post image

A saúde que queremos ter

Existe um ditado que diz: “Quem planta tâmaras não colhe tâmaras” isso porque as tamareiras levam de 80 a 90 anos para darem os primeiros frutos. Um jovem pergunta a um senhor de idade plantando tâmaras: porque o senhor planta tâmaras se o senhor não vai colher? O senhor respondeu: se todos pensassem como você, ninguém comeria tâmaras. Cultive, construa e plante ações que não sejam apenas para você, mas que sirvam para todos. Nossas ações hoje refletem o futuro… se não é tempo de colher, é tempo de semear. ” Vivemos um cenário na saúde que fomenta e provoca a necessidade premente da mudança. Esta provocação deve ser feita em todos os níveis da cadeia que envolve nosso setor, com a finalidade de evidenciarmos uma mudança sistêmica no modo de pensarmos e agirmos, somente através da “disruptura” e quebra e paradigmas conseguiremos produzir um sistema mais saudável.

O modelo hoje instalado nos entrega exatamente o que semeamos anos atrás, no momento que definimos e apoiamos práticas assistenciais voltadas para tratamento de doenças e colocamos os hospitais como grandes motores desta cadeia, padronizamos a remuneração de todos os prestadores de serviço pelo número de procedimentos realizados, estimulamos uma alta produtividade de iniciativas fragmentadas, sem critérios de mensuração para entrega de resultados assistenciais, criamos um sistema de saúde insustentável.

Proporcionamos a construção de uma cadeia sem elos e redefinimos o modelo dentro de uma lógica baseada no mutualismo, onde a exceção se tornou regra e o sistema se adaptou à gestão de custos, esquecendo que a sustentabilidade do mesmo depende de ações que incentivem linhas de cuidado voltadas à promoção de saúde e prevenção de doenças.

Hoje o segmento de saúde, seja público ou privado, apresenta um custo social elevado. Se pensarmos na saúde suplementar, identificamos como grandes financiadores deste setor as corporações, que respondem por aproximadamente 70% dos recursos destinados ao segmento e sofrem com reajustes anuais na ordem de dois dígitos, extrapolando em muito os índices inflacionários do país. Quem paga esta conta? Estes custos são repassados para a sociedade, no aumento dos preços de serviços, produtos ou aumento de impostos para custeio do sistema público.

Somamos a esta realidade a transição epidemiológica e demográfica que nosso país vive, em 2010 tínhamos uma população de idosos de 20 milhões, população que alcançará o número na ordem de 65 milhões em 2050.

Vamos viver mais, precisamos viver com mais qualidade de vida e dentro de uma lógica assistencial que permita a sustentabilidade do setor. A necessidade da implantação da Gestão de Saúde Populacional (GSP) não pode mais ser retardado.

Importante entender que a Gestão de Saúde Populacional vem para mudar o conceito hoje praticado e obriga a migração de um modelo hospitalocêntrico, que cuida da doença, para um modelo que trabalha pró-ativamente no sentindo da manutenção do estado de saúde, através do incentivo de práticas de promoção e prevenção, sempre com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das populações e de transformar o segmento em um sistema estrategicamente mais sustentável. A gestão de saúde populacional identifica a população que será monitorada, mapeia seu risco, organiza a porta de entrada, gerencia linhas de cuidado, integra a cadeia e mensura resultados.

É um sistema que inova ao trazer para o presente o estado da arte no cuidado, traz novamente para o centro da cadeia, o paciente, estimula neste a busca de sua satisfação através de um cuidado custo-efetivo, com qualidade, sem risco e entrega de resultados assistenciais. Inova quando propõem ao médico que este pratique a medicina de maneira coordenada, em conjunto com a equipe multidisciplinar e preocupado com desfechos clínicos. Inova ao propor um novo modelo de remuneração, onde a eficácia, eficiência e efetividade são pilares sólidos para a construção de valor. Inova quando propõem a integralidade, traz para a cadeia o sentido de governança e impulsiona a transparência e a necessidade do trabalho confiável.

Os recursos se esgotaram, a capacidade criativa em mitigar o custo através da racionalização de recursos sem lógica de cuidado não é mais uma alternativa a ser considerada. Temos que semear este novo modelo do “mundo velho”. Quem dará o primeiro passo, inovando e convidando os “players” deste segmento a se movimentarem no sentido da mudança?

“Cultive, construa e plante ações que não sejam apenas para você, mas que sirvam para todos. Nossas ações hoje refletem o futuro… se não é tempo de colher, é tempo de semear.”

Ana Elisa Siqueira é médica, formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Hoje atua como CEO do grupo hospitalar Santa Celina e é participante do Conselho Consultivo do Grupo Santa Celina e Presidente do Conselho Consultivo da ASAP (Aliança de Gestão de Saúde Populacional). É ganhadora do Prêmio Empreendedor do Ano EY na Categoria Emerging (2015). Em 2013 foi citada pela HSM Health Management como uma das 100 personalidades mais influentes na saúde do País. Além de ser mestra em Economia e Gestão em Saúde pela Unifesp, é formada em MBA em Gestão Estratégica com BSC pelo Instituto Insper.

Fonte: asapsaude.org.br
Enviada por Enfermeira Rochelle Rufino

Compartilhar

Permito o uso de cookies para: