos animais, resíduos desses medicamentos acabam contaminando o solo e lençóis freáticos, por exemplo. Como se não bastasse, os próprios bichos também acabam se tornando laboratórios vivos para a seleção de bactérias resistentes.

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FUTURO

Um dos fatores que podem impedir um mundo dominado por superbactérias são novas drogas. No entanto, há mais de 30 anos não chega ao mercado uma nova classe de antibióticos. De acordo com Pessoa da Silva, o desinteresse da indústria, somado à dificuldade e o alto custo de desenvolvimento, está por trás da carência de novas drogas.

Diante disso, a coordenadora da OMS defende que o setor público deveria investir recursos nas farmacêuticas. "Mas com a contrapartida de ter participação no processo decisório: o que ser desenvolvido, como distribuir etc".

Apesar das dificuldades, Silva é otimista. "Nunca houve no mundo tanto engajamento e vontade política para enfrentar esse problema, até porque não há outra saída". Em 2015, a OMS lançou um plano global para combater a resistência antimicrobiana, instando os países a desenvolver seus planos nacionais. O Brasil prevê que o seu plano, ainda em preparação, entre em vigor em 2018.

Fonte: Folha

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