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Testosterona esculpe o corpo, mas pode causar câncer, infertilidade e problemas no coração

Testosterona. Hormônio masculino que aumenta a massa magra, esculpe os músculos, dá mais força e turbina a libido, mas pode causar sérios danos como problemas cardiovasculares, infertilidade e câncer de próstata quando usado sem necessidade. No Brasil, segundo o Sistema de Acompanhamento de Mercado de Medicamentos (Sammed), a partir de dados dos Relatórios de Comercialização encaminhados anualmente pelos laboratórios fabricantes e divulgados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), as vendas de medicamentos que contêm testosterona como princípio ativo (injetável ou cápsula gelatinosa) aumentaram 55% entre 2004 e 2012 só entre os registrados e em suas embalagens originais, sem contar os manipulados.

Nos Estados Unidos, o uso por homens de 40 anos ou mais quadruplicou entre 2001 e 2011, e ao fim deste período, um em cada 25 homens de 60 anos já tomava o hormônio. Na semana passada foi divulgado um relatório sobre o aumento de risco cardiovascular em homens acima de 65 anos que faziam uso da substância, assim como nos mais jovens com histórico de doenças cardíacas. E aí a FDA, agência americana que regulamenta alimentos e medicamentos, anunciou que vai rever a segurança dos produtos comercializados e investigar índices de derrames, ataques cardíacos e mortes associados a essas drogas.

No Brasil, a venda de testosterona é controlada pela receita de controle especial em duas vias e consta na lista C5 da Portaria 344/98 de substâncias anabolizantes da Anvisa. Mas nada impede que uma fórmula com a substância seja manipulada, bastando para isso a receita médica comum. Na Dasa, empresa de medicina diagnóstica que abrange os laboratórios Sérgio Franco, Lâmina e Bronstein, entre outros, aproximadamente 700 exames de testosterona total são feitos por dia. Aqueles com resultados muito altos são encaminhados para os médicos e, destes, de sete a dez por dia apresentam alterações por uso abusivo de medicamentos com testosterona ou uso de nutracêuticos, suplementos vendidos em lojas de esportes e academias para aumento de massa muscular.

- Esses são vendidos como suplementos de proteína mas contêm testosterona na fórmula sem constar no rótulo - diz a endocrinologista Rosita Fontes, do laboratório Sérgio Franco, que aponta como principais consequências deste mau uso do hormônio a piora da hipertensão, aumento de retenção de líquido, alterações hepáticas e infertilidade em homens.

Dependência de hormônio externo

Há muitos anos Maria usa, em dias alternados, um creme à base de testosterona recomendado por seu ginecologista, com o objetivo de aumentar a libido. Mas além de mais desejo, ela observou um ganho de força e disposição, sem contar os benefícios estéticos.

- Eu malho muito, acho que isso ajuda, acho que não tem a ver com o creme - suspeita.

O urologista Renato Muglia, do setor de esterilidade masculina do Hospital dos Servidores do Estado, explica que em casos em que a reposição do hormônio é feita por conta própria e sem acompanhamento médico, começa a haver bloqueio no mecanismo natural de produção: o testículo simplesmente para de produzir testosterona. Mulheres obviamente não correm este risco, mas começam a apresentar características masculinas, como queda de cabelo e aumento de pelos no corpo.

- Um dos maiores riscos em homens é o aparecimento do câncer de próstata, tanto que quem precisa do hormônio e faz reposição com médico tem um controle periódico disso - diz. - Há um tempo atrás a moda era tomar hormônio tireoideano para emagrecer, mas é importante saber que, nos dois casos, há um descontrole hormonal e a pessoa passa a depender de hormônio externo, porque para de produzir.

Durante anos uma combinação de estrogênio e progesterona foi usada para tratar sintomas da menopausa, como ondas de calor, alterações de humor e baixa libido, porque acreditava-se que o estrogênio protegia as mulheres de doenças cardíacas. Agora, testes da “Women’s Health Initiative” mostraram que em vez de proteger, a combinação em questão aumenta os riscos de coágulos, derrames e câncer de mama.

Já há pedidos para que exames nos mesmos moldes sejam feitos para testar os benefícios para a saúde do tratamento com testosterona em homens. Os institutos de saúde americanos estão patrocinando um grande ensaio clínico randomizado controlado, chamado “T trial”, para ver se homens mais velhos que tomam testosterona sentem melhora nas funções físicas, sexuais e cognitivas, e se o hormônio reduz os fatores de risco para doenças cardíacas e diabetes.

Para Claudio Gil de Araújo, diretor médico da Clinimex, especializada em medicina do esporte, a única explicação para o uso do hormônio seria a reposição por deficiência, o chamado hipogonadismo, mas como todos gostam de resultados rápidos, não é bem assim que funciona.

- As pessoas gastam 30 anos para chegar aos 100 kg e querem perder tudo em uma semana - observa. - Pode ser que alguém tome testosterona e não dê em nada, mas um câncer de próstata que aparece aos 60 anos pode ter início aos 30 anos e o jovem tem uma mentalidade imediatista, diz sempre que não sabe se estará vivo até lá.

A endocrinologista Isabela Bussade, mestre pela UFRJ e responsável científica da empresa PronoKal, acredita que só um médico pode diagnosticar e definir o uso correto de testosterona para evitar o uso recreativo.

- O ganho de peso, por exemplo, ocasiona uma queda de testosterona, mas o tratamento correto é tratar a obesidade, não fazer reposição de testosterona - exemplifica o critério médico e ressalta que, além dos danos ao coração e do câncer de próstata, doenças hematológicas e do metabolismo são decorrentes do mau uso do hormônio.

Fonte: O Globo

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