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Música na escola

Eu sou do tempo em que não se aprendia música na escola. Só fui aprender porque tive a sorte de crescer com uma avó pianista que atendeu aos meus pedidos e começou a me ensinar em seu próprio piano. Assim que os métodos infantis se esgotaram, meus pais me colocaram em um conservatório de música. Há mais de 35 anos, ler e tocar música faz parte da minha rotina.

Minha impressão de que meu ouvido musical me serviu muito bem na hora de aprender línguas hoje é respaldada pela neurociência. Já existe uma rica literatura que comprova que aprender música cedo muda o cérebro de várias maneiras, melhorando a percepção de sons da fala, a memória verbal, e até mesmo a leitura. Quem teve treinamento musical em criança consegue processar sons com menos interferência de ruídos ambientes, detectar mais facilmente variações de tom –e, de fato, aprender línguas com mais proficiência.

Várias escolas começam hoje a incluir aulas de música em seu currículo, mas o ensino continuado ao longo de toda a vida escolar ainda está longe de ser a norma. Talvez por limitações orçamentárias, mas talvez por pura falta de conhecimento, mesmo, quando aulas de música existem, elas são limitadas a um ou alguns poucos anos na infância.

Mas nunca é tarde para (re)introduzir a música na escola. Um estudo da Universidade Northwestern, nos EUA, mostrou recentemente que a introdução de aulas formais de música ao longo dos três anos do ensino médio, baseadas em leitura de partituras, foram suficientes para impedir a deterioração do processamento de sons pelo cérebro que normalmente ocorre no final da adolescência (e de fato aconteceu no grupo controle, que, em vez de música, fez um curso de preparação de oficiais, com ênfase em liderança e autodisciplina).

Os pesquisadores propõem que o aprendizado de música mantém o cérebro em um estado prolongado de plasticidade auditiva, apto a aprender a detectar e produzir novas combinações de sons –apto inclusive a aprender línguas estrangeiras com mais facilidade e por mais tempo.

E fazem uma ressalva importante. Sim, ler e tocar música talvez não seja a habilidade mais diretamente aplicável à vida profissional que se possa aprender na escola. Mas, através da necessidade de atenção focada e da associação do aprendizado ao prazer, aulas de música são uma excelente oportunidade para o cérebro... aprender a aprender.

Matéria completa em Folha de S. Paulo

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