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Cérebro de homens e mulheres reage a medicamentos de maneira diferente

As diferenças de gênero na resposta do organismo às medicações são muitas vezes negligenciadas em testes clínicos. Nos Estados Unidos, até meados dos anos 90, praticamente não havia voluntárias em estudos que avaliavam novos medicamentos. No entanto, elas são as principais pacientes: recebem quase duas vezes mais prescrições de remédios psicotrópicos (que alteram a química cerebral) que os homens. Pesquisas sugerem que hormônios femininos e diferenças na composição corporal e no metabolismo podem torná-las mais sensíveis a certas drogas. Não por acaso, mulheres são 50% a 75% mais propensas a manifestar efeitos colaterais.

No ano passado, a Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA) anunciou as primeiras diretrizes para dosagem de medicamentos de acordo com cada sexo. O efeito do indutor de sono Ambien, por exemplo, é duas vezes mais potente nas mulheres. Algumas evidências sobre como alguns fármacos agem de acordo com o sexo:

Antidepressivos
Vários estudos sugerem que as mulheres respondem melhor a inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS). Já os homens parecem se adaptar mais aos tricíclicos.
Alguns antidepressivos são mais potentes no sexo feminino. A eficácia de uma droga é afetada pelo grau em que ela se liga a proteínas no plasma sanguíneo. Quanto menos ligante a droga for, melhor ela pode transpor a membrana celular ou se difundir. O sangue das mulheres tem, em geral, menos capacidade de ligação, o que significa que as proteínas sanguíneas “limpam” menos substâncias estranhas. Se forem administrados com outras drogas, antidepressivos tricíclicos (como a amitriptilina) podem ficar em excesso na corrente sanguínea, o que aumenta a chance de efeitos colaterais. Além disso, o estômago das mulheres é menos ácido, de maneira que os ISRSs podem ser absorvidos mais rapidamente, o que aumenta sua toxicidade. A gordura corporal das mulheres é outro fator que pode manter os antidepressivos no corpo por mais tempo – de maneira que a chance de efeitos colaterais com doses menores é maior.

Ansiolíticos
Como no caso dos antidepressivos, o meio estomacal menos ácido das mulheres absorve a medicação mais rapidamente – de maneira que doses padronizadas são potencialmente mais tóxicas para elas.
Os rins dos homens filtram os componentes das drogas mais rápido. Assim, mulheres devem esperar mais tempo entre uma dose e outra, especialmente benzodiazepínicos.
Benzodiazepínicos, aliás, são planejados para ser solúveis em lipídios e atravessar a corrente sanguínea em direção ao cérebro. Assim, a maior gordura corporal das mulheres aumenta as chances de o remédio permanecer mais tempo no organismo, tornando-as mais vulneráveis a sua toxicidade.

Analgésicos
Prescritos para combater dores crônicas e dores agudas intensas, os medicamentos opioides, como a morfina, são mais eficientes em mulheres. Isso ocorre provavelmente porque o hormônio estrogênio, que oscila durante o ciclo menstrual, é importante na modulação do sistema opioide endógeno.
Homens são mais propensos a se automedicar com doses exageradas de analgésicos. Mulheres, porém, têm mais dificuldade em deixar de usá-los. Uma vez dependentes, são mais propensas à recaída, particularmente na metade do ciclo menstrual, quando os níveis de glicose no cérebro estão mais baixos, o que compromete o autocontrole.

Indutores de sono
A maioria das drogas psicotrópicas é metabolizada no fígado. O organismo masculino metaboliza o Ambien e outros indutores de sono com mais rapidez, de maneira que as mulheres costumam apresentar mais quantidades do medicamento no corpo na manhã seguinte, o que pode prejudicar o desempenho em tarefas que exigem atenção, como trabalhar e dirigir.

Anticonvulsivantes
Abundante no fígado e no intestino e especialmente ativa em mulheres jovens, a CYP3A4 é uma enzima importante para o funcionamento do organismo. Ela oxida moléculas estranhas, como toxinas e drogas, de maneira a removê-las do corpo. Algumas substâncias são ativadas por essa enzima, mas outras são desativadas: é o caso dos anticonvulsivantes, que costumam ter menos eficácia nas mulheres. Estudos preliminares sugerem que a velocidade das reações catalisadas por enzimas difere em homens e mulheres, o que afeta a resposta a medicamentos de forma geral.

Antipsicóticos
Exemplares da primeira geração, como o haloperidol, parecem ser mais eficazes para controlar alucinações em mulheres. Homens necessitam de doses maiores para responder ao tratamento.


Fonte: Mente e Cérebro

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