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Gravidez e corrida combinam bem

Existe um excesso de mitos sobre gravidez e esporte. Muitas mulheres, por mais que neguem, agem como se gestação fosse doença. Têm piripaques por qualquer bobagem e veem exercício como ameaça. Ao vermos a ultramaratonista Rosalia Camargo Guarish, grávida de cinco meses, continuar a exibir excelente forma e não abandonar os exercícios, podemos pensar mais sobre o assunto, já que muito do que tem valido para ela é igualmente verdade para qualquer mulher, atleta ou não.

A professora de ginecologia e obstetrícia da Unifesp e médica do Hospital Israelita Albert Einstein, Tathiana Parmigiano, destaca que já faz três anos que a recomendação oficial vigente nos EUA é de que toda grávida deve fazer exercícios diários, inclusive as sedentárias. Salvo, óbvio, os casos especiais de gestação de risco. E por exercício diário se pode entender corrida e natação, por exemplo. Bicicleta só a estacionária — ergométrica ou o simples rolo — não pelo exercício, mas pelo risco de quedas.

Rosália, campeã dos 50K do Circuito XTerra de 2014, apenas adaptou sua rotina. Mas não parou. Deixou temporariamente as trilhas, pelo mesmo risco de quedas do ciclismo, mas anda a ritmo acelerado todos os dias de casa, no Leblon, para o trabalho, na Urca. O que dá aproximadamente cerca de dez quilômetros na ida e outros tantos, na volta.

Tathiana, que deu à luz recentemente, igualmente se exercitou durante toda a gestação. E a primeira coisa que ela destaca é justamente o primeiro trimestre.

— Existe um mito de que não se pode fazer exercícios no primeiro trimestre da gestação. Mas isso não encontra o menor fundamento em estudos científicos. É preciso ter alguns cuidados e não fazer excessos. E só — destaca Tathiana.

Igualmente sem fundamento em evidências científicas é a proibição de correr na gravidez.

— Claro que são necessárias moderação e orientação médica. E quem nunca correu não deve começar justamente quando está grávida. Mas para quem já corre, não há problema, desde que se reduza a intensidade e se fortaleça o assoalho pélvico, muito sobrecarregado durante a gestação — afirma a médica.

Segundo ela, as sedentárias devem se exercitar pelo menos meia hora por dia. Quem já corre, ainda mais.

— Há cuidados, mas não proibições. Grávidas, por exemplo, estão mais sujeitas a entorses (torções) e quedas (pela alteração do centro de gravidade). Por isso, precisam ficar atentas a esses aspectos. Mas não há nada que precisam ficar restritas à atividades muito leves, como a hidroginástica e a caminhada — observa Tahiana.

A experiência de Rosália evidencia isso. Aos 36 anos e após cumprir todas as metas de competições de 2014, queria engravidar. Um filho era o sonho dela e do marido André Guarish, também ultramaratonista.

— A vida de atleta é apaixonante. Viagens, desafios, treinamento... Tudo é encantador e viciante. Mesmo vivendo essa rotina dos sonhos, um dia eu me vi pensando em aumentar a família, e aos poucos fui organizando minha vida.

Mas, devido à sobrecarga dos treinamentos para provas longas, ela temia que não fosse ser fácil.

— Estava com 39 quilos e sabia que o treinamento intensivo e as provas de 80, 168 quilômetros não podiam ser consideradas saudáveis. Ultramaratonas sempre te levam ao limite. Mas tudo aconteceu no tempo certo. Foram 2 meses de muita ansiedade... Até que fiz o teste e deu positivo!

Ela mudou a rotina mais pesada das ultras, mas não parou. E espera voltar aos treinos mais intensos logo após o nascimento de Maria, em junho.

— Tenho certeza que em breve estarei de volta — diz Rosália.

Seria bem mais interessante vermos menos grávidas arrastando os pés, comendo sem parar e reclamando que estão pesadas, quando na verdade podem estar apenas desinformadas sobre o literal peso da gravidez em suas vidas.

Fonte: O Globo

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