post image

Chefe durão sai da moda

Quando se trata de chefes, qual é o limite da falta de flexibilidade? Em uma época onde o padrão no ambiente de trabalho é de cooperação e consenso, ser um líder intransigente é mais arriscado do que costumava ser, de acordo com executivos e pesquisadores sobre liderança. A repentina demissão este mês da editora executiva do jornal americano "New York Times", Jill Abramson — que tinha fama de ser uma gestora direta e dura —, alimentou discussões sobre o quanto um líder moderno deve suavizar seu estilo para ser eficaz.

Cerca de 20 anos atrás, chefes implacáveis como o ex-presidente do conselho da Sunbeam Corp., Albert Dunlap, conhecido como "Motosserra Al", administravam empresas sem nunca suavizar suas ações. Hoje, tais táticas devem ser adotadas com cautela, diz Robert Sutton, professor da Universidade de Stanford e autor de livros sobre o relacionamento entre patrões e empregados como "The No A—hole Rule: Building a Civilized Workplace and Surviving One That Isn't"("Sem regra idiota: Construindo um ambiente de trabalho civilizado e sobrevivendo a um que não é", em tradução livre) e "Bom chefe, mau chefe – Como ser o melhor e aprender com o que há de pior" (editado no Brasil pela Editora Bookman).

"Entre os gestores de nível médio, [ser agressivo] provavelmente é útil para alavancar sua carreira, mas você precisa desenvolver sua personalidade à medida que fica um pouco mais velho", diz Jim Lillie, diretor-presidente do conglomeradoJarden Corp., cujas marcas incluem a Mr. Coffee, Crock-Pot e os equipamentos para camping Coleman.

Os chefes também têm que estar cientes que seus papéis são cada vez mais públicos, com as redes sociais e as comunicações eletrônicas expondo questões que antes ficavam dentro da empresa, diz Sir Martin Sorrell, diretor-presidente da agência de publicidade WPP  PLC, com sede em Londres. "Agora, tudo o que você escreve, tudo o que você diz, você tem que pensar para que não vá parar na capa do The Wall Street Journal."

Depois que o diretor-presidente da AOL, Tim Armstrong, demitiu um subordinado durante uma teleconferência em agosto passado com uma unidade empresa, a Patch, uma gravação em áudio foi rapidamente disponibilizada on-line, gerando revolta contra a demissão. Armstrong depois pediu desculpas sobre a forma como demitiu o funcionário, ressaltando as "situações difíceis" que surgem quando se promove a reestruturação de uma companhia.

Em outro incidente, este ano, Armstrong citou o custo com "bebês estressados" como um fator das mudanças no plano 401 (k) da AOL e provocou controvérsia, desculpas públicas e uma reversão das mudanças. Um porta-voz da AOL não quis comentar nem disponibilizar Armstrong para conceder uma entrevista.

Paradoxalmente, os trabalhadores afirmam que valorizam a gentileza em seus chefes, mas preferem, contudo, líderes que os desafiam.

Uma pesquisa realizada em setembro pela empresa de gestão Kronos Inc. descobriu que 40% dos entrevistados listaram "compaixão" como um dos mais importantes atributos de um bom gestor.

Quando questionados sobre escolher entre um chefe exigente e com alto grau de realização e outro gentil, mas ineficaz, 75% optaram pelo primeiro.

Alguns líderes, como o ex-diretor-presidente da General Electric Co., Jack Welch, cultivaram uma reputação de inflexibilidade. Welch ganhou o apelido de "Nêutron Jack" no início dos anos 80 por transferir para fora dos Estados Unidos algumas operações e demitir milhares de trabalhadores.

Mas Welch equilibrava sua fúria com justiça, respondendo a questões de trabalhadores de todos os níveis durante reuniões e promovendo rapidamente aqueles com melhor desempenho independentemente da idade, diz Sydney Finkelstein, professor de gestão na Faculdade de Administração Tuck, do Dartmouth College.

No "New York Times", as razões específicas da demissão de Abramson permanecem obscuras. Em nota, o editor Arthur Sulzberger Jr. citou "decisões arbitrárias, falta de consulta aos colegas, comunicação inadequada e tratamento desrespeitoso de colegas em público". Abramson não pôde ser encontrada para comentar.

Daniel Hamburger, que supervisiona cerca de 14.000 funcionários como diretor-presidente do DeVry Education Group,  diz que hoje não existe mais espaço para autoritarismo nas empresas. "Existe muito mais necessidade de genuinidade, autenticidade e respeito."
Sutton, de Stanford, descreve dois tipos de "idiotas" no mundo empresarial: aqueles que humilham e desmotivam os colegas e aqueles que colocam suas próprias necessidades acima das da companhia.

Quando os chefes precisam que as coisas sejam feitas, gritar ou olhar irritado para os subordinados pode ser a coisa certa fazer, dependendo da cultura da empresa, e isso está entre o "leque de técnicas que você pode usar como gestor", diz Sutton.

Mas algumas companhias estão se posicionando formalmente contra os idiotas. O diretor-presidente do Netflix Inc.,  Reed Hastings, afirmou que a empresa não precisa de "idiotas brilhantes" em uma apresentação publicada on-line. Segundo ele, o "custo efetivo para a equipe é muito elevado".

Uma pesquisa realizada por Victoria Brescoll, professora assistente de comportamento organizacional da Faculdade de Administração da Universidade Yale, mostra que mulheres furiosas no ambiente de trabalho são percebidas mais negativamente que os homens. Carly Fiorina, que foi diretora-presidente daHewlett-Packard Co.  por seis anos e liderou uma fusão controversa com a Compaq Computer Corp., diz que as mulheres que ocupam cargos de liderança são mais criticadas que os homens. "O que é considerado como 'apropriadamente exigente' em um homem é interpretado como rude em uma mulher", diz ela.


 
Fonte: WSJ

Compartilhar

Permito o uso de cookies para: