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Enfim, surge um novo modelo de avaliação

Finalmente vi, na semana passada, um grande sonho profissional se realizar. A avaliação de desempenho como aconteceu até hoje está com seus dias contados. Em uma apresentação realizada pela GE, empresa que consistentemente vem influenciando os rumos da gestão das corporações, enxerguei o movimento pelo qual esperava há muito tempo. Até agora, de forma generalizada, a avaliação de desempenho vem cumprindo nas organizações um papel ainda autoritário, mecânico e usado para justificar várias decisões de remuneração e de desligamento. Pouco se usou efetivamente dessa ferramenta para engajamento e desenvolvimento. Tudo o que se referia ao futuro estava fora desse processo e o resultado individual sempre se sobressaiu em detrimento do todo.

Utilizando-se de métodos diversos, as empresas tratavam de ranquear seus profissionais para identificar aqueles no topo da lista que mereciam ser promovidos e aqueles que deveriam ser rapidamente eliminados. O objetivo principal da avaliação era basicamente servir de instrumento para implantação dos programas de participação nos lucros e resultados ou para programas de bônus/meritocracia.

Nesse sentido, as necessárias conversas entre chefes e equipes - para as quais sempre investimos horas e mais horas de treinamento - nunca aconteciam. Ou melhor, para não ser injusta, digo que elas só aconteciam com os raros chefes que tinham real interesse no crescimento de seus subordinados e que entendiam como essas conversas tinham uma fundamental importância para a obtenção de melhores resultados.

A GE percebeu que a abordagem correta desse assunto não demandava uma mudança de processo, mas sim uma grande transformação cultural, com uma revisão da operacionalização de seus valores. Eles simplesmente jogaram fora todos os modelos de avaliação que usavam até agora e estão implantando algo completamente novo. Agora imaginem o tamanho desta revolução para uma empresa gigante, processual e, no passado, grande disseminadora dos ranqueamentos para definir remuneração.

Para implantar esse novo modelo, a companhia fez uma profunda leitura de cenário, incluindo na sua análise a importância da informação em tempo real. Qualquer pessoa pode fazer suas observações (sejam críticas, elogios ou sugestões) a um colaborador da empresa a qualquer momento por meio de um sistema ao qual somente o próprio indivíduo tem acesso. O objetivo é que o colaborador se utilize desses feedbacks para melhorar o seu desempenho apenas. O impacto de um funcionário saber em tempo real o que se pensa dele e de seu desempenho, acredita-se, pode levar a importantes mudanças de rumo.

Além disso, a empresa ressaltou a importância de não se dar foco ao feedback, mas ao "feedforward". Ou seja, fazer com que os gestores e colaboradores se preocupem em como ser melhores, olhando para onde querem chegar, e não simplesmente se apegar a informações e críticas sobre o passado.

Ainda não se sabe se esse modelo adotado pela GE será definitivo, ou se será o novo padrão utilizado pelo mercado, mas certamente ele rompe barreiras e admite, pela primeira vez, a possibilidade de se desvincular completamente a remuneração da avaliação de desempenho. O que faz todo sentido.

Esse novo movimento cobrará das lideranças a capacidade de se engajarem em um novo tipo de relação com os funcionários. E, dos indivíduos, cobrará uma maior responsabilidade perante seu próprio desenvolvimento. Até mesmo as relações hierárquicas serão questionadas na medida em que todos ao meu redor serão responsáveis pelo meu desenvolvimento. Chefes serão muito mais parceiros do que superiores hierárquicos.

Tal transformação cultural, que começa a ser testada também por outras grandes empresas como Accenture, Deloitte, Microsoft, LinkedIn e IBM, promete promover ambientes em que as pessoas enxergarão um maior significado no que fazem e no resultado do seu trabalho, e com isso se sentirão motivadas para apresentar o melhor desempenho possível. Se tantas empresas grandes e acostumadas a modelos organizados de avaliação estão revendo suas práticas, é sinal que de fato alguma coisa não estava mais fazendo sentido.

Preparem-se. Está caindo por terra aquele defasado modelo que herdamos desde a época da industrialização. E essa é uma notícia fantástica.

Vicky Bloch é professora da FGV, do MBA de recursos humanos da FIA e fundadora da Vicky Bloch Associados

Fonte: Valor
Enviada por JC

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