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Esclareça mitos sobre a fibromialgia, síndrome que causa dores e desânimo

Fadiga, indisposição, distúrbios do sono e, principalmente, dor. Estas são as principais manifestações da fibromialgia, uma forma de reumatismo – pois envolve músculos, tendões e ligamentos – associada à forte sensibilidade frente a um estímulo doloroso. Nesta síndrome a dor é a própria doença, e não o alarme de algo a ser descoberto. E, com incômodo constante em diversas partes do corpo, é difícil manter a qualidade de vida.
\"Sentindo dor sem um motivo aparente, o indivíduo sofre também com mudanças de humor, como irritabilidade e ansiedade\", destaca Cláudio Correa, coordenador do Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital Nove de Julho (SP) e presidente do Instituto Simbidor (SP).
\"Além das alterações emocionais, são muito comuns a indisposição e a falta de energia\", completa Suely Roizenblatt, especialista em reumatologia e professora adjunta da disciplina de Clínica Médica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que desenvolve estudo sobre a fibromialgia desde 1990.
O paciente ainda pode ser acometido por sonolência, sensação de edema nas mãos, dor de cabeça, síndrome do cólon irritável (diarreia crônica) e outros distúrbios gastrointestinais, síndrome de Raynaud (alteração temporária na coloração da pele) e bruxismo (ato de apertar e ranger os dentes durante a noite).
Mulheres
A fibromialgia é prevalente em mulheres - em uma proporção de dez para cada homem com o problema -, especialmente na faixa etária entre 36 e 60 anos. Estudos com crianças, adolescentes e grupos especiais são escassos e pouco conclusivos.
No Brasil, o número de diagnósticos vem crescendo. Em 2004, segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia, a fibromialgia afetava cerca de 2% da população e era motivo de aproximadamente 15% a 20% das consultas em ambulatórios de reumatologia. Hoje, acredita-se que acometa até 10% da população, de acordo com a Associação Brasileira de Fibromiálgicos (Abrafibro). A maioria dos casos (cerca de 80%) é de mulheres acima dos 25 anos.
Mesmo com o tratamento adequado, a cura nem sempre é garantida. \"Muito embora a fibromialgia seja conhecida e estudada há muitos anos, ainda não se chegou a uma conclusão sobre sua origem. Por isso, não há um caminho a percorrer ou mesmo garantia quando o propósito é a cura. O grande desafio, no momento, é fazer com que a adesão ao tratamento aconteça\", analisa Correa.
Alarme defeituoso
Quem apresenta o distúrbio tem maior suscetibilidade à dor e uma falha na modulação da mesma: quando ela é desencadeada, fica difícil inibi-la. \"É como um alarme defeituoso, que dispara por qualquer razão e não para de soar\", destaca Moisés Cohen, professor e chefe do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Unifesp, diretor do Instituto Cohen de Ortopedia, Reabilitação e Medicina do Esporte (SP).
O organismo é afetado por inteiro. \"Trata-se de uma condição sistêmica – acomete todo o corpo – e crônica, que evolui com períodos de exacerbação e remissão. Nesse sentido, o tratamento deve ser o mais abrangente possível\", completa Alexandre Walter de Campos, neurocirurgião responsável pelo Ambulatório de Dor do Hospital São Camilo (SP).
Em pesquisa feita em 2002 pela \"Arthritis & Rheumatism\", revista oficial do Colégio Americano de Reumatologia, com 20 mulheres diagnosticadas com o mal e dez sem a doença, estudiosos detectaram alterações no cérebro daquelas com fibromialgia. O processo de análise incluiu uma tomografia computadorizada.
Foi possível, então, observar que as que sofriam da doença apresentavam modificações no fluxo sanguíneo na região cerebral conhecida por mensurar a intensidade da dor. \"E tais alterações se mostraram proporcionais à gravidade da disfunção\", atesta o cirurgião vascular Wilson Rondó, especializado em medicina preventiva molecular e terapias antioxidantes pelo The Robert W. Bradford Institute (EUA).
Tratamentos
O tratamento envolve três pilares fundamentais, segundo Campos: medicamentos, em geral moduladores de humor que atuam em vias nervosas e alteram a concentração de alguns neurotransmissores; acompanhamento psicológico e eventualmente psiquiátrico, para ajudar em quadros ansiosos ou depressivos e dar suporte às limitações impostas que comprometem a qualidade de vida; e reabilitação e o condicionamento físico, necessários para reduzir a hipersensibilidade dolorosa musculoesquelética.
O exercício físico, aliás, é muito recomendado. \"Ele atua de forma direta na dor e nos sintomas oriundos da patologia, como ansiedade e depressão\", considera Robson Donato de Souza, personal trainer da Academia Competition \"Salvo quem apresenta alguma contraindicação, todos os pacientes se beneficiarão ao praticar de forma regular.\"
A psicoterapia e o acompanhamento psiquiátrico também entram em cena se o indivíduo apresentar instabilidade emocional e quadros depressivos. \"Na maioria das vezes, o portador não se sente física e emocionalmente saudável\", diz o neurocirurgião Cláudio Correa. Isso acontece, em parte, porque os fibromiálgicos normalmente são desacreditados por não apresentarem sinais físicos evidentes e tampouco exames laboratoriais e de imagem que comprovem sua disfunção.
