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Admirável mundo das crianças

Nossas crianças estão bem mais espertas do que as que as antecederam. "Já nasceram com um chip a mais", costumam dizer muitos pais. Antes de completarem um ano, elas já sabem mover telas de tablets, que incrível! Será mesmo tão incrível assim? Qual seria a diferença entre essa atividade e a de mover peças de móbiles coloridos e sonoros que alguns pais colocavam no berço ou em outro local ao alcance do bebê? Nenhuma! Mas, para nós, adultos, o bebê aprender a mexer em tablets tem significado um índice de inteligência diferente –superior, digamos– ao das crianças que nasceram alguns anos atrás.

Nossas crianças já sabem o que querem. Aos três anos, por exemplo, elas se apoderam do controle remoto da televisão de casa –e escolhem a maior delas–, investigam os canais dos quais gostam, que são em geral os que apresentam desenhos animados, e zapeiam por eles. E, se os pais ou as mães pedem –pedem!– que o filho ou a filha vá assistir ao desenho em seu quarto para que eles vejam seus programas prediletos, ele ou ela se nega veementemente. E você sabe, caro leitor, quais comportamentos as crianças usam para tanto, não sabe?

Quando a criança pegou o controle remoto pela primeira vez, conseguiu apertar uma tecla, viu o resultado e aprendeu a repetir e a universalizar, os pais ficaram admirados e orgulhosos. Ficaram impressionados com a precocidade cognitiva e a agilidade motora das mãos e dedos, de tão rápido aprendizado. Por esse motivo, incentivaram e estimularam essa prática.

Um pouco mais tarde, essa agilidade se transfere para o controle usado para jogos. Quem já observou um garoto jogando freneticamente pode ficar maravilhado com a movimentação que ele faz dos dedos, comandados pelo olhar na tela. Eles escolhem os jogos que querem e de que gostam, e tirá-los desse contexto é difícil: tarefa árdua para os pais, quando necessária.

Elas sabem também escolher, a dedo e a olho, a comida que querem e da qual gostam e, principalmente, a que não querem. Não tem sido incomum crianças terem ânsia quando colocadas frente a determinados alimentos.

Nossas crianças conhecem o cardápio de diversos restaurantes, já elegeram os seus preferidos, e é para lá que dirigem a família quando essa decide fazer uma refeição em um deles.

Quando em casa, sabemos muito bem a alimentação que elas escolhem: em geral, um único tipo de alimento e essas porcarias industrializadas gostosas.

Os pais não costumam se dar conta de que foram eles os garotos-propaganda mais sedutores das publicidades para as crianças, apresentando-lhes tais alimentos na mais tenra idade, os quais compram aos montes para deixar na despensa de casa. E, quando o filho se recusa a comer a refeição proposta pelos pais, "não tem jeito" é a expressão mais usada para justificar a troca pelas porcarias que eles exigem comer.

Nossas crianças parecem saber o que é melhor para elas. E para seus pais. Afinal, são elas que têm decidido como viver e muitos rumos para a família toda seguir. Aí, é hora de nos perguntarmos: qual é a nossa função em relação a elas?

Elas estão à deriva, ao sabor de seus caprichos e impulsos –infantis, é bom lembrar–, e nós temos nos orgulhado disso. Deveríamos?

Artigo completo em Folha

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