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É melhor cortar o mal pela raiz e não esperar para demitir

Dez dias atrás, uma até então desconhecida adolescente texana chamado Cella digitou uma mensagem no Twitter que dizia "começo nessa droga de emprego amanhã" e que logo ganhou meia dúzia de curtidas. Alguém mostrou a mensagem para o gerente da pizzaria que havia acabado de contratar a garota, que tuitou de volta: "Você não vai mais começar nessa droga de emprego! Acabo de demitir você. Boa sorte com sua vida sem emprego e sem dinheiro!".

A julgar pela reação on-line, a maioria das pessoas com menos de 25 anos vê Cella como uma heroína. Ela estava exercendo seu direito de liberdade de expressão. Não citou o nome da pizzaria e, portanto, foi um absurdo ela ter sido demitida por causa disso. Já a maioria das pessoas com mais de 25 anos adotou um ponto de vista totalmente contrário. Elas acham que a jovem se comportou como uma criancinha mimada e mereceu o que teve.

Mesmo assim, os dois lados concordam que ser demitido antes mesmo de começar a trabalhar é algo bastante significativo. O Twitter parece ter mudado para sempre a maneira como trabalhamos. Mas, em uma análise mais atenta, é possível notar que ele não mudou nada, apenas acelerou um pouco as coisas - o que é bom.

Nos velhos tempos, a garota provavelmente teria sido demitida assim que começasse a destratar os clientes. Ao acabar com a agonia antes mesmo de ela começar, a pizzaria saiu ganhando, assim como aqueles que seriam colegas de trabalho de Cella - ninguém gosta de trabalhar com uma pessoa tão resmungona a ponto de começar a fazer isso antes mesmo de ter motivos. Até mesmo a garota tirou algo disso (além da fama instantânea e breve), uma vez que foi poupada de um emprego que ela já havia decidido odiar.

A única coisa errada com o tuíte do gerente da pizzaria foi sua grosseria. Ele criou a situação, pois contratou a pessoa errada - e ao se livrar dela deveria ter admitido seu erro e pedido desculpas.

Todos os gestores, mesmo os mais experientes, contratam pessoas incorrigíveis. Isso não surpreende, uma vez que é muito difícil saber quem uma pessoa é antes de ela começar a trabalhar. O surpreendente é o tempo que o machado leva para cair sobre aqueles que não se encaixam. Os gestores adiam essa decisão por três motivos poderosos: eles se apegam à vã esperança de que a pessoa vai mudar (ela quase nunca muda); eles relutam em admitir que fizeram uma escolha errada; e eles recuam diante da situação desagradável que é demitir alguém.

Na semana passada, estive com um ex-CEO de uma empresa que é conhecido por ter contratado alguns dos mais bem-sucedidos executivos do Reino Unido. Ele me disse que não era melhor no processo de seleção do que qualquer outra pessoa - de cada cinco pessoas que contratava, uma se mostrava genial, três eram boas e uma era terrível. Ele, na verdade, se considerava bom mesmo era na velocidade com que demitia os ruins.

Seu momento de maior orgulho foi demitir um executivo sênior após apenas um dia de trabalho. Horas depois de esse homem começar, uma fila se formou diante da porta da sala do CEO, com as pessoas reclamando do estilo ofensivo do novato. Na hora do chá, ele resolveu agir. Disse ao homem que cometeu um erro, pediu desculpas, deu a ele algum dinheiro e o dispensou. Na época não havia Twitter. Essas coisas não se tornavam públicas e os ânimos não se exaltavam.

Quando algo dá errado, não é apenas o empregador que fica sabendo de imediato. Recentemente, um conhecido meu aceitou uma proposta para ganhar o dobro em outra companhia. No fim do primeiro dia de trabalho, ele já estava insatisfeito com as pessoas, com o clima e com a pressão na nova empresa. Na manhã do segundo dia pediu demissão e, nessa mesma tarde, já estava de volta ao emprego antigo.

Não estou dizendo que todo mundo deveria deixar um novo emprego na primeira contrariedade, nem que todas as contratações decepcionantes deveriam ser dispensadas imediatamente. É que quando a incompatibilidade é muito grande, o que acontece com uma frequência maior do que você pensa, não existe essa coisa de "rápido demais".

Um homem que conheço foi contratado para o principal cargo de uma empresa dois anos atrás. Ele foi entrevistado por meia dúzia de executivos da cúpula dessa companhia e todos ficaram impressionados com sua inteligência, seu pensamento estratégico e sua aparente sociabilidade. Mas ele acabou se mostrando um desastre. Era arrogante e detestado por todos que se reportavam a ele. Demorou um ano para ser demitido, mas os danos provocados à empresa já haviam sido enormes.

Se alguém tivesse consultado a secretária - que acompanhou o candidato da recepção até a sala de entrevistas -, as coisas poderiam ter sido diferentes. Durante o trajeto para o elevador, ele não a olhou nos olhos nem respondeu aos comentários que ela fez para quebrar o gelo. A secretária sabia que nunca daria certo.

Perguntar a seguranças, recepcionistas e secretárias o que eles pensam dos candidatos faz sentido. Se as avaliações de 360º são uma boa ideia, as entrevistas de 360º são ainda melhores. No primeiro caso, subalternos temerosos evitam dizer a verdade. Já no segundo, eles se apressam para evitar que pessoas desagradáveis e arrogantes consigam o emprego.

Fonte: Financial Times/ Lucy Kellaway
Enviada por JC

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