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Paladar de crianças em idade escolar começa a ser moldado desde os seis meses

A preferência de algumas crianças em idade escolar por guloseimas açucaradas e aquela cara feia para frutas e verduras podem ter origem na primeira infância. É o que revela uma série de estudos publicada no jornal científico Pediatrics, dos Estados Unidos, que relacionou diretamente os hábitos alimentares de crianças na faixa etária dos seis anos com a dieta que lhes era oferecida quando bebês. Os dados indicam que os padrões de alimentação dos pequenos persistem por muito mais tempo do que era imaginado.

— Quando bebês consumiam poucas frutas e legumes, a atitude se estendia até os seis anos — diz Kelley Scanlon, do Centro para Controle e Prevenção de Doenças e uma das autoras dos estudos.

Pesquisadores analisaram as dietas de cerca de 1,5 mil crianças de seis anos, comparando seus padrões alimentares com aqueles observados em um estudo que as acompanhou até completarem seu primeiro ano.

Especialistas garantem que uma dieta de frutas, verduras e legumes, quando inserida a partir dos seis meses, diminui bastante o risco de futuras doenças, que podem se manifestar na infância e na fase adulta.

— Sabe-se, por meio de estudos, que crianças com uma alimentação adequada têm um QI maior do que as mal alimentadas — diz Manoel Antônio Ribeiro, membro do Comitê de Neonatologia da Sociedade de Pediatria do RS.

Segundo dados do IBGE, 15% das crianças entre cinco e nove anos são obesas no país. Esse cenário alerta pais e responsáveis para a importância de fazer um planejamento alimentar desde cedo. A nutricionista maternoinfantil Ana Carolina Terrazzan explica que, quanto mais tarde itens como doces e guloseimas forem oferecidos para os pequenos, menos atração vão exercer sobre eles, já que o nosso paladar é construído pelos hábitos alimentares. Se você acostumá-los a tomar água desde cedo, por exemplo, a ingestão da bebida será um processo natural nas demais fases da vida.

— Adultos raramente têm o hábito de consumir água. Geralmente eles tomam muito suco ou refrigerante. Hoje a gente tenta trabalhar com as crianças para que elas tomem muita água, desde o momento da introdução alimentar, para que criem o hábito — declara Ana Carolina.

Do amassadinho às garfadas

Na prática, o que significa uma alimentação adequada para as crianças nos primeiros anos de vida? Preste atenção às dicas da nutricionista Ana Carolina Terrazzan.

AOS SEIS MESES

— A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é pela manutenção do aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida e complementar até os dois anos ou mais.

— A alimentação sólida deve começar a ser introduzida pelo sexto mês, pelas frutas. A sugestão é de que sejam amassadas, sem liquidificar e sem peneirar. Tente ofertar somente frutas orgânicas. A introdução deve ser gradual, primeiro uma vez pela manhã. Após alguns dias, dê uma fruta também no período da tarde. Não deixe de insistir. Algumas crianças podem relutar um pouco, mas se acostumam.

— Após três semanas, é hora de partir para o almoço. Ele tem de contemplar leguminosas (feijão, lentilha, grão de bico), proteínas (carne de gado, frango, peixe, porco, ovos), folhas (couve, espinafre, folha de mostarda, acelga, repolho), legumes (como cenoura, beterraba, abobrinha, berinjela) e cereais, tubérculos e raízes (arroz, macarrão, batata, mandioca).

— A carne deve ser bem cozida. Após o cozimento, ela deve ser desfiada e esfarelada com a faca. A recomendação é servir os alimentos amassados e separados no prato, pois a oferta individual é importante para a criança conhecer o sabor e a textura de cada alimento. No início do sétimo mês, ofereça o jantar.

— Na pirâmide alimentar infantil, a água é a base de tudo. Não economize no líquido desde os seis meses.

A PARTIR DE OITO MESES

— Entre oito e nove meses, começa-se a dar alimentos em pedaços, a cortar os vegetais em frações menores do que os adultos e a não amassar arroz e feijão. A criança deve chegar a um ano tendo a mesma refeição da família, mas com os pedaços adequados ao tamanho da boca, sem amassar.

— Aconselha-se pouco sal e controlar as gorduras. É muito mais fácil tirar o sal da alimentação da família e oferecer a mesma comida para a criança, do que fazer tudo separado. Para o bebê de seis meses, o sal é zero. Às crianças de um ano, a recomendação é uma pitadinha

— Leite de vaca e seus derivados não são indicados no primeiro ano de vida. O cálcio do leite pode prejudicar a absorção de ferro e provocar anemia. Além disso, o leite de vaca tem muitas proteínas que podem causar alergias às crianças. Após o primeiro ano, pode ser oferecido de maneira lenta e gradual, sempre testando a aceitação do bebê.

DEPOIS DE UM ANO

— O café da manhã deve começar a fazer parte da rotina da criança, mesmo para aquela que ainda mama no peito. Pode ser oferecido um pedaço de pão, outro de queijo e uma fruta. Monta-se um pratinho para que a criança interaja mais com a família.

— Caso a família opte por começar a introduzir leite de vaca e derivados, entre 500ml e 600ml é o suficiente. Um copo de 200ml pela manhã, outro à tarde e mais um à noite.

— Nessa fase, é natural que a criança perca um pouco o interesse pela comida. Isso acontece em função das transformações naturais pelas quais ela passa nesse período, como começar a andar e a falar. É preciso que se converse com a criança, explique para ela que aquele momento é de almoço e que, se ela não quiser comer naquela hora, terá de esperar a próxima refeição.

— Muitas vezes a criança não quer comer porque percebe que a refeição dos demais membros da família é diferente. Por isso a importância de todos terem a mesma. Ter uma referência e um exemplo é fundamental para as crianças.

MAIS DE QUATRO ANOS

— Muitas crianças, por volta dos quatro ou cinco anos, entram em uma fase em que voltam a recusar a comida. É importante que nessa idade elas sejam levadas para as atividades pré-preparação dos alimentos. Isso inclui, por exemplo, ir ao supermercado com os pais.

— Ela deve também ir para a cozinha acompanhada por um adulto para participar da preparação.

— No supermercado, é preciso haver uma negociação antes sobre o que vai ser comprado. Se o filho quer comprar um chocolate, por exemplo, é preciso que sejam combinados antes os horários em que ele vai poder comer o chocolate.

— É necessário, também, que os pais cumpram aquilo que foi acordado com a criança.

Fonte: Zero Hora

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