E há outras formas de terapia que podem se somar às tradicionais, como a hipnose dinâmica, a acupuntura e a eletroterapia, que emprega a estimulação elétrica com o objetivo de aliviar os desconfortos, o emprego de antioxidantes e dietas especializadas. \"Em relação à hipnose, ela desvia a atenção do problema para que o cérebro não o perceba ou o interprete de maneira diferente\", explica o psiquiatra Leonard Verea, especializado em medicina psicossomática e hipnose dinâmica.
Wilson Rondó recomenda, por sua vez, um programa que inclua alimentação individualizada. \"Muitos pacientes têm alergia alimentar. Passando a comer de acordo com seu tipo metabólico, é possível promover uma considerável melhora no quadro.\"
MITOS x VERDADE
Não existem exames que confirmem o diagnóstico da fibromialgia. 
VERDADE: a doença não será detectada em exames como radiografia, ressonância magnética ou simples testes de sangue ou urina. Por isso, a experiência clínica e a habilidade do profissional são importantes para descobrir o problema e indicar o tratamento adequado. \"Na verdade, os exames são utilizados para descartar outras doenças que podem ser confundidas com a fibromialgia, como hipotireoidismo ou polimialgia reumática\", ressalta o professor Moisés Cohen, chefe do Departamento de Ortopedia e Traumatologista da Unifesp. \"Espera-se que o indivíduo apresente áreas diferentes de dor, em associação a outras expressões da síndrome, para se firmar o diagnóstico\", completa a médica Suely Roizenblattem, especialista clínica médica e reumatologia, . \"Foram definidos 18 pontos e, para se confirmar a existência da moléstia, é necessário ter hipersensibilidade dolorosa em pelo menos 11\", conclui o neurocirurgião Alexandre Walter de Campos, responsável pelo Ambulatório de Dor do Hospital São Camilo.
A fibromialgia é uma forma de artrite. 
MITO: como não causa inflamação ou dano a articulações, músculos, tecidos ou órgãos, não pode ser considerada como uma manifestação de artrite, embora frequentemente esteja associada a ela. De qualquer forma, vários sintomas são comuns aos dois males, como problemas de concentração e memória, dor de cabeça, formigamento nas extremidades, dormência nos membros e transtornos de humor.
Não se sabe, ainda, por que a fibromialgia acontece. 
VERDADE:
 os estudiosos acreditam que alguns fatores, isolados ou combinados, favorecem o problema, como mudanças hormonais, lesões repetitivas ou traumas emocionais. Sedentarismo, tensão, ansiedade e depressão seriam outros gatilhos para o problema. \"Recentemente, foram identificados três genes que aumentariam o risco de uma pessoa ter fibromialgia. Tais genes também estariam relacionados com doenças inflamatórias como a febre familiar do mediterrâneo, de manifestações semelhantes\", informa a reumatologista Suely Roizenblatt. De qualquer forma, é consenso na classe médica que ainda faltam pesquisas para confirmar a relação com fatores genéticos ou hereditários.
A doença ataca mais as mulheres. 
VERDADE: acredita-se que 80% a 90% dos casos sejam de pessoas do sexo feminino, sendo que o pico da doença se dá entre os 30 e 50 anos. \"As mulheres de meia idade são três vezes mais vulneráveis do que os homens por questões ligadas à sua constituição física e a aspectos hormonais, neurológicos e emocionais. Elas tendem a passar 70% do seu dia em atividades que apresentam baixo dispêndio de energia e seu sistema musculoesquelético é mais frágil do que o dos homens. Embora existam controvérsias, o estrógeno parece estar envolvido nas manifestações, de modo que as mulheres apresentam acentuação dos sintomas de dor na primeira fase do ciclo menstrual. Quando chegam à menopausa, pioram as queixas de dor e de distúrbios do sono e de humor\", salienta a reumatologista Suely Roizenblatt. No que se refere ao sistema nervoso, as mulheres produzem menos serotonina, neurotransmissor ligado à suscetibilidade à dor. \"Além disso, as áreas de processamento da dor são diferentes nos dois sexos, o que pode contribuir para a cronificação, nelas, dos sintomas\".
A depressão está associada à fibromialgia. 
PARCIALMENTE VERDADE: embora ainda faltem estudos para apontar as causas da doença, os estudiosos acreditam que a depressão é um dos fatores que podem desencadeá-la. \"E, após o diagnóstico, por sentir dor e desconforto em vários locais do corpo, além de alterações no sono e outros sintomas, o paciente não raro sofre com este transtorno\", diz o médico Cláudio Correa, coordenador do Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital Nove de Julho. Segundo um artigo clássico do pesquisador Don Goldenberg, reumatologista chefe do Newton Lower Falls de Massachusetts (Boston, EUA), entre 50% e 70% dos fibromiálgicos têm ou tiveram no passado síndrome de fadiga crônica, síndrome do intestino irritável, enxaqueca ou depressão. \"É importante que o portador mantenha uma vida produtiva em todas as esferas - pessoal, social e profissional -, completa o neurocirurgião Alexandre Walter de Campos
Fonte: UOL
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