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Um retrato frágil de Steve Jobs

\"Jobs\" é uma produção desacreditada desde o anúncio de seu protagonista. A despeito do salário astronômico na TV, Ashton Kutcher (\"Two and a Half Men\") sempre foi um ator de segundo escalão. Raramente teve oportunidade de mostrar seus dotes dramáticos - e exceções como \"Efeito Borboleta\" e \"Anjos da Vida\" não impressionaram. A relativa semelhança física com o cinebiografado lhe serve de única credencial ao cargo de Steve Jobs (1955-2011), o genial fundador da Apple, cujas invenções ainda repercutem no mundo moderno. Mark Zuckerberg ganhou um retrato muito mais digno no cinema, sob a direção de David Fincher, e foi apenas o criador do Facebook, uma rede social que periga ser substituída por outra a qualquer momento.
Já a lista de realizações de Jobs é imensa. Quando ainda era um hippie que se negava a calçar sapatos, revolucionou a empresa Atari, colaborando no desenvolvimento de games coloridos. Pela mesma época, vislumbrou o futuro dos computadores domésticos e criou sua própria empresa (a Apple, claro). 
O quartel-general era a garagem da casa dos pais e sua linha de produção consistia em meia dúzia de \"nerds\". Em poucos anos, a Apple tornaria-se uma megacorporação, sediada num imponente prédio comercial em Cupertino (Califórnia). Lá, Jobs promoveu outra revolução, lançando o primeiro Macintosh.
O Mac teria sido maior se Bill Gates não tivesse aperfeiçoado o programa e lançado a Microsoft. \"Jobs\" reconstitui a indignação do protagonista, quando ele põe Gates no telefone para chamá-lo de \"psicopata criminoso sem imaginação\". O fiasco comercial do primeiro Mac fez ruir o seu império. Acionistas da Apple trataram de tirar Jobs do comando. Desempregado, teve tempo de meditar sobre suas relações pessoais, postas em último plano em favor de sua carreira e ambições.
\"image\"\"Jobs\" mostra maior fragilidade nessa transição dramática. Há pouco espaço no filme para desenvolvê-la - e Kutcher, em sua performance mais esforçada, acaba sendo prejudicado. Os roteiristas tomaram cuidado em não enaltecer o protagonista, frisando sua faceta de capitalista selvagem. Há um grande desequilíbrio entre essa abordagem e posterior tentativa de redimir o personagem. Sua maior conquista pessoal acaba sendo o retorno à Apple - e a triunfante invenção do iPod.
A história de Steve Jobs pede uma cinebiografia definitiva, mas, por hora, esta aqui não será necessariamente um desperdício de tempo. A cronologia de Jobs é repassada pontualmente e o longa tem um bom ritmo, além de uma respeitável trilha sonora (com Bob Dylan, Cat Stevens e temas de Bach e Chopin).
\"Jobs\"
EUA - 2013. 
Dir.: Joshua Michael Stern 
Distribuição: PlayArte 
BB+
AAA Excepcional / AA+ Alta qualidade / BBB Acima da média / BB+ Moderado / CCC Baixa qualidade / C Alto risco
Fonte: Valor Econômico
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