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No Alasca, brasileira está perto de alcançar marca incrível no alpinismo

Ana Elisa Boscarioli embarcou no início do mês para o Alasca para tentar subir o Monte Mckinley (6.194 m), o último que falta para ela completar o projeto Sete Cumes. Se conseguir, se tornará a primeira mulher brasileira a alcançar o topo dos maiores picos de cada um dos sete continentes. Aos 48 anos, a cirurgiã plástica leva na bagagem a experiência de ter vencido o desafio de 8.848 metros do Everest e por ter superado o trauma de ter sido sequestrada por milícias na Papua Nova Guiné, quando tentava escalar a Pirâmide Carstensz (4.884 m).

O hobby se tornou algo tão importante em sua vida que hoje ela é uma das referências no País em escalada de grandes altitudes e tem um currículo invejável. Além disso, consegue conciliar a vida profissional em uma clínica e as tarefas de casa - ela tem uma filha de 13 anos. "Tenho uma clínica, faço meus horários, treino aos finais de semana e durante a semana tento escapar e me organizar para treinar. Montanha não é só preparo físico, é mente também. É determinação e foco", explica a médica, que começou a praticar o esporte aos 33 anos e ficou sete anos praticando.
 
Sua paixão foi aumentando à medida que a altitude ficava maior. Aos 40 anos, assumiu o maior desafio ao escalar o Everest, se tornando a primeira mulher brasileira a conseguir tal feito. "Foi um sonho, e na hora que acaba fica um vazio tão grande que imediatamente veio o projeto Sete Cumes. A partir daí, quis tentar subir em todos os maiores picos de cada continente", diz. Ela teve de abrir mão de muita coisa por causa dos objetivos, incluindo optar por não ter mais filhos. Só para se ter uma ideia, nessa viagem ao Everest ela ficou 70 dias longe de casa.

"Minha filha fica super orgulhosa e conta na escola que a mãe dela foi a primeira mulher brasileira a escalar o Everest. Mas hoje em dia ela já pergunta se existe algum risco na próxima montanha."

Um dos momentos mais tensos que ela já teve foi na Papua Nova Guiné, na primeira vez que tentou escalar a Pirâmide Carstensz, uma região de população aborígene e que existem muitas disputas entre as tribos. "Para fugir das vias onde tinham disputas por território, nossa expedição optou por ir por outro caminho mais rústico. Mas nos deparamos com uma milícia, que veio cobrar pedágio da gente. Nós estávamos com alguns nativos, mas não adiantou. Eles queriam 20 mil dólares de cada um e nós éramos umas dez pessoas", lembra.

Todos foram revistados em busca de armas, mas os guerrilheiros pegaram todos os passaportes dos alpinistas. "No final, chegamos a um acordo de 3 mil dólares para que devolvessem o nosso passaporte e não pudemos continuar. Eles estavam muito agressivos, com facão e arco e flecha. No ano seguinte, fui com um grupo de brasileiros, entramos pelo mesmo lugar, numa expedição menor, e tinha um alemão que falava a língua dos nativos, que nos acompanharam até a montanha. Lá a gente caminhava com água na canela, muita chuva, sem trilha, no meio do mato. É uma área muita remota", conta.

Agora Ana Elisa está a caminho da única montanha que conseguiu derrotá-la. Em 2007, ela participou de uma expedição e ficou a poucos metros do pico, mas acabou tendo de recuar por causa das condições climáticas e para preservar sua integridade física. "Faltava pouco, era só a pontinha final, tinha de dar a volta no cume, mas estávamos escalando a 8 ou 10 horas, vento aumentando, tempo piorando, era um grande risco. Voltamos por segurança. Montanha é assim. Também tive um princípio de congelamento na ponta dos dedos, foi uma escalada muito difícil. Acho que é a pedra no meu sapato", afirma.

Para não deixar o sonho escapar, ela fez uma preparação na altitude em Arequipa, no Peru, treinando trekking e mountain bike. A aclimatação foi excelente e depois ela deixou São Paulo com destino a Ancorade, no Alasca. Depois ainda pegou um avião que pousa no gelo, para iniciar a caminhada para o Denali. Ana Elisa está na companhia de alguns norte-americanos. A previsão é que a expedição tenha sucesso nos próximos dias, se as condições climáticas ajudarem. Se alcançar mais uma vez o topo do mundo, ela já pensa em traçar novos planos. "Vai dar vontade de fazer mais um projeto, não sei se consigo ficar longe de montanha", conclui.

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Fonte: O Estado de S. Paulo

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