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Sensacionalismo e Autopromoção na Medicina - um caminho perigoso

Com a expansão do marketing digital especializado nas redes sociais, estamos vivenciando uma prática lamentável de sensacionalismo e autopromoção na medicina. Alguns médicos estão desvirtuando completamente o sentido ético que a medicina envolve, promovendo a si próprios com o intuito de angariar mais clientes e deixando de lado o mais importante: o propósito do seu trabalho de curar doenças, salvando vidas.

Não é preciso fazer muito esforço para encontra-los. Até mesmo porque os mecanismos de busca hierarquizam aqueles que possuem mais “likes” e “fãs” (que nem sempre são reais). Ao abrir os perfis, vê-se o festival de auto-exibição: selfies em ambientes cirúrgicos, interações que mais parecem homenagens de programas televisivos dominicais e até mesmo o absurdo de mostrar etapas da realização de procedimentos, com direito a inserção de moldes, próteses e impressões tridimensionais.

Há médicos que aparecem como pesquisadores e criadores de técnicas cirúrgicas:

Manipulando a verdade, já existem médicos que se fazem fotografar em instalações de hospitais europeus e americanos, durante viagens turísticas e, ao retornar ao Brasil, divulgam tais imagens afirmando ter realizado cursos de especialização em universidades estrangeiras. Os mais ousados e irresponsáveis fazem publicar matérias jornalísticas nas quais aparecem como criadores de técnicas cirúrgicas revolucionárias, que estariam alcançando retumbante reconhecimento e adesão internacional. Pelo Código de Ética do Conselho Regional de Medicina – CRM, tal conduta é proibida, tendo em vista que objetiva angariar clientela e obter vantagens indevidas.

Além disso, o órgão publicou a Resolução 2.126/2015, que veda aos profissionais a divulgação de métodos ou técnicas não reconhecidas como válidos pelo Conselho. A norma também faz menção aos autorretratos (selfies) em situações de trabalho e de atendimento. Segundo o documento, os médicos estão proibidos de divulgar este tipo de fotografia, bem como imagens e/ou áudios que caracterizem sensacionalismo, autopromoção ou concorrência desleal. Porém, é fácil perceber que o texto do Conselho está sendo totalmente desrespeitado.

Tais comportamentos afrontam diretamente os princípios da privacidade e do anonimato, inerentes ao ato médico, exigindo cada vez mais dos profissionais uma permanente reflexão sobre seu papel na assistência aos pacientes. Seria recomendável e prudente que o Conselho Regional de Medicina inquirisse tais médicos, no sentido de que apresentassem certificados e diplomas que comprovem a efetiva formação que divulgam ter obtido em universidades estrangeiras. Ao mesmo tempo, lhes seria solicitado que fornecessem cópias de publicações cientificas internacionais nas quais suas revolucionárias descobertas cientificas foram publicadas. 

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Divulgação de novas técnicas deve ser feita após reconhecimento científico devidamente certificado pelo CFM

J.C. Dantas

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