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Profissionais pedem acesso imediato aos dados de saúde

Precisa negociar suas ações preferidas enquanto está em casa de pijamas? Sem problema. Comunicações ponto-a-ponto de alta velocidade já fazem parte de empresas de corretagem há muito tempo. Negociar ações um milésimo de segundo mais rápido que seu competidor pode trazer grandes lucros. Mas se você precisar enviar imagens de uma tomografia computadorizada para Dallas, a partir de Detroit, o processo será menos eficiente e pode muito bem acabar criando um exame repetido. Em 2014, o médico comum ainda processa mais de 1.100 faxes todos os meses.

O contraste entre o sistema financeiro e a medicina destaca o estado deplorável da conectividade de dados na área da saúde. A transmissão de informações básicas de consumidores – algo que se considera trivial em qualquer outra indústria – ainda é uma tarefa heroica no mundo da medicina. E o preço que os clientes pagam, tanto em conveniência quanto em segurança, é significativo. Diagnósticos são feitos e tratamentos selecionados sem acesso ao histórico médico completo do paciente.

A realização de testes redundantes devido à falta de informações é aceita como algo natural. Folhas manchadas e falta de acompanhamento põem pacientes em risco diariamente. Até mesmo a velocidade e a abrangência de pesquisas médicas sofrem, já que o acesso limitado a conjuntos de dados prejudica análises rápidas.

A origem desses problemas está em modelos ineficientes de negócios e leis bem-intencionadas, mas atualmente ultrapassadas. Ambos precisam mudar se quisermos melhorar o fluxo de informações médicas.

Na área da saúde, a maior parte das empresas de tecnologia da informação (TI) continuam a se prender teimosamente a um modelo ultrapassado de negócio. Elas cobram valores astronômicos por aquisições de softwares e estabelecem taxas exorbitantes por contratos de serviços continuados. Enquanto as vendas são realizadas, elas continuam a prosperar.

Se seus clientes têm dificuldades de adaptação ou não obtêm resultados... elas ainda prosperam. Não existe incentivo para que as informações fluam livremente por esses sistemas, e as empresas que os vendem estão lucrando enquanto ajudam a armazenar informações vitais em depósitos particulares de dados.

Empresas de TI que trabalham na área da saúde e não conseguem apoiar o fluxo livre de informações podem ver uma vantagem de curto prazo para seus negócios, mas qualquer modelo de negócio tão distante da utilidade social está destinado ao fracasso no longo prazo. É muito melhor inovar, reinvetar e evoluir.

Os ferozes competidores da indústria de serviços financeiros há muito tempo concluiram que prosperariam muito mais se as informações fluíssem. É hora de os vendedores de TI da área da saúde seguirem seus passos: competir em dimensões de serviços que beneficiem pacientes; criar fluxos de trabalho que permitam que médicos usem ao máximo suas habilidades; e apoiar modelos inovadores de cuidados com a saúde. A CommonWell Health Alliance, uma cooperativa multi-industrial que avança a interoperabilidade de dados de pacientes, é um promissor passo inicial nessa direção.

O governo também tem seu papel. Se os dados precisam se mover sem interrupções na saúde, é preciso que corporações, entidades com fins lucrativos e empresários recebam incentivos financeiros para fazê-los se mover. Atualmente, porém, a maior parte disso é ilegal. Leis ultrapassadas anti-propina proíbem que organizações de saúde cobrem pela transmissão segura de informações médicas. Essas leis devem ser aliviadas para permitir que negócios inovadores construam um mercado sustentável para a troca de informações de saúde.

Por fim, pesquisadores médicos precisam mudar seus esforços com o passar do tempo. Testes clínicos randomizados, ainda considerados o padrão-ouro da pesquisa, são caros e demorados demais para resolver mais que uma pequena proporção de importantes perguntas clínicas sem respostas. Com frequência, essas pesquisas se concentram tanto em populações ideais e cuidadosamente selecionadas que seus resultados podem não se servir para as condições mais complexas do mundo real.

Enquanto continuamos com métodos tradicionais de pesquisas clínicas, devemos nos aventurar no terreno inexplorado, mas promissor, de analisar quantidades imensas de dados eletrônicos de registros médicos. Nós precisamos nos esforçar mais para estudar indivíduos que recebem a maior parte de seus cuidados em ambientes comunitários.

Novas ferramentas e metodologias estatísticas precisam ser desenvolvidas para extrair ideias de dados que não foram projetados para otimizar pesquisas. Pesquisadores precisam contatar organizações bem equipadas, com acesso em tempo real a dados médicos comunitários, e exigir esses dados.

Vai levar algum tempo, mas as barreiras para a interoperabilidade dos dados médicos vão desaparecer – com profundos benefícios para a sociedade: os danos causados a pacientes e a inconveniência resultante de comunicações ruins se tornarão raros. Mais pesquisas serão conduzidas em condições reais, respondendo perguntas que atualmente estão além do alcance. 

Consumidores serão capazes de escolher profissionais mais bem qualificados para atender suas preocupações sem terem que enfrentar os problemas da transferência de informações. E conforme informações médicas se tornam perfeitamente integradas com o fluxo de trabalho médico, esses profissionais poderão se concentrar naquilo que os levou para a medicina: cuidar de seus pacientes.

Fonte: Scientific American Brasil / Jonathan Bush

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