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A decadência italiana: uma lição

A decadência econômica assume muitas formas. No cidade de Ivrea, no norte da Itália, a decadência é visível nas quadras de tênis abandonadas e cobertas de mato, onde antes jogavam os funcionários da Olivetti, que era uma gigante no setor eletrônico. Na década de 80, Ivrea era uma versão europeia do Vale do Silício. Das 50 mil pessoas empregadas pela Olivetti, metade trabalhava na cidade, desfrutando de salários generosos e luxuosa infraestrutura empresarial. Hoje, os maiores empregadores são o serviço de saúde público e dois call centers. Juntos, eles empregam 3.100 pessoas. 

A Olivetti ainda existe, mas é atualmente uma pequena fabricante de máquinas para escritórios. Algumas de suas antigas fábricas, joias da arquitetura industrial do século XX, foram adaptadas para funcionar como museus. A maioria dos habitantes de Ivrea com idade em torno de 30 anos tem pouco trabalho e vive das pensões de seus pais. “Eram tempos empolgantes. Mas, primeiro aos poucos, e então subitamente, tudo se desmanchou”, diz Massimo Benedetto, 59 anos, que trabalhou na Olivetti durante 30 anos, mais recentemente em suporte a clientes, e está prestes a se aposentar. Ivrea oferece a visão de uma reversão econômica nacional com poucos paralelos reais no mundo desenvolvido. A economia italiana mal cresceu desde 1994 e vem encolhendo desde 2000. 

Esse desempenho é pior do que o de qualquer outro país na Europa ou de qualquer dos 34 países ricos e em desenvolvimento no âmbito da Organização de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCDE). Economistas consideram uma combinação de fatores para explicar a ascensão, em mais longo prazo, das economias emergentes no mundo: 

tendências de evolução da população e do emprego; 
investimentos públicos e privados; 
produtividade dos trabalhadores; 
solidez do ambiente jurídico, administrativo e institucional estatal. 

Em cada um desses aspectos, a Itália regrediu a partir de 1980. Mais de 120 mil fábricas italianas fecharam as portas e 1,2 milhão de empregos industriais desapareceram desde o início do século, segundo a associação empresarial Confindustria. 

Nos últimos 20 anos, até mesmo o Japão, com suas chamadas “décadas perdidas” de estagnação, cresceu quase duas vezes mais que a Itália. No curto prazo, o cenário parece um pouco melhor. Investidores estão dando aos mercados uma trégua, após a turbulência que ameaçou a permanência da Itália na zona do euro, em 2011. 

Matteo Renzi, um enérgico premiê de 39 anos, fez promessas ambiciosas e foi um dos poucos líderes na União Europeia (UE) a sair fortalecido das eleições parlamentares europeias, em maio. Renzi está usando sua renovada força política para colocar-se à frente dos que reivindicam políticas mais favoráveis ao crescimento na União Europeia, apesar de a sua capacidade de promover reformas reais ser, ainda, uma questão em aberto. 

A Itália também continua a ocupar o posto de segunda maior fabricante industrial na Europa, depois da Alemanha. Os indicadores que refletem o número de casas próprias e a riqueza das famílias estão entre os mais altos na OCDE e o nível de dívida privada é relativamente baixo. 

A indústria italiana tem líderes mundiais, entre eles a Luxottica, fabricante de óculos, e a Ferrero, que produz o Nutella. 

Mas todos os fundamentos que orientam a economia estão indo na direção errada. Esse cenário caracteriza uma economia em “submersão”, cuja degeneração pode ter um efeito tão transformador sobre a sociedade quanto o que a globalização produziu na China, na Índia ou no Brasil. 

A situação cronicamente precária da Itália é uma ameaça para a Europa. Quase três anos depois de a zona do euro ter chegado perto de um colapso devido a temores em relação à estabilidade financeira, a dívida pública italiana subiu para 134% do PIB, mais do que em qualquer outro país da OCDE, com exceção do Japão e da Grécia. Se não retomar o crescimento, a Itália não conseguirá reduzir essa dívida – correndo, então, o risco de um calote e de sair da zona do euro. 

