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Alimentos que eram tidos como saudáveis e hoje são questionados

A margarina nasceu para ser popular. Foi inventada na França em 1869, a pedido do imperador Napoleão III. Ele queria um produto mais barato para substituir a manteiga e, assim, alimentar suas tropas e a população mais pobre. Ela se popularizou com a escassez de manteiga durante a Segunda Guerra Mundial e, anos depois, tornou-se não só o símbolo da família feliz, como sinônimo de saúde. Mais de 100 anos depois de sua invenção, ela corre o risco de perder seu posto na mesa do café da manhã para sua velha rival. Nos Estados Unidos, o consumo de manteiga em 2012 foi o maior dos últimos 44 anos, enquanto o de margarina foi o pior dos últimos 70 anos. Na Alemanha, a manteiga supera a margarina nas vendas. A proporção é de três manteigas para uma margarina. No Brasil, uma pesquisa feita pela Nielsen aponta uma queda de 2,9% nas vendas de margarinas em 2012.

O principal motivo para a queda é a mudança na imagem do produto. A moda de valorizar produtos naturais, em oposição aos industrializados, varreu a margarina das mesas. “A manteiga passou a ser vista como um produto mais natural e de qualidade superior à margarina”, diz Liz Vieira, nutricionista do Instituto do Coração da Universidade de São Paulo. Chefes de cozinha colaboraram com o sumiço da margarina. Estrelas como Nigella Lawson e Jamie Oliver incentivam o uso da manteiga em seu lugar, para dar mais sabor aos alimentos.

imageNão é preciso ser um grande chef para perceber que um pão com manteiga é mais saboroso que um pão com margarina. As pessoas deixaram a manteiga de lado por tanto tempo não por seu sabor, mas sim pela saúde. Durante anos, pesquisas afirmavam que consumir margarina era melhor para o coração que manteiga. Os óleos vegetais que servem como base para a margarina, segundo esses estudos, eram menos prejudiciais que a gordura animal da margarina.

A fama mudou nos últimos anos, com o cerco à gordura trans, presente em diversas marcas de margarina. Numa pesquisa da Universidade Tufts, em Boston, nos Estados Unidos, pesquisadores receitaram dietas com margarina a um grupo. Em seguida, compararam os níveis de gordura no sangue desses indivíduos ao de outras pessoas que se alimentaram com dietas ricas em manteiga.

O LDL (colesterol “ruim”) dos consumidores de margarina diminuiu, mas substâncias presentes nos óleos vegetais reduziram a concentração do HDL (o “bom” colesterol). A taxa geral de gordura no sangue dos consumidores de margarina aumentou. Os índices de colesterol de quem consumia manteiga permaneceram inalterados.

Para superar a crise de imagem, algumas marcas de margarina começaram a adaptar seus produtos, produzindo versões livres de gordura trans e com a gordura benéfica conhecida como ômega 3. Os malefícios à saúde foram interrompidos. “Dependendo da quantidade consumida, a margarina sem gordura trans é melhor que a manteiga para a saúde”, diz Liz.

Os médicos aprovaram, mas os chefs continuaram preferindo a manteiga. O preço dessas novas margarinas também se tornou um obstáculo para as vendas, sobretudo no Brasil. “As pessoas compram menos para poder investir em margarinas que dizem trazer benefícios para a saúde, e por isso são mais caras”, diz Camila Castro, analista de mercado da Nielsen. 

Alguns fabricantes de margarina já desistiram da guerra contra a manteiga e a acrescentaram à fórmula das margarinas, para atrair o público. Em setembro do ano passado, a Unilever passou a misturar manteiga na margarina Rama, sua maior marca na Alemanha, e em outras linhas vendidas na Finlândia. A decisão foi tomada após três anos consecutivos de queda nas vendas. É uma confissão de fracasso: se as principais marcas de margarina tiverem de adicionar manteiga às suas fórmulas para agradar ao paladar dos consumidores e dos chefs estrelados, a missão original de substituir a manteiga terá falhado. Quase 150 anos depois de perder a guerra contra a Prússia, que o levou à prisão e ao exílio, Napoleão III está prestes a sofrer mais uma derrota. 

Fonte: Época

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