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Não existe diversidade sem inclusão

Estamos na semana do Dia Internacional da Mulher, um período do ano em que as reflexões sobre diversidade ganham espaço em todo o mundo. Por ser uma mulher que ocupa a presidência de uma multinacional, sou frequentemente chamada para debater esse tema, que considero fundamental para criarmos uma sociedade mais justa. Mas, apesar de saber que neste momento as atenções estão voltadas para a causa da igualdade de gênero, entendo que devemos falar de diversidade em todos os aspectos que a palavra comporta. Acredito que as organizações serão diversas de verdade quando elas espelharem fielmente a sociedade. Isso significa diversidade de gênero, mas também de orientação sexual, de raça, de idade, de formação, de origem social, de pessoas com deficiência.

Porém só existe diversidade se houver um pensamento inclusivo.

Precisamos estar sempre atentos para promover e assegurar que vozes diferentes, de pessoas que não se encaixam facilmente nos estereótipos corporativos, sejam ouvidas. Por isso, não podemos falar de diversidade sem pensar em inclusão. Se a diversidade é a meta, a inclusão é a estratégia. 

Como líder, descobri que a bandeira da diversidade deve ser levada numa jornada. Uma jornada de aprendizado, pois nunca sabemos tudo sobre o tema. E uma jornada de longa duração, porque dependemos de mudanças que são sociais, de âmbito global talvez, e que não ocorrem no ritmo que desejamos. Por isso dou tanta importância à inclusão: ela é o esforço permanente pelo qual se traz a diversidade para dentro das empresas e pelo qual se mantém o ambiente diverso.

E por que devemos permanecer nesse estado de atenção quando queremos promover a diversidade e a inclusão? Porque precisamos enfrentar os pequenos preconceitos que temos, sem nos darmos conta, e que são silenciosos inimigos da diversidade. Os pesquisadores na área da psicologia chamam esse fenômeno de vieses inconscientes. Segundo um estudo da Universidade da Virginia, nos Estados Unidos, nos deparamos com 11 milhões de informações a cada instante, mas nossos cérebros só podem processar 40 delas, o que faz com que ele crie atalhos e use conhecimentos passados para presumir coisas. Com isso, fazemos julgamentos rapidamente, sem analisar a complexidade da situação, recorrendo a antigas experiências. Isso gera o risco de intolerância ao novo e ao diferente, o que mata a diversidade.

Só podemos nos capacitar para promover a diversidade quando entendemos esse mecanismo e paramos de fazer pré-julgamentos. Não é fácil. A única saída é assumir uma postura de aprendizado. Nós não sabemos o que não sabemos, mas podemos aprender se estivermos atentos para a inclusão, se nossos comportamentos e atitudes forem inclusivos.

Dentro das empresas, devemos falar constantemente sobre isso e despertar o interesse das pessoas por essa causa. Na Microsoft, criamos um comitê com pilares da diversidade – LGBT, mulheres, negros, pessoas com deficiência – que são liderados por voluntários, colaboradores que se engajaram na luta por um ambiente de trabalho mais plural. Desses grupos nasceram iniciativas espontâneas como o desenvolvimento dos aplicativos contra assédio sexual e homofobia, que lançamos ano passado, por exemplo.

Aqui na Microsoft, como na grande maioria das organizações, temos um longo caminho a percorrer nessa jornada. Tomo como base um estudo do Instituto Ethos de 2016 que analisou diversidade nas 500 maiores empresas brasileiras. O quadro é o seguinte: 

Só 6% dos trabalhadores em cargos operacionais têm mais de 56 anos;

Só 2% dos funcionários são pessoas com deficiência. (É o mínimo que a lei obriga);

As mulheres representam 55% dos estagiários, mas 13% das vagas executivas;

Dos aprendizes, 57% são negros, mas nos cargos executivos o número cai para 4,7%;

Não existe um único executivo de origem indígena nas 500 maiores empresas do Brasil.

Em um país tão rico em diferenças como o Brasil, estamos desperdiçando um potencial quase inigualável. Como diz Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, diversidade não é apenas uma política social simpática, mas o motor da invenção e da inovação.

Diversidade gera resultados. Nas companhias que se preocupam com a diversidade, 76% dos funcionários reconhecem que têm espaço para expor suas ideias e inovar no trabalho. Nas empresas em que a diversidade está fora da pauta, esse número cai para 55%, segundo uma pesquisa da consultoria Hay Group. O mesmo levantamento mostra que a diversidade tem efeitos positivos na receita e na lucratividade das empresas. 

Se queremos diversidade, precisamos ser inclusivos. E isso requer um esforço de atenção permanente e ações efetivas. 

Paula Bellizia / menager chefe da Microsoft

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