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Dores físicas e emocionais têm efeitos parecidos no cérebro

“Achei que ia fazer xixi e desmaiar. Não chorei porque não conseguia chorar. Foi quando a mulher enfiou o alicate lá no fim da unha. Foi uma dor rápida, mas bem forte, uma das piores que já senti”. Essa é a descrição da estudante de arquitetura Maria Luiza de Souza, 22, sobre sua experiência em uma podóloga para desencravar uma unha.

“Você vai bater o carro e vai matar todo mundo”, avisou a mãe da jornalista Thaís Helena Amaral, 25, enquanto as duas corriam na estrada para tentar salvar Simba, o pet que ela tinha desde os 9 anos. Em vão: morreu no colo da mãe. “Chorei até dormir. Nos dias seguintes, via ele em todos os lugares. É uma dor que esmaga dentro do peito, como se tivesse levado um soco”, conta Thaís.

Os relatos de Maria Luiza e Thaís são diferentes. Um retrata uma dor física e outro uma dor emocional. No entanto, recentes pesquisas de neuroimagem mostram que ambas ativam as mesmas regiões cerebrais relacionadas a dor.

“Existe um paralelo entre esses dois tipos de sensação. A dor de quem leva o fora da namorada produz uma sensação análoga à dor de quem martela o dedo”, explica Daniel de Barros, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Um dos primeiros a demonstrar isso foi Ethan Kross, da Universidade de Michigan. Ele e seus colegas analisaram 21 homens e 19 mulheres que haviam sido dispensados pelo parceiro. Os voluntários passaram por testes de ressonância magnética durante duas tarefas: ao segurar um copo de café quente e ao olhar para fotos de seus antigos amores. As regiões do cérebro ativadas foram as mesmas. “Isso mostra que aquela história de dor na alma não é metáfora, é dor mesmo”, diz Barros.

Uma pode levar à outra, inclusive. Quem passa por traumas psicológicos pode desenvolver quadros depressivos, que aumentam o risco da pessoa ter outras doenças, como a fibromialgia, uma síndrome que provoca dores por todo o corpo.

Além disso, a mesma lesão pode causar reações diferentes conforme a situação. É o caso de um jogador de futebol quando se machuca no calor da partida e continua em campo. A adrenalina do jogo faz com que o atleta não sinta a dor como a sentiria em repouso. “A dor está no meio do caminho, numa interação constante entre mente, ambiente e corpo”, afirma Sander Fridman, psiquiatra do Centro Médico Adventista Silvestre, do Rio de Janeiro.

As duas dores, física e emocional, ainda compartilham algo intrínseco: a nocividade. “Elas sinalizam algo ameaçador, algo a ser evitado. É assim quando você pisa em um espinho, e é assim com um abatimento emocional grande. Você não deve continuar desse jeito, seja com o pé no espinho, seja com uma depressão prolongada”, explica Barros.

Fonte: Estadão

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