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Como enfrentar a agenda lotada que limita o raciocínio

Profissionais workaholics, que nunca têm tempo e já estão com a agenda lotada para os próximos meses, estão mais propensos a cometer erros ou tomar decisões precipitadas - que podem prejudicar a empresa ou a própria carreira. Nos últimos anos, com o aumento da carga de trabalho e da velocidade das mudanças nas corporações, departamentos de RH começaram a procurar alternativas para desacelerar seus executivos e ganhar líderes mais carismáticos e produtivos. O 'Mindfulness' é uma das estratégias utilizadas.

De acordo com o economista de Harvard Sendhil Mullainathan e o psicólogo de Princeton Eldar Shafir, autores do livro "Scarcity: Why Having Too Little Means So Much", pessoas muito ocupadas se distraem mais rapidamente e, como nunca têm tempo para nada, só conseguem pensar em curto prazo. Esse processo acaba gerando um "túnel cognitivo", que limita a visão e o raciocínio, levando a decisões ruins e fazendo com que eles negligenciem as relações de trabalho.

Mas se não é possível diminuir o ritmo ou cancelar compromissos, a alternativa é buscar formas de perceber melhor os processos. A professora e pesquisadora do departamento de psicologia da Universidade de Harvard, Ellen Langer, é uma das maiores especialistas na área de atenção e, junto a outros pesquisadores, criou o conceito de 'Mindfulness'. "É o processo de percebermos o novo de forma mais ativa, que é a essência do engajamento. Ao prestarmos mais atenção no que acontece ao nosso redor, em vez de trabalharmos em piloto automático, podemos reduzir o estresse, liberar a criatividade e melhorar o nosso desempenho."

Há 40 anos estudando o tema, a PhD já escreveu 11 livros e mais de 200 "papers" abordando a importância de estarmos atentos ao contexto em que estamos vivendo e conectados ao que sentimos. "As pessoas estão agindo como robôs, sem dar atenção ao que fazem e repetindo padrões que já estão acostumadas. É difícil para um executivo se manter motivado, criativo e produtivo dessa forma", explica.

Segundo Ellen, o simples fato de começar a perceber melhor o que acontece à sua volta e estar mais presente nas decisões e ações que estão sendo tomadas já torna uma pessoa mais 'mindful', ou seja, em um estágio de maior atenção. Reconhecer a importância de questionar suas atitudes e as situações que se apresentam também é um caminho para uma maior consciência. "Tudo muda constantemente e o mundo corporativo pode ser imprevisível. A incerteza gera a busca por novidades e torna o profissional mais 'antenado'. Ele se engaja e se empenha em fazer cada vez melhor", afirma.

Além de um líder que aprenda como explorar o poder da incerteza, as corporações também buscam gestores que saibam lidar com pessoas, mantendo um ambiente mais amigável, leve e produtivo. É aí que o conceito do 'Mindfulness' também se torna uma peça-chave. "Muitos trabalham com prazos apertados, cobranças e excesso de tarefas. Mas é preciso perceber que a causa do estresse não são os problemas, e sim a forma como você lida com eles. Essa consciência lhe deixa preparado para preveni-los ou, no mínimo, ver aspectos positivos da situação", diz Ellen.

De origem oriental, com técnicas que envolvem meditação, o 'Mindfulness' passou a ser mais bem recebido pelo mundo corporativo recentemente, ganhando visibilidade quando virou objeto de pesquisa na área de neurociência. "Temos uma variedade de estudos científicos que comprovam os resultados das técnicas com aumento da capacidade de atenção, criatividade e engajamento", explica Flora Victoria, presidente da SBCoaching Empresas e vice-presidente e fundadora da Sociedade Brasileira de Coaching.

Uma pesquisa realizada em 2011 em parceria com médicos da Harvard Medical School, do Bender Institute of Neuroimaging, na Alemanha, e da Massachusetts Medical School, associou a prática regular de técnicas de 'Mindfulness' ao aumento da concentração de massa cinzenta nas regiões do cérebro envolvidas nos processos de aprendizado e memória, controle das emoções e desenvolvimento de novas perspectivas.


Francisco Carvalho, vice-presidente de investimentos e captação da instituição financeira Lecca, trabalha uma média de 12 horas por dia, com uma equipe de mais de 20 pessoas. Uma decisão mal tomada ou uma falha de comunicação pode custar à empresa prejuízos milionários. Diante de tanta pressão, o executivo encontrou nas técnicas de 'Mindfulness' uma válvula de escape para as tensões e uma alternativa mais saudável para manter o foco e a atenção. "Em um momento de mudança na vida pessoal, procurei o treinamento e aprendi a meditar e a usar a respiração a meu favor. Com o tempo, percebi que o controle que comecei a ter dos meus pensamentos também era muito útil para o meu dia a dia no trabalho", explica.

O executivo afirma que sua produtividade aumentou no momento em que aprendeu a ser mais focado e a dar prioridade às tarefas. "Além de me sentir mais disposto, a relação com as pessoas melhorou muito", diz. Para quem acha que não tem tempo para desenvolver esse lado ou está esperando o momento ideal para começar, Carvalho aconselha que a melhor hora é agora. "O mínimo já faz diferença. Exercícios curtos e diários de respiração prolongada podem entrar na rotina de qualquer um", afirma.

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Fonte: Valor Econômico

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