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Novo estudo reforça conhecido fator de risco para doenças cardiovasculares: obesidade

Mais um estudo derruba o mito do “gordinho saudável”. Desta vez, pesquisadores liderados por Matthias Schulze, do Instituto Alemão para Nutrição Humana de Potsdam-Rehbruecke, analisaram dados de mais de 90 mil enfermeiras americanas participantes de um amplo levantamento de longo prazo sobre saúde da mulher nos EUA e verificaram que aquelas que estavam com sobrepeso ou obesas apresentaram maior risco de sofrer com doenças cardiovasculares mesmo se seus exames metabólicos tinham resultados considerados “normais”.

Conhecido fator de risco para doenças cardiovasculares, o peso acima do “ideal” — apontado como um índice de massa corporal (IMC) de até 25, calculado dividindo o peso em quilos pelo quadrado da altura em metros — levaria ao desenvolvimento dessas doenças ao provocar perturbações metabólicas como hipertensão, diabetes do tipo 2 e colesterol alto. Algumas pessoas com sobrepeso ou obesas (IMCs acima de 25 e de 30, respectivamente), no entanto, não apresentam estes problemas, sendo classificadas como “metabolicamente saudáveis”.

Esta situação, na qual até cerca de um terço das pessoas obesas está, levou então ao surgimento do mito do “gordinho saudável”, e gerou intensos debates entre os especialistas sobre sua possibilidade. Porém, estudos recentes estão mostrando ser cada vez mais improvável. E esta nova pesquisa vai no mesmo caminho.

O estudo, que é observacional, buscou associações entre sobrepeso e obesidade com casos de infarto e derrame em 90.257 mulheres com entre 30 e 55 anos originalmente livres de doenças cardiovasculares. Ela faziam parte do intitulado Estudo de Saúde de Enfermeiras dos EUA, iniciado em 1976. As mulheres foram divididas em grupos segundo seu IMC e sua saúde metabólica, definida como a ausência dos três problemas principais do tipo: hipertensão, diabetes do tipo 2 e colesterol alto.

A classificação de cada uma das mulheres nestes grupos foi reavaliada a cada dois anos, entre 1980 e 2010. Neste período, foram registrados 6.306 novos casos de doenças cardiovasculares entre elas, incluindo 3.304 infartos e 3.080 derrames, fatais ou não.

Ajustando para outras condições e fatores de risco como idade, tabagismo, atividade física, consumo de álcool, etnia, nível educacional, uso de aspirina, menopausa e histórico familiar de ataques cardíacos e diabetes, os pesquisadores verificaram que as mulheres com sobrepeso mas “metabolicamente saudáveis” apresentavam uma chance 20% maior de terem sofrido um destes episódios do que as que tinham peso na faixa do “ideal” e também eram “metabolicamente saudáveis”. Esse risco sobe para 39% maior no caso das obesas também “metabolicamente saudáveis”.

— Nosso grande estudo confirma que a obesidade metabolicamente saudável não é uma condição inofensiva, e mesmo mulheres que permanecem livres de problemas metabólicos por décadas enfrentam um risco maior de eventos cardiovasculares — resume Schulze, também principal autor de artigo sobre o levantamento, publicado nesta quarta-feira no periódico científico “The Lancet Diabetes & Endocrinology”. — Mais do que isso, observamos que a maioria das mulheres provavelmente vai desenvolver diabetes do tipo 2, hipertensão ou colesterol alto com o tempo independentemente de seu IMC, o que as coloca em um risco muito maior de doenças cardiovasculares.

De fato, o estudo também verificou que 64% das mulheres que tinham peso dentro da faixa do “ideal” e 84% das obesas que inicialmente eram metabolicamente saudáveis acabaram desenvolvendo algum problema do tipo num prazo de 20 anos. Por fim, a pesquisa mostrou que mesmo as obesas que continuaram metabolicamente saudáveis acima deste período ainda apresentaram um risco 57% maior de passarem por algum episódio cardiovascular do que as mulheres com peso dentro do “ideal” nas mesmas condições.

— A manutenção da saúde metabólica é um desafio para as mulheres com sobrepeso e obesas, mas também para as com peso normal — conclui Schulze. — Nossos achados destacam a importância de prevenir o desenvolvimento de doenças metabólicas e sugerem que mesmo indivíduos com boa saúde metabólica podem se beneficiar de intervenções comportamentais precoces, como melhorar sua dieta e aumentar a atividade física, de forma a se resguardarem da progressão de doenças metabólicas.


Fonte: O Globo

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