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Pesquisa mostra que agricultura enfraqueceu os ossos das pessoas

Os prejuízos do sedentarismo não começaram a se manifestar no homem apenas nos últimos séculos com a chegada a industrialização, como geralmente somos induzidos a pensar. Na verdade, há milhares de anos o homem vem adotando um estilo de vida cada vez mais ocioso, que está influenciando, inclusive, a evolução de sua forma física.

Com a introdução da agricultura, há milhares de anos, os ossos humanos foram progressivamente perdendo a força. Isto não quer dizer que estamos todos destinados a ter mais fraturas. Os atletas (ou pelo menos os mais ativos) conseguem fugir desta curva. Os atuais corredores apresentam massa óssea semelhante à de homens comuns de 7.300 anos atrás.

Embora pareçam imutáveis, os ossos humanos são bastante plásticos e respondem à ação do ambiente. O esforço físico — como longas caminhadas, corridas ou outras atividades de impacto - produz alterações metabólicas que favorecem a sua formação, tanto em tamanho quanto em força.

Pela análise dos esqueletos de atletas modernos, já é possível notar essa vantagem diante de outros indivíduos. Os atletas têm, em média, de 20% a 30% mais densidade óssea do que os que não praticam atividade física.

Técnica 3D para analisar ossos antigos

Como a estrutura dos ossos nos dá informações sobre o estilo de vida do indivíduo, a pesquisadora da Universidade de Cambridge (Reino Unido), Alison Macintosh, resolveu usar o mesmo método para estudar culturas do passado.

Ela aplicou a técnica de escâner 3D na superfície de esqueletos encontrados em cemitérios de países como Alemanha, Hungria, Áustria, República Tcheca e Sérvia, na Europa Central. Os esqueletos datam de 5.300 anos a.C. a 850 d.C., um período de 6.150 anos.

Ao longo dessas gerações, ela notou que houve uma considerável e progressiva perda de força óssea. A pesquisadora lembra que os humanos foram aos poucos se tornando menos ativos, percorrendo menores distâncias e carregando menos peso - o que na época poderiam ser armas, alimentos, água etc.

Os homens também foram mais afetados do que as mulheres, ela aponta, provavelmente porque já eram os que mais faziam esforço físico.

"As mudanças tecnológicas reduziram a necessidade de percursos de longa distância e de intenso esforço físico. Isto também significa que as pessoas começaram a se especializar em tarefas, tais como a metalurgia, fazendo cada vez menos força nas pernas", afirmou Alison.

A pesquisadora também comparou o resultado destas amostras com o esqueleto de estudantes da própria universidade britânica. Ela notou que os ossos das pernas de fazendeiros que viviam em 5.300 anos a.C. eram semelhantes aos de atuais corredores profissionais. Eles se igualaram, porém, aos dos estudantes sedentários ao longo de três mil anos consecutivos de menos esforço físico. Depois disto, houve uma estabilização.

Segundo ela, pesquisas também mostram que corredores de longa distância têm padrões ósseos diferentes dos de jogadores de hockey, por exemplo. Os primeiros têm tíbias mais adaptadas para cargas na frente e atrás, enquanto que os demais as têm de ambos os lados. O estudo, apresentado no encontro anual da Associação Americana de Antropologia Física, será publicado no “Journal of Archaeological Science”.

Professor do Instituto do Coração Edson Saad (UFRJ), Cláudio Gil explica que os ossos estão em constante formação e, por isso, respondem ao exercício. Além deles, acrescenta, todos os tecidos corporais, do coração, pulmão e tendões, também se beneficiam das atividades físicas.

É natural, entretanto, que haja perda óssea à medida que envelhecemos. Uma das consequências é a osteoporose. O sedentarismo não é o único fator para o problema, mas tem “papel contributivo”. Por isso, uma das indicações para combater o problema é o exercício físico:

"Atividades com impacto, como corrida, vôlei, basquete e lutas, são as que mais estimulam a massa óssea, mais do que apenas andar. Então, mesmo que a pessoa de meia idade não goste de correr, indicamos que, no meio da caminhada, ela faça pelo menos 30 segundos de corrida", explica Gil. - Era impossível sobreviver no passado da História da Humanidade sendo sedentário. O “fabricante” não previu o sedentarismo como estilo de vida. Em relação aos ossos, a piora será constante se não nos movermos mais.

Lígia Pondé tem 27 anos e já vivenciou um susto raro para a sua idade. Ela fraturou a costela ao tossir. A causa da fragilidade óssea ainda não foi esclarecida.

Uma das possibilidades é que haja um desequilíbrio hormonal, outro fator que afeta a saúde dos ossos. De qualquer forma, além de tratar da fratura, recebeu uma prescrição:

"Estava há cerca de seis meses parada, e o médico me aconselhou a voltar a praticar uma atividade física, com um certo cuidado, claro. Hoje faço atividade aeróbica e luta", conta ela.

Cuidado com ossos começa na infância

O melhor período para cuidar dos ossos, na verdade não é na idade adulta ou na velhice, mas sim na infância, período em que o esqueleto está em processo acelerado de formação.

Um estudo divulgado em julho de 2012 na publicação da Academia Americana de Pediatria constatou que a atividade física entre crianças de 7 e 9 anos garante o aumento da densidade e do tamanho do osso, melhorando a resistência e diminuindo o risco de fraturas.

"A criança corre, pula, nada, joga, é da sua natureza. Isso é essencial para a consolidação dos ossos. As brincadeiras em geral são o que asseguram a formação e a proteção dos ossos na infância e também na idade adulta", afirma o pediatra Roberto Cooper, do Instituto Fernandes Figueira/Fiocruz.

Cooper ainda explica que os exercícios de força, como a musculação, também garantem benefícios:

"O caçador-coletor fazia mais força do que o agricultor, o pai do sedentarismo. Mas essa é uma comparação histórica; pois o agricultor de hoje faz muito mais esforço físico do que a população urbana", comenta.

Fonte: O Globo

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