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Carpe diem: o que fazer para aproveitar a vida com leveza?

Normalmente traduzido como “aproveite o dia”, carpe diem é um dos ideais filosóficos mais antigos da cultura ocidental. Ele remete a algumas poucas linhas escritas pelo poeta romano Horácio, em 23 a.C., que dizia “enquanto falamos, foge o tempo invejoso: colha o dia; confiando pouco no que virá.”

Com essas palavras, Horácio levantou a questão existencial máxima – como devemos viver diante da realidade da nossa mortalidade? Eu passei os últimos anos examinando a história do carpe diem e um padrão com três interpretações essenciais da expressão ao longo dos séculos (apareceu). Encontrei um conjunto de maneiras que a humanidade desenvolveu para aproveitar o dia.

Tornem suas vidas extraordinárias

O sentido mais comum é aproveitar oportunidades que podem desaparecer e ser perdidas para sempre – a oportunidade, digamos, de mudar de carreira, ou de fazer as pazes depois de uma discussão com seu parceiro. É assim que a frase aparece no filme Sociedade dos Poetas Mortos, em que o ator Robin Williams, interpretando o inspirador professor de inglês Mr. Keating, encoraja seus alunos a embarcar no caminho da vida aventurosa: “Carpe diem… Aproveitem o dia, garotos, tornem suas vidas extraordinárias.”

Viva o presente

Um segundo ponto de vista é que aproveitar o dia diz respeito a viver o momento presente, a uma imersão no aqui e no agora. Essa é uma interpretação do lema de Horácio historicamente sem precedentes, que teria causado confusão há um século, mas que, atualmente, corresponde a cerca de 20% das referências da mídia à expressão. Essa mudança se deve principalmente ao surgimento do movimento global de mindfulness, que enfatiza “a consciência do momento presente”. Nós devemos garantir que essa interpretação relativamente restrita do carpe diem não exclua a rica variedade de sentidos que emergiram ao longo dos últimos dois milênios.

Recupere a espontaneidade

Outra abordagem popular – e que nos interessa particularmente aqui – é entender carpe diem como um comando para viver mais espontaneamente, jogar os planos e rotinas ao vento. Essa perspectiva é atraente hoje, quando tantas pessoas se sentem presas por seus calendários eletrônicos e estão lutando contra uma enxurrada de e-mails, mensagens e tuítes, que não deixa tempo para ações espontâneas. Quando foi a última vez que você jogou seus planos fora e fez algo inesperado? Se tiver um tempo, pergunte a si mesmo: a espontaneidade foi sequestrada pela nossa cultura de tempo hiperorganizado?

Estratégias para experimentar o espontâneo

Então, como podemos recuperar nossa espontaneidade? Levantei sete estratégias que podem funcionar. A primeira delas diz respeito a experimentar mais a vida ou se propor a fazer algo que você não faria normalmente. Por exemplo, suba em um ônibus qualquer para um destino desconhecido; ou saia para andar fazendo curva sim, curva não; ou desenhe um caminho qualquer no mapa da cidade e siga essa rota. A ideia desses exercícios é desenvolver o hábito de viver improvisadamente, sem planejamento. Isso servirá como um ponto de partida para trazer esse mesmo improviso – e leveza – para o seu cotidiano.

Planeje sua espontaneidade, é isso mesmo!

Minha segunda sugestão é que planeje a sua espontaneidade com afinco. Isso talvez soe contraditório, mas uma das melhores maneiras de desafiar a cultura do “apenas planeje” é virá-la contra ela mesma. Sim, planeje alguma espontaneidade: pegue sua agenda e programe alguns blocos de tempo para ações espontâneas. Eu gosto de planejar espontaneidade entre as 15h e 18h, nas tardes de domingo. Quando chega esse horário, não tenho ideia do que vou fazer, e me motivo a inventar algo fora do cotidiano, como fazer um piquenique embaixo de uma árvore com meus filhos.

Espírito carnavalesco

A terceira estratégia é a que chamo de “recuperar o espírito carnavalesco”. No passado, acredite, éramos muito mais espontâneos do que somos hoje. Pense nos carnavais da sua infância, quando você se fantasiava, cantava e dançava sem achar que aquilo poderia parecer ridículo. Então, recupere esse espírito e vá a um equivalente moderno, como um festival de música ou um bloco de rua.

Dieta digital

Quarta sugestão: comece uma dieta digital. Na nossa era de distração digital, estamos tão ocupados clicando e deslizando os olhos na tela, que mal notamos as coisas interessantes (e às vezes incríveis) que acontecem ao nosso redor. A solução? Coloque-se em uma dieta digital. Dá para usar um aplicativo como o Checky, que grava com que frequência você checa seu telefone a cada dia para ajudar a impedi- -lo de fazer isso (os resultados podem ser assustadores), ou experimente o clássico Freedomapp, que bloqueia seu acesso à internet por períodos programados de tempo. Quando meus amigos vêm à minha casa, às vezes sugiro que deixem seus telefones numa caixa no corredor, assim como comensais medievais precisavam deixar suas armas na porta.

Pratique a paixão

Praticar sua paixão é minha quinta estratégia sugerida. Espontaneidade não é só sobre ações não planejadas aleatórias: ela também é sustentada pela prática. O pintor Pablo Picasso passou anos aprendendo técnicas tradicionais de desenho antes de se sentir capaz de se libertar e ser mais espontâneo, desenhando um cisne ou um centauro com uma única linha, em um instante. Então cada um de nós pode perguntar a si mesmo: há uma arte ou habilidade específica que eu posso cultivar e praticar até o ponto de me sentir livre para quebrar as regras e agir espontaneamente?

Aprenda como as crianças

Por fim, permita-se aprender com as crianças. Muitos de nós éramos espontâneos quando crianças. Seria sagaz buscar inspiração para viver espontaneamente, seguindo o exemplo dos pequenos. Outro dia, minha filha de oito anos viu um gramado com um desnível e começou a rolar. Eu segui o exemplo dela e rolei em seguida. Tenho que agradecê-la por ter me dado aquele momento de vivacidade radical. Espontaneidade demais pode, é claro, tornar sua vida caótica – então, não exagere. Mas, se você por acaso notar que há falta disso na sua rotina – ou excesso de planejamento –, levante-se contra a cultura do “apenas planeje” e aproveite o agora.

Fonte: Revista Vida Simples / Por Roman Krynaric 

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