Como a Itália, Ivrea afundou nas últimas duas décadas. Aninhada sob montanhas cobertas de neve ao norte de Turim, a cidade não é pobre. Muitos de seus 24 mil habitantes são ricos, assim como a Itália continua sendo a nona maior economia no mundo. A média dos saldos bancários está entre as mais altas no país. 

Porém milhares de jovens deixaram a cidade, reduzindo sua população em um quarto desde 1980. A idade média em Ivrea é, agora, 48 anos. Essa idade é 4 anos superior à média nacional italiana, 8 anos a mais do que no Reino Unido e na França, e 11 anos maior do que nos EUA. 

À medida que a Olivetti foi se desintegrando, foram criadas algumas empresas de porte pequeno e médio. Mas uma combinação esmagadora de impostos altos e de burocracia torna cada vez mais difícil manter as companhias em funcionamento, dizem os empresários de Ivrea. Stefano Sgrelli, de 58 anos e ex-engenheiro da Olivetti, fundou em 2009 a Salt & Lemmon, uma empresa que utiliza drones para captar imagens aéreas para o cinema, publicidade e topografia. Ele reclama de procedimentos burocráticos que deixam “abismados” seus clientes fora da Itália e queixa-se de um trem penosamente lento que leva mais de uma hora para percorrer os 50 km até Turim. “Tentar competir no exterior é como participar de uma corrida de 100 metros com uma mochila de 20 quilos nas costas”, diz ele.

Os infortúnios italianos são inúmeros. A taxa de natalidade é a décima menor entre os 236 países e territórios elencados pela OCDE. Pouco mais da metade de sua população em idade economicamente ativa tem um emprego, e os investimentos públicos e privados, como proporção do PIB, ficaram em 2013 no nível mais baixo desde a Segunda Guerra Mundial, de acordo com o Banco da Itália (o BC local). Investimentos em pesquisa e tecnologia, um fator importante para o crescimento, são cerca de metade do nível na França e na Alemanha, como proporção do PIB, e um terço em comparação com a Suécia, ainda segundo a OCDE. 

O tamanho das companhias é um dos problemas. A economia italiana é cada vez mais desigual, dependente de um conjunto cada vez menor de pequenas empresas bem-sucedidas, mas com apenas um punhado de companhias – a fabricante de automóveis Fiat é a mais evidente – comparáveis às líderes europeias, como Siemens, Daimler ou Alcatel, ou com gigantes americanas, como Apple ou Google. 

Até mesmo a Fiat, que neste ano anunciou estar mudando sua sede administrativa para a Holanda e sua sede fiscal para o Reino Unido, não é o motor econômico do passado. Menos carros são produzidos na Itália do que na Espanha, Reino Unido ou mesmo Eslováquia. 

A empresa italiana média tem somente quatro funcionários e apenas cerca de uma em cada 100 emprega mais de 50 pessoas, de acordo com a agência oficial de estatísticas Istat. Os milhões de pequenas empresas, antes consideradas como a grande vantagem italiana, agora representam uma desvantagem. 

Diante do crescimento da concorrência, a partir da década de 90, elas não se beneficiam de economias de escala nem dispõem dos recursos para investir em novas tecnologias. “Como podemos aspirar a competir num mundo globalizado baseados em empresas de uma dúzia de pessoas?”, indaga Marcello De Cecco, professor de Economia na Universidade Luiss, em Roma. Além disso, os produtos italianos caíram de categoria. 

A Itália é especializada em setores de média e baixa tecnologia, como vestuário e máquinas e ferramentas, que oferecem pouco potencial de crescimento. Bens de alta tecnologia, como computadores, produtos eletrônicos e farmacêuticos representam apenas 6% de suas exportações, em comparação com uma média de 16% na UE, de acordo com a Eurostat, a agência oficial de estatísticas europeia. 

O sistema de ensino italiano produz, percentualmente, menos graduados universitários em relação à população do que qualquer outro país da UE, segundo a OCDE. Computadores raramente são usados em escolas de ensino médio. Uma força de trabalho subqualificada é uma das razões pelas quais, na Itália, o crescimento da produtividade do trabalho – quanto os trabalhadores produzem – está estagnado há mais de uma década e é o pior na UE. A produtividade geral italiana é ainda pior. “Produtividade total dos fatores” é como os economistas denominam a eficiência combinada dos tribunais, das regras de mercado, dos sistemas tributários, da burocracia e de outros elementos que ajudam a atividade empresarial. Esse termo do economês sinaliza em que medida a economia está funcionando bem. 

A Itália é o único país da UE cuja produtividade total dos fatores vem diminuindo desde o início do século, segundo a Comissão Europeia. Isso prejudicou os padrões de vida. Em 1994, o PIB per capita ajustado pelo custo de vida era aproximadamente igual ao do Reino Unido e da França, segundo o Fundo Monetário Internacional. Hoje, é de apenas 80% do desses países. 

A Itália é o único país da UE cujo PIB per capita cai desde 2000. Vito Tanzi, economista e ex-subsecretário de governo, que passou 26 anos trabalhando com economias emergentes no FMI, diz que a comparação mais próxima é com a Argentina, uma das maiores economias do mundo no início do século XX. Após décadas de agitação política, corrupção e várias crises, a economia argentina está agora em 26º lugar, logo abaixo da Bélgica, que tem um quarto da sua população. 

A Itália pode não ser um caloteiro recorrente, como o país sul-americano, mas “podemos aprender muito sobre a Itália olhando para a Argentina”, diz Tanzi. Não há uma razão única para o declínio econômico da Itália, assim como não há uma explicação para o declínio da Olivetti. 

Camillo Olivetti fundou a empresa em 1908, para fazer máquinas de escrever sofisticadas. Ela floresceu como pioneira em eletrônica sob o comando de seu filho, Adriano, na década de 1950, e em 1959 produziu um dos primeiros computadores totalmente transistorizados do mundo. Seu primeiro computador pessoal, apresentado em 1965, foi utilizado pela Nasa para ajudar a planejar o pouso da Apollo 11 na Lua. 

A Olivetti também produziu a primeira máquina de escrever eletrônica do mundo, em 1978. Nas décadas 60 e 70, a Itália floresceu, passando por uma notável transformação no pós-guerra, de uma economia pobre e em grande parte rural para um membro fundador do Grupo dos Sete (G-7) países mais ricos do mundo. 

O país tornou-se conhecido por sua energia e estilo, graças a figuras como Gianni Agnelli, no comando da Fiat, e Enzo Ferrari, fundador da empresa fabricante de carros esportivos e de corrida. 

A Alitalia, companhia aérea nacional italiana, era uma das mais admiradas no mundo. Em seu auge, produtos de ponta da Olivetti proporcionavam margens de lucro de até 35 vezes o custo de produção. A companhia investia essa receita em pesquisa e inovação nos laboratórios em Ivrea e na Califórnia. 

Faturamento e lucros atingiram o pico em meados dos anos 80, quando foram vendidas mais de 200 mil unidades do computador M24, da Olivetti, nos EUA, o que contribuiu para a companhia tornar-se a segunda maior fabricante de computadores no mundo, atrás apenas da IBM. “Nós trabalhávamos a todo vapor para atender a demanda”, disse Massimo Benedetto, caminhando num local deserto que já abrigou fábricas e escritórios povoados por 8.000 trabalhadores. 

O magnata empresarial Carlo de Benedetti comprou a Olivetti em 1978 e desfrutou de sucesso inicial. Mas, no início dos anos 90, em meio à crescente concorrência dos EUA e da Ásia, De Benedetti começou a focar no resto de sua carteira, nos setores financeiro, alimentício e editorial. Ele deixou a companhia em 1996. 

No ano seguinte, a empresa vendeu a sua divisão de computadores pessoais e entrou no setor de telecomunicações. Foi o começo do fim. Após uma série de complexas iniciativas de reestruturação, a Olivetti acabou se transformando numa divisão da Telecom Italia, que tentou revitalizar os negócios com máquinas para escritórios, tendo até mesmo abandonado o logotipo – um “O” vermelho de Olivetti -, num estilo característico dos anos 70. 


A nova empresa nunca saiu do papel. 

A Olivetti tem agora menos de 700 funcionários em âmbito mundial. A companhia faturou € 265 milhões no ano passado, vendendo caixas registradoras, impressoras e seu próprio iPad, conhecido como Olipad. Muitos em Ivrea culpam o Estado italiano por não promover uma cultura intensiva em alta tecnologia. A falha crucial, no entanto, foi o que aconteceu após a morte da Olivetti: nada. São normais, em todo o mundo, ciclos de nascimento e morte de empresas. O destino de Olivetti foi compartilhado por outras gigantes industriais europeias, como a Nokia, ex-fabricante finlandesa de celulares, as montadoras suecas Volvo e Saab, ou a British Leyland, no Reino Unido.

Em Ivrea, pouca atenção foi dada, tanto pelo governo como por pessoas físicas, à regeneração. O Estado, gestor da maioria dos sistemas de pensões do país, ofereceu generosos pacotes de aposentadoria aos trabalhadores da Olivetti que perderam seus empregos. 

Esquemas de aposentadoria antecipada são uma das razões pelas quais a Itália gasta mais dinheiro público com aposentadoria, como percentual do PIB nacional, do que qualquer outro país da UE: 15%, contra 11% na Alemanha e 7% no Reino Unido. É também por isso que os trabalhadores demitidos têm pouco incentivo para se recapacitar ou para procurar novos empregos. 

Os ex-funcionários da Olivetti em Ivrea que se reinventaram como empresários concentraram-se predominantemente em produtos exportáveis. Antonio Grassino, ex-engenheiro da Olivetti que deixou a empresa em 1986, agora dirige uma empresa que testa circuitos eletrônicos. A Seica emprega 110 pessoas e tem um volume anual de negócios de € 21 milhões, dos quais 80% são derivado de exportações. 

Boeing, Samsung e Thales são algumas de suas clientes. Grassino, como muitos dos empresários bem-sucedidos na Itália, diz que operar no país deixa a vida mais difícil. A instabilidade política, diz ele, torna impossível, para empresas e para pessoas, planejar com antecedência. 

A Itália teve 65 governos em 69 anos desde a Segunda Guerra Mundial. Novos governos abandonam sistematicamente os esforços e projetos do governo anterior e começam tudo do zero. “Nunca sabemos se um incentivo fiscal anunciado está efetivamente em vigor ou quanto tempo vai vigorar”, diz Grassino. “Ao mesmo tempo, não vou contratar ninguém agora, se acredito que serão criados incentivos fiscais para novas contratações num futuro próximo.” 

Para os estrangeiros, é ainda mais difícil navegar pelas mudanças nas normas e regras. O investimento estrangeiro direto na Itália caiu 58% nos últimos seis anos e é inferior à metade do investimento na Alemanha, na França ou no Reino Unido, segundo a OCDE. 

Stefano Sgrelli, fundador da Salt & Lemon, conseguiu um emprego na Olivetti em 1980 após ter concebido o programa para um jogo de computador. Ele passou três anos na Olivetti, na Califórnia, antes de sair, em 1993, para criar sua própria empresa de serviços de informática com um ex-colega. Desde 2009 ele e seus quatro sócios dedicam-se à Salt & Lemon, operando drones para uma gama cada vez mais ampla de clientes – do cinema à agricultura. 

Como muitos em Ivrea, ele fica irritado com a burocracia. Antes que possa cobrar seus clientes na Itália, diz Sgrelli, ele precisa comprovar ter pago as contribuições para a previdência social de seus funcionários. Mas é difícil obter essa informação de agência estatais, cujos registros não são atualizados. “É por isso que muitos empresários italianos são bem-sucedidos no exterior. Eles admiram-se de como é fácil”, diz o empresário rindo por trás de seu bigode. Sua filha Diana, 22 anos, estuda engenharia na Universidade de Turim, ignorando o conselho do pai para que estudasse no exterior. Ele torce para que ela deixe o país após a sua formatura. Se isso acontecer, ela estará engrossando um êxodo. 

A emigração italiana, que praticamente secou na década de 70 quando houve uma melhora no padrão de vida, deu novamente um salto nos últimos dez anos. Estima-se que, desde 2011, cerca de 250 mil italianos mudaram-se apenas para Londres, tornando-a a sexta cidade com maior população italiana, após Gênova. 

A maioria dos que emigraram concluiu o ensino médio ou tem diploma universitário. “Quando você se defronta com uma organização ou um país que não funciona, há duas soluções: protestar ou ir embora. A emigração reduz a pressão dos protestos e, portanto, também reduz a possibilidade de mudança interna”, diz Luigi Zingales, professor de Economia na Chicago University e um dos economistas mais importantes da Itália. 

Renzi é o mais recente premiê a prometer reformas. Ele está empenhado em flexibilizar as rígidas regras do mercado de trabalho, apresentou um pacote anticorrupção e prometeu desburocratizar o ambiente para empresas privadas, chegando a nomear um ministro da Simplificação. Sgrelli tenta ser otimista. “Eu acho que, com terrível lentidão, as coisas vão evoluir”, diz ele. “Mas estamos falando em termos de gerações, e não de anos.”

Adriano Olivetti, o industrial e sua utopia

Símbolo do ressurgimento industrial italiano do pósguerra, Adriano Olivetti adaptou para sua empresa uma proposta de valor única, que combinava alta tecnologia proprietária, um design de vanguarda e um modelo de organização voltado para a ascensão social dos trabalhadores. Filho de Camillo Olivetti, o brilhante engenheiro que montou a primeira fábrica de máquinas de escrever da Itália, Adriano herdou essa vocação inovadora e converteu a empresa familiar em líder mundial na tecnologia da informação. Seus produtos eram facilmente identificáveis pela estética, alinhada com o melhor design italiano. Em uma época marcada pela reconstrução –edilícia, urbanística, da república e das instituições–, implementou uma cultura embasada na proteção dos trabalhadores, oferecendo-lhes benefícios de todo tipo: altos salários, menor jornada de trabalho e complexa rede de serviços sociais que incluía o acesso a moradia, restaurantes, creches e escolas. 

Nascido em Ivrea, localidade próxima de Turim, em 11 de abril de 1901, recebeu sua primeira aula em casa, ministrada por sua mãe e sob a orientação de seu pai, um homem de idéias socialistas que fazia com que os filhos trabalhassem, fora do horário escolar, na fábrica, nas mesmas condições que os operários. Já adolescente, Adriano reagiu a essa disciplina e decidiu estudar química industrial no Politécnico de Turim, em vez de engenharia mecânica como seu pai queria. Contudo, depois de formar-se, em 1924, ligou-se à empresa como aprendiz de operário. Nesses anos surgiu sua vocação para a mudança política e social colorida de um romantismo que o levaria mais adiante a interceder por um ideal utópico de vida em comunidade, baseado na crença de que o respeito entre as pessoas evitaria as guerras. 

Devido a sua origem judaica e a suas idéias, tornou-se rapidamente persona non grata para o regime de Mussolini. Seu pai o mandou então para os Estados Unidos, para que aprendesse com o poderio industrial dessa nação. Uma visita à planta da Remington convenceu Adriano de que a produtividade era uma variável dependente do sistema organizacional. Quando voltou, reorganizou a produção inspirado nos princípios tayloristas de busca da eficiência. A empresa familiar se transformou, assim, em uma complexa fábrica com departamentos e divisões. Pouco depois, casou-se com Paola Levi, irmã de um amigo íntimo, com ela teve três filhos, apesar da pouca compatibilidade. (Em 1949 se casaria pela segunda vez, com Grazia Galletti.) 

No início dos anos 30, Adriano assumiu a direção geral da Olivetti e acelerou a expansão. Em 1937, fundou a revista Tecnica e Organizzazione, na qual difundiu os próprios ensaios sobre tecnologia, economia e sociologia industrial. No ano seguinte, foi designado presidente do conselho da companhia. Durante a Segunda Guerra, aderiu ao movimento antifascista clandestino e em 1944 teve de se exilar na Suíça, onde se ligou a intelectuais exilados. Finda a guerra, ele voltou e liderou a melhor etapa da Olivetti. Lançou, em 1956, a calculadora eletrônica Divisumma e, três anos mais tarde, o primeiro computador eletrônico italiano, o Elea 9003. 

Para os padrões do final da década de 1950, os trabalhadores da Olivetti eram os mais bem pagos de toda a indústria metalúrgica local e os mais produtivos. Durante sua gestão, os talentos mais reconhecidos do país e também alguns estrangeiros, como o genial arquiteto Le Corbusier, foram convocados para o desenho de produtos, plantas e escritórios. Muitos produtos lançados nesses anos se converteram em objetos de culto por seu design, tecnologia e funcionalidade, entre eles a máquina de escrever portátil Lettera 22 (de 1950), que em 1959 foi considerada por um júri internacional como o melhor entre os cem melhores produtos dos cem anos anteriores. Adriano Olivetti morreu repentinamente em fevereiro de 1960, durante uma viagem de trem a Lausanne, Suíça.

A Olivetti chega aos 100 anos disposta a reescrever a sua história para voltar a crescer. Conseguirá? 

O processo de comoditização do setor de informática atingiu em cheio a linha de equipamentos de consumo da Olivetti: impressoras e multifuncionais. É que apesar do prestígio junto aos europeus, a marca não conseguiu barrar o avanço dos asiáticos. O impacto disso pode ser visto na contabilidade, que exibem constínuas quedas nas vendas. 

Pode-se dizer que assim como a Xerox e a Kodak, a Olivetti se tornou uma vítima do próprio sucesso ao não conseguir acompanhar a evolução dos mercados nos quais atua. "Estamos trabalhando duro para garantir o futuro de uma empresa que tem uma grife respeitada, competência e tecnologia", disse Gabriele Galateri di Genola, presidente da Telecom Itália, em recente entrevista ao jornal La Stampa.

Uma boa indicação disso foi a manutenção da Olivetti como uma unidade independente, no processo de reestruturação feito no início de 2007. O que garante uma certa autonomia para apostar nas áreas que considera estratégicas: automação comercial e bancária, além de equipamentos para o segmento de loterias e urnas eletrônicas. 

Quem vai tocar a nova fase da Olivetti é Patrizia Grieco, que assume com a missão de reposicionar a linha de produtos e investir em pacotes corporativos, atuando no varejo apenas em nichos nos quais o nome Olivetti faça a diferença. Uma postura considerada acertada por analistas. "Mais que a compra de produtos, os clientes preferem investir em um pacote que inclua equipamento, software e assistência técnica", opina Ivair Rodrigues, sócio da consultoria IT Data. Foi exatamente por insistir em um modelo ultrapassado que a Olivetti perdeu mercado no Brasil para a Itautec e para a Bematech.

Mas na avaliação de Rodrigues, nada impede que os italianos dêem a volta por cima. Afinal, durante boa parte de sua trajetória, iniciada em 1908, a Olivetti conseguiu superar desafios e se firmou como uma empresa inovadora. O início foi penoso e Camillo Olivetti levou três anos para produzir a primeira máquina de escrever. 

Em 1933, com a entrada em cena do filho Adriano, o negócio ganhou uma nova dimensão. Os produtos passaram a ser desenhados por integrantes da escola de Bauhaus e a Olivetti foi reconhecida como uma marca ao mesmo tempo cult e inovadora. Exemplo: foi a primeira da Europa a lançar um computador de grande porte, o Elea 9003, em 1959.

A aquisição de concorrentes e as parcerias com gigantes, como AT&T e com a francesa Thomson, reforçaram a trajetória da Olivetti nos setores de informática e robótica. Em 1960, a pequena oficina aberta no norte da Itália havia se tornado uma gigante com quatro mil empregados espalhados pelos Estados Unidos, Espanha, México, Argentina e Brasil.

Fontes: Youtube, Isto é, revista HSM Management e Valor Econômico
Enviada por JC

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