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Line, concorrente do WhatsApp, cresce fora do Japão

No seu mercado de origem, o Japão, o aplicativo para smartphones Line ganhou dezenas de milhões de usuários ao combinar as mensagens de bate-papo com aqueles ícones de emoções ("emoticons") bonitinhos, tais como o Moon, um personagem sorridente com cara de lua, de bochechas rosadas. Mas quando o app da Line chegou ao Brasil, em 2013, o Moon não teve lá uma recepção muito calorosa dos brasileiros. A Line, então, trocou a aparência do bonequinho por uma de "machão", deu fim ao seu sorriso, definiu seus músculos e acrescentou gírias brasileiras ao seu vocabulário nos balões de desenho em quadrinhos. Sua popularidade disparou.

A reforma brasileira do Moon mostra porque o Line é um forte competidor, juntamente com o americano WhatsApp e o chinês WeChat, na batalha global pelo domínio dos smartphones.

Os chamados aplicativos de comunicação, que oferecem mensagens de texto e chamadas de voz e vídeo gratuitas nos celulares via internet, já atraíram centenas de milhões de adeptos, que os usam para bater papo com amigos e trocar de tudo, desde fotos e vídeos até emoticons como o Moon. A popularidade desses aplicativos já atraiu a atenção de gigantes da internet, inclusive o Facebook Inc., que em fevereiro comprou o WhatsApp por US$ 16 bilhões.

O Facebook e outras empresas veem os aplicativos de mensagens como um canal para chegar aos 1,5 bilhão de usuários de smartphones no mundo todo, num momento em que as pessoas estão cada vez mais acessando a internet pelo celular. O Line já está usando seu canal para oferecer uma ampla variedade de serviços aos usuários. Também está se revelando capaz de adaptar esses serviços de modo a entrar em mercados onde nenhuma empresa asiática de internet teve sucesso até agora.

"Vemos o Line como um portal para o smartphone", diz Takeshi Idezawa, diretor de operações da Line Corp. "Países como os Estados Unidos são prioridades para nós."

Fora da Ásia, o Line ganhou força na Espanha, onde os consumidores, às voltas com anos de crise econômica, buscam reduzir sua conta de telefone. No ano passado, o Line fechou parcerias de marketing com os dois maiores clubes de futebol espanhóis e criou emoticons que representam os jogadores dos times. O Line informa que tem 16 milhões de usuários registrados na Espanha - país com cerca de 24 milhões de usuários de smartphones, segundo dados de 2013 da firma de pesquisas comScore.

O Line seguiu depois para a América Latina e, só no México, afirma já ter 10 milhões de usuários registrados. Partindo dessa posição, o Line iniciou, no mês passado, sua primeira grande campanha publicitária de televisão nos EUA, nas redes Telemundo, Univision e outras voltadas para a audiência hispânica.

O Line foi criado no Japão em 2011 por uma unidade da empresa sul-coreana de internet Naver Corp. Os adolescentes o usam para paquerar; os professores, para se comunicar com os pais de alunos, e os serviços de emergência, para alertar sobre desastres naturais. Mas o Line também já se ramificou em áreas que têm sido dominadas por empresas como Google Inc., Apple Inc., eBay Inc. e Facebook - incluindo jogos, comércio eletrônico, marketing digital e telefonia via internet.

"Se você olhar o Line, verá que eles estão construindo, basicamente, uma empresa de serviços ao consumidor", disse Jerry Yang, um dos fundadores do Yahoo, numa conferência recente.

Com cerca de 175 milhões de usuários ativos mensais no mundo, segundo estimativas de analistas do banco BNP Paribas, o Line está atrás do WhatsApp, que afirma ter 465 milhões, e do WeChat, que pertence à firma chinesa de internet Tencent Holdings Ltd. e alega ter 355 milhões. Mas o WeChat ainda é sobretudo um fenômeno chinês, enquanto o Line informa que 85% dos seus usuários são de fora do Japão, de países como Tailândia, Taiwan e Indonésia.

"É uma corrida entre três empresas e ainda estamos na fase da conquista de território", diz Eric Cha, analista da Nomura.

Até agora, o que mais distingue o Line dos concorrentes é seu poder de gerar lucro. No ano passado - seu segundo ano completo de existência -, o Line, que tem capital fechado, gerou uma receita de 51,8 bilhões de ienes (US$ 505,8 milhões), comparado com o faturamento de US$ 20 milhões do WhatsApp. A Tencent não divulga a receita exata do WeChat, mas informou que o aplicativo gerou entre 200 milhões e 300 milhões de yuans (US$ 32 milhões a US$ 48 milhões) no quarto trimestre de 2013.

Embora os fundadores da WhatsApp afirmem que querem manter o serviço livre de anúncios, joguinhos ou "artifícios", o Line ganha dinheiro com uma ampla gama de serviços. Perto de 60% da receita do trimestre encerrado em dezembro veio da venda de itens em jogos para celular, enquanto 20% veio da venda de adesivos, figurinhas digitais que custam cerca de US$ 1 por um pacote com 40. Além de tudo isso, diversas empresas, como Coca-Cola Co., usam contas oficiais pagas do Line para promoções de marketing.

À medida que novos serviços vão sendo acrescentados, "temos a certeza de que a composição da nossa receita vai mudar drasticamente no futuro", diz Idezawa.

Segundo alguns analistas, a abordagem mais ampla do Line - assim como do WeChat e do KakaoTalk, um aplicativo menor da Coreia do Sul -, pode ajudar essas empresas a crescer mais do que os aplicativos que se concentram apenas em mensagens.


Fonte: The Wall Street Journal

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