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Empresas e profissionais criam aplicações para o Glass no trabalho

No 500 Club, um bar no coração do bairro de Mission, em San Francisco, os frequentadores estão proibidos de usar o Google Glass. A três quilômetros dali, no hospital da Universidade da Califórnia em San Francisco, colina acima, um cirurgião pulmonar opera usando o Google Glass. O contraste ilustra tanto os desafios quanto as oportunidades para os planos do Google quanto à venda de seu óculos conectado à internet ao público geral, que deve começar dentro de alguns meses. Os consumidores demonstram cautela diante do Google Glass. Mas no mercado profissional, há aceitação mais entusiástica - em ramos como medicina, Direito, polícia, indústria e esportes.


"Estou certo de que o Google adoraria que essa tecnologia fizesse sucesso junto aos consumidores, de uma perspectiva de escala, mas não estou certo de que os consumidores venham a apreciá-la", disse Chris Curran, tecnólogo chefe da unidade norte-americana da PricewaterhouseCoopers, uma consultoria de negócios.



"É uma tecnologia que está em busca de problemas a resolver, e portanto ela depende primordialmente de onde os problemas emergem", ele acrescentou.



Até agora, o lugar mais evidente para isso parece ser o local de trabalho, para funções que não envolvam passar o dia sentado à mesa, mas para as quais uma conexão com a Internet poderia ser útil. A Wearable Intelligence, que produz software para equipamentos de tecnologia vestível, acredita que 80% dos trabalhadores tenham empregos desse tipo.


Para atingir esse mercado, o Google anunciará um programa chamado Glass for Work, a fim de oferecer instrumentos adicionais aos usuários empresariais, como assistência técnica, e para explorar como vender o Google Glass a maior número de empresas.



Não é uma tarefa necessariamente fácil. As preocupações de privacidade que o Google Glass desperta podem ser problema ainda maior em certos ambientes de trabalho, de acordo com Marc Rotenberg, diretor executivo do Electronic Privacy Information Center. Considere o caso de reuniões com um médico ou consultor financeiro, nas quais informações confidenciais são trocadas, por exemplo. Mas em muitos casos, disse ele, existe menos preocupação quanto à privacidade nos locais de trabalho.



"Consigo imaginar diversas profissões onde o Google Glass faria muito sentido, com risco quase nenhum para a privacidade e efeito muito valioso - em muitos campos, da engenharia ao conserto de carros, passando pelas madeireiras", disse Rotenberg. "Mas o que é interessante sobre todas essas profissões é que nelas você não interage diretamente com o cliente".



A Sullivan Solar Power, que instala painéis solares no sul da Califórnia, está usando o Google Glass. Criou software para mostrar aos seus técnicos informações como as características elétricas de certos telhados.



"Nosso pessoal de construção e os técnicos de campo estão subindo escadas, caminhando em telhados, interagindo com equipamentos potencialmente perigosos", disse Michael Chagala, diretor de tecnologia da informação da Sullivan. "Poder trabalhar com as mãos livres é claramente essencial, e eles não podem levar um laptop com eles escada acima ou ver direito sua tela ao sol".



Aparelhos com visores montados na cabeça existem há muito tempo em campos como as forças armadas, indústria e avaliação. O Google Glass continua a ser apenas um protótipo, sem recursos que os trabalhadores afirmam precisar, por exemplo baterias de longa duração e lentes protetoras.



E a despeito do interesse inicial, o Glass continua a ser apenas uma engenhoca inovadora na maioria das empresas, em parte porque ainda não está à venda e em parte porque seu preço, para as pessoas convidadas a comprá-lo, é de US$ 1,5 mil. A Sullivan Solar diz que comprou seu primeiro Google Glass no eBay.



 Os investidores em tecnologia veem potencial.


Startups que produzem software para o Google Glass não param de surgir, entre as quais a Wearable Intelligence, Augmedix, CrowdOptic, APX Labs e Pristine. Essas empresas obtiveram capital de companhias de capital para empreendimentos como a Emergence Capital Partners, DCM, Silicon Valley Bank e First Round Capital. Três outras empresas muito conhecidas do Vale do Silício - Andreessen Horowitz, Google Ventures e Kleiner Perkins Caufield & Byers - também investiram no produto por meio de um consórcio chamado Glass Collective.



A despeito das preocupações quanto à privacidade, o setor de saúde vem se mostrando especialmente atraente para os empreendedores do Google Glass.



Seis clínicas, a maioria das quais na Califórnia, estão usando software da Augmedix. Enquanto o médico e o paciente conversam, o software automaticamente registra os dados do paciente em uma ficha eletrônica. Por que o Google Glass tem recursos de vídeo, o software entende até mesmo comunicações não verbais: por exemplo, quando o paciente aponta para uma parte de seu corpo na qual sinta dor.



O cirurgião pulmonar do hospital universitário de San Francisco, Dr. Pierre Theodore, usa o Google Glass para cirurgias pouco invasivas, que dependem do uso de sistemas de imagem pelo médico para orientar os instrumentos cirúrgicos. Ao usar o Google Glass, Theodore pode ver imagens de ressonância magnética e imagens ao vivo ao mesmo tempo.



"Há uma transição pequena de atenção entre ver o paciente à sua frente e ver informações cirúrgicas críticas em seu campo de visão", ele diz. "Creio que isso possa ser, e vá ser, revolucionário".


Os médicos do Beth Israel Deaconess Medical Center, em Boston, estão usando o Google Glass no pronto socorro, para ver informações como os sinais vitais de um paciente. Um médico do pronto socorro, o Dr. Steven Horng, diz que o Google Glass o informou que um paciente com sangramento cerebral era alérgico a medicamentos para pressão, que costumam ser usados para retardar o sangramento cerebral.



A Wearable Intelligence, que produz o software usado pelo Beth Israel, acrescenta salvaguardas para proteger informações médicas confidenciais. Os médicos não podem tirar fotos e nem acionar o Google Glass fora do hospital e, ao contrário da versão ao consumidor do produto, as informações recolhidas pela versão médica não ficam armazenadas nos servidores do Google.



A Schlumberger, companhia internacional de serviços petroleiros, também usa o Google Glass com software da Wearable Intelligence, para mostrar ao seu pessoal técnico em campos de petróleo nos Estados Unidos e outros países listas de verificações.



"Eles podem estar com as mãos mergulhadas na graxa e ainda assim verificar os itens de suas listas, sem usar as mãos", diz Yan-David Erlich, fundador e presidente-executivo da Wearable Intelligence.



Patrick Jackson, bombeiro em Rocky Mount, Carolina do Norte, criou um app para o Google Glass a fim de mostrar informações relacionadas a chamados ao serviço telefônico de emergência, como mapas e as anotações do atendente, e para indicar o hidrante mais próximo. Ele planeja acrescentar informações como plantas e saídas de edifícios.

"Dirijo um caminhão-escada, e por isso é útil poder olhar o mapa com muita rapidez e saber de imediato para onde estamos indo", disse Jackson.



Policiais em Nova York e em Byron, Geórgia, também estão testando o Google Glass. Os departamentos policiais poderiam usá-lo para recolher provas, transmitir vídeos gravados em locais de crime ou dirimir acusações sobre abusos policiais, disse Bill Switzer, gerente da CopTrax, que produz tecnologia de vídeo para uso policial, o que inclui software para o Google Glass.


O equipamento também está em uso nos esportes profissionais.

Jogadores de basquete do Sacramento Kings e do Indiana Pacers usaram o Google Glass, com software da CrowdOptic, para transmitir imagens de vídeo aos torcedores mostrando o jogo de seu ponto de vista, e também para gravar treinos. O sistema oferece aos treinadores uma visão diferente e uma compreensão melhor da distribuição de jogadores em quadra e da troca de passes, diz Chris Granger, vice-presidente de operações do Kings.

O novo programa do Google para usuários empresariais no futuro tratará de algumas das questões referentes ao uso do equipamento no trabalho, disse Kelly Liang, diretora de desenvolvimento de negócios do Google Glass, bem como servirá para melhorar o produto para os consumidores.

Ainda que muitas tecnologias, a exemplo dos smartphones, tenham começado a ser usadas no trabalho e só depois adotadas de modo generalizado, empresas como o Google preferem o mercado consumidor, devido ao seu potencial de criar sucessos rápidos e em larga escala. Para o Google, porém, persuadir o consumidor a colocar o Google Glass será a parte difícil.

Até mesmo algumas das pessoas que defendem o produto dizem que não o usariam fora do trabalho. "É bem nerd, sabe?", disse o Dr. Theodore.


Fonte: The New York Times